Um olhar misterioso...
Quando sir Arthur Ferrer a vê entre os espectadores do Torneio da Noite de Reis, percebe algo de distinto nela.
Talvez seus olhos... Ele já os vira, não se lembrava de quando nem onde.
Ao procurar a mulher misteriosa que o havia hipnotizado, ela desaparece.
Clare fugia de um passado sombrio que jamais revelaria a ninguém. Mas o belo cavaleiro se empenharia em descobrir os segredos guardados em seu olhar.
Capítulo UmJaneiro de 1174 — Chalés na praça dos mercadores de Troyes, Condado de Champagne.
A temperatura estava amena para o mês de janeiro. As janelas tinham sido abertas para iluminar o chalé o máximo possível. Clare ajudou Nicola a se levantar da cama e a levou para o banco à mesa. Com isso ganhou um sorriso de recompensa.
O coração de Clare se enlevou. Nicola estava muito fraca e doente, por isso seus sorrisos eram preciosos.
— Percebi que você recebeu visitas enquanto eu estava no mercado — disse Clare.
Nicola resmungou ao se movimentar e encostar-se à parede de tábuas.
— É verdade. Não foi uma visita qualquer, mas sim de um nobre, que me trouxe um presente. Eu não vou usar, talvez você e Nell gostem. Eu queria contar a você antes de Nell. Não há razão para deixá-la empolgada se você se recusar a ir com ela. Sei o quanto você se preocupa sempre que sai de casa.
— Um presente? — Clare colocou uma manta sobre as pernas de Nicola.
O visitante misterioso, talvez o conde Lucien, tinha feito bem a ela. Havia anos que os olhos de Nicola não brilhavam daquele jeito. Clare esperou que Nicola confirmasse a identidade do visitante. Desde a morte de Geoffrey não havia segredos entre elas.
— Você está confortável? Se a corrente de ar estiver incomodando, posso fechar a janela.
— Não feche não, precisamos aproveitar a luz tão rara nesta época do ano.
Clare tirou o véu que usava sempre que ia ao mercado e o pendurou num gancho, por cima da capa. Os cachos da cor do cobre emolduraram-lhe o rosto. Enquanto trançava os cabelos, olhou para a lareira com o fogo baixo. A fumaça azulada subia na direção de uma abertura no telhado do chalé.
— Quer que eu coloque mais lenha na lareira?
— Clare, não se preocupe, estou bem. Economize a madeira para a noite.
Clare acenou com a cabeça e colocou a cesta que trouxera do mercado sobre a mesa. Dali tirou farinha, queijo, um punhado de peras maduras, cebolas e feijões secos. E graças à generosidade do suserano de Geoffrey, conde Lucien, trouxera também porco salgado e peixe seco.
— E os ovos? — perguntou Nicola.
— Estavam muito caros. Volto amanhã, mas temo que o preço não abaixe até a primavera. — Clare olhou de relance para Nicola. — E então? O que é o presente misterioso?
Nicola alcançou a bolsa em cima da mesa, abriu e jogou uma moeda sobre o tampo de madeira.
— Lorde d’Aveyron esteve aqui de novo.
Toda vez que Clare pensava em Lucien Vernon, conde d’Aveyron, lembrava-se da tolice e da imprudência que Geoffrey havia cometido. Ele tinha feito um pacto maldito com um bando de ladrões. Antes de morrer, Geoffrey havia confessado a Clare sua participação em um roubo para ajudar a mãe. Ela também sabia como ele se arrependera e tentou consertar, mas no momento em que resolvera se livrar do pacto, assinou sua condenação. Os ladrões o mataram.
Não só Clare sabia do conluio de Geoffrey com os ladrões, mas o conde Lucien também. Menos Nicola, que vivia na feliz ignorância do erro fatal do filho. Para Clare era melhor que continuasse assim; por ela, Nicola jamais saberia do que Geoffrey havia feito. Um baque daqueles no estado frágil de Nicola poderia levá-la à morte.
Até aquele dia, o conde Lucien não havia falado nada sobre a transgressão de Geoffrey, mas Clare tinha medo de suas visitas. Geoffrey fora um dos cavaleiros pessoais do conde, que podia deixar escapar alguma coisa.
— Não precisa fazer careta — disse Nicola, empurrando a moeda na direção de Clare. — O conde é um bom homem, que honra a memória de Geoffrey cuidando de mim. Olhe direito, isto não é dinheiro.
Depois de colocar as peras numa tigela ela pegou a moeda; era um pouco maior do que um centavo e tinha sido forjada em prata.
— É algo simbólico.
— Isso mesmo.
O palácio de Troyes havia sido cunhado num dos lados da moeda, e do outro havia a imagem de um cavaleiro portando uma lança. Clare sentiu uma dor no peito e colocou a moeda de volta sobre a mesa.
— Espero que não seja o que estou pensando.
A expressão de alegria do rosto de Nicola se transformou.
— Isso é um convite para assistir ao Torneio da Noite de Reis perto de onde as damas se sentam. Clare, pensei que...
Série Cavaleiros de ChampagneCapítulo UmJaneiro de 1174 — Chalés na praça dos mercadores de Troyes, Condado de Champagne.
A temperatura estava amena para o mês de janeiro. As janelas tinham sido abertas para iluminar o chalé o máximo possível. Clare ajudou Nicola a se levantar da cama e a levou para o banco à mesa. Com isso ganhou um sorriso de recompensa.
O coração de Clare se enlevou. Nicola estava muito fraca e doente, por isso seus sorrisos eram preciosos.
— Percebi que você recebeu visitas enquanto eu estava no mercado — disse Clare.
Nicola resmungou ao se movimentar e encostar-se à parede de tábuas.
— É verdade. Não foi uma visita qualquer, mas sim de um nobre, que me trouxe um presente. Eu não vou usar, talvez você e Nell gostem. Eu queria contar a você antes de Nell. Não há razão para deixá-la empolgada se você se recusar a ir com ela. Sei o quanto você se preocupa sempre que sai de casa.
— Um presente? — Clare colocou uma manta sobre as pernas de Nicola.
O visitante misterioso, talvez o conde Lucien, tinha feito bem a ela. Havia anos que os olhos de Nicola não brilhavam daquele jeito. Clare esperou que Nicola confirmasse a identidade do visitante. Desde a morte de Geoffrey não havia segredos entre elas.
— Você está confortável? Se a corrente de ar estiver incomodando, posso fechar a janela.
— Não feche não, precisamos aproveitar a luz tão rara nesta época do ano.
Clare tirou o véu que usava sempre que ia ao mercado e o pendurou num gancho, por cima da capa. Os cachos da cor do cobre emolduraram-lhe o rosto. Enquanto trançava os cabelos, olhou para a lareira com o fogo baixo. A fumaça azulada subia na direção de uma abertura no telhado do chalé.
— Quer que eu coloque mais lenha na lareira?
— Clare, não se preocupe, estou bem. Economize a madeira para a noite.
Clare acenou com a cabeça e colocou a cesta que trouxera do mercado sobre a mesa. Dali tirou farinha, queijo, um punhado de peras maduras, cebolas e feijões secos. E graças à generosidade do suserano de Geoffrey, conde Lucien, trouxera também porco salgado e peixe seco.
— E os ovos? — perguntou Nicola.
— Estavam muito caros. Volto amanhã, mas temo que o preço não abaixe até a primavera. — Clare olhou de relance para Nicola. — E então? O que é o presente misterioso?
Nicola alcançou a bolsa em cima da mesa, abriu e jogou uma moeda sobre o tampo de madeira.
— Lorde d’Aveyron esteve aqui de novo.
Toda vez que Clare pensava em Lucien Vernon, conde d’Aveyron, lembrava-se da tolice e da imprudência que Geoffrey havia cometido. Ele tinha feito um pacto maldito com um bando de ladrões. Antes de morrer, Geoffrey havia confessado a Clare sua participação em um roubo para ajudar a mãe. Ela também sabia como ele se arrependera e tentou consertar, mas no momento em que resolvera se livrar do pacto, assinou sua condenação. Os ladrões o mataram.
Não só Clare sabia do conluio de Geoffrey com os ladrões, mas o conde Lucien também. Menos Nicola, que vivia na feliz ignorância do erro fatal do filho. Para Clare era melhor que continuasse assim; por ela, Nicola jamais saberia do que Geoffrey havia feito. Um baque daqueles no estado frágil de Nicola poderia levá-la à morte.
Até aquele dia, o conde Lucien não havia falado nada sobre a transgressão de Geoffrey, mas Clare tinha medo de suas visitas. Geoffrey fora um dos cavaleiros pessoais do conde, que podia deixar escapar alguma coisa.
— Não precisa fazer careta — disse Nicola, empurrando a moeda na direção de Clare. — O conde é um bom homem, que honra a memória de Geoffrey cuidando de mim. Olhe direito, isto não é dinheiro.
Depois de colocar as peras numa tigela ela pegou a moeda; era um pouco maior do que um centavo e tinha sido forjada em prata.
— É algo simbólico.
— Isso mesmo.
O palácio de Troyes havia sido cunhado num dos lados da moeda, e do outro havia a imagem de um cavaleiro portando uma lança. Clare sentiu uma dor no peito e colocou a moeda de volta sobre a mesa.
— Espero que não seja o que estou pensando.
A expressão de alegria do rosto de Nicola se transformou.
— Isso é um convite para assistir ao Torneio da Noite de Reis perto de onde as damas se sentam. Clare, pensei que...
1 - O Campeão De Lady Isobel
2 - Os Segredos Dos Olhos De Lady Clare
3 - A Amante de Lord Gawain
4 - A Desonra de Lady Rowena
5 - Cartas para uma Falsa Dama
Série Concluída