Série Contos de Fadas
Forçada pela madrasta a ir a um baile, Kate conhece um príncipe... e decide que ele é tudo menos encantado.
Segue-se um esgrimir de vontades, mas ambos sabem que a atração irresistível que sentem um pelo outro não os levará a lado nenhum. Gabriel está prometido a outra mulher
— uma princesa que o ajudará a alcançar as suas ambições implacáveis.
Gabriel gosta da noiva, o que é uma surpresa agradável, mas não a ama.
Obviamente, deve cortejar a sua futura princesa, e não a beldade espirituosa e pobre que se recusa a mostrar-se embevecida.
Apesar das madrinhas e dos sapatinhos de cristal, este é um conto de fadas em que o destino conspira para destruir qualquer oportunidade de Kate e Gabriel poderem ser felizes para sempre.
A menos que um príncipe abdique de tudo o que o torna nobre...
A menos que o dote de um coração indisciplinado triunfe sobre uma fortuna...
A menos que um beijo encantado ao bater da meia-noite mude tudo.
Capítulo Um
Casa Yarrow,
Residência de Mrs. Mariana Daltry, da sua filha Victoria, e de Miss Katherine Daltry.
Miss Katherine Daltry, conhecida praticamente por toda a gente como Kate, desceu do cavalo a ferver de raiva.
Deve dizer-se que esse estado não lhe era estranho. Antes de o pai morrer, sete anos atrás, sentia-se por vezes irritada com a nova madrasta. Mas só depois de ele ter partido e de a nova Mrs. Daltry — que mantivera esse apelido durante uns escassos meses — começar a dar ordens é que Kate aprendeu realmente o significado de raiva.
A raiva estava a ver os arrendatários da propriedade a serem obrigados a pagar a renda a dobrar, ou a deixar as casas em que tinham vivido toda a sua vida. A raiva estava a ver as colheitas a definharem e as sebes a crescerem de mais porque a madrasta dava com relutância o dinheiro necessário para manter a propriedade. A raiva estava a ver o dinheiro do pai a ser esbanjado em vestidos e chapéus novos e coisas supérfluas... Tantas que a madrasta e a meia-irmã não arranjavam dias suficientes no ano para usá-las todas.
Raiva.
Eram os olhares compadecidos que recebia de conhecidos que já não a encontravam ao jantar. Era a ser relegada para um quarto no sótão, com móveis decadentes que anunciavam o valor relativo que ela tinha entre os residentes na casa. Era a aversão por si própria pelo facto de não conseguir abandonar a casa e resignar-se com isso. Era raiva alimentada por humilhação e desespero e pela certeza absoluta de que o pai devia estar a dar voltas no túmulo.
Subiu pesadamente as escadas da frente arregaçando as mangas para a batalha, como o pai teria dito.
— Olá, Cherryderry — disse ela, quando o seu querido velho mordomo abriu a porta. — Agora faz de lacaio?
— Ela Própria mandou os lacaios a Londres chamar um médico — disse Cherryderry. — Para ser exato, dois médicos.
— Está a ter uma crise, não?
Kate tirou as luvas com muito cuidado uma vez que o cabedal estava a separar-se do forro em volta do pulso. Houvera tempos em que podia realmente ter-se interrogado se a madrasta (conhecida entre o pessoal como Ela Própria) fingia estar doente, mas agora já não. Não, depois de tantos anos de alarmes falsos e vozes a gritarem a meio da noite sobre ataques... Que em geral acabavam por ser indigestão.
Embora, como Cherryderry comentara uma vez, uma pessoa possa ter esperança.
— Desta vez não se trata de Ela Própria. É do rosto de Miss Victoria, acho eu.
O Beijo Encantando – Eloisa James
— A dentada?
Ele acenou com a cabeça.
— Está a fazer descair o lábio, disse-nos a criada dela esta manhã. Também tem um inchaço nesse sítio.
Apesar de se sentir amarga, Kate teve um acesso de compaixão. A pobre Victoria não tinha muito a seu favor para além de uma cara bonita e de vestidos ainda mais bonitos; o coração da sua meia-irmã ficaria despedaçado se ela ficasse desfigurada para sempre.
— Tenho de falar com Ela Própria sobre a mulher do vigário — disse ela, entregando a peliça a Cherryderry. — Ou melhor, sobre a mulher do antigo vigário. Depois da morte dele, mudei a família para a casa mais afastada.
— Caso infeliz — disse o mordomo. — Especialmente num vigário. Parece que um vigário não devia pôr termo à vida.
— Deixou-a com quatro filhos — disse Kate.
— Repare bem, não é fácil para um homem ultrapassar a perda de um membro.
— Bem, agora os filhos têm de ultrapassar a perda dele — disse ela com frieza. — Já para não mencionar o facto de a minha madrasta ter mandado ontem uma ordem de despejo à viúva.
Cherryderry franziu o sobrolho.
— Ela Própria diz que a menina tem de ir jantar com elas esta noite.
Kate parou a meio da escada.
— Ela disse o quê?
— Que a menina tem de ir jantar com elas hoje à noite. E Lorde Dimsdale vem jantar.
— Deve estar a brincar, Cherryderry.
Mas o mordomo abanou a cabeça.
— Ela disse isso. E mais, concluiu que as ratazanas de Miss Victoria também têm de ir, mas por qualquer razão exilou-as para o quarto da menina.
Kate fechou os olhos por um momento. Um dia que tinha começado mal só estava a piorar. Detestava a matilha dos cãezinhos da meia-irmã, afetuosamente, ou não tão afetuosamente, conhecidos por toda a gente como as ratazanas. Também detestava Algernon Bennett, Lorde Dimsdale, o noivo da meia-irmã. Sorria com demasiada facilidade. E odiava ainda mais a ideia de se sentar a jantar en famille.
Série Contos de Fadas
1 - O Beijo encantado
1.5 - Storming the Castle - sem ebook
2 - Milagre de amor
2.5 - Winning the Wallflower - sem ebook
3 - The Duke is Mine - idem próximos
4 - The Ugly Duchess
4.5 - Seduced by a Pirate
5 - Once Upon a Tower
5.5 - With This Kiss