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1 de outubro de 2019

Pela Primeira Vez

— Sou muitas coisas — disse Lorde Sheene — mas a amabilidade não se conta entre minhas virtudes.

A bela Grace Paget não tem motivos para duvidar destas palavras. Afinal de contas a sequestraram por engano, levaram-na a uma casa perdida no campo e lhe disseram que deveria satisfazer todos os desejos deste homem ou perderia a vida. Entretanto, nos olhos dele havia algo que a incitava a duvidar: possivelmente não seja tão cruel como quer parecer.
Encerrado como um prisioneiro e tratado como um louco por toda a sociedade, Sheene faria qualquer coisa para recuperar sua vida. Mas a sensualidade de Grace foi interposta em seus objetivos. Apesar de achá-la irresistível, estava horrorizado em retê-la contra sua vontade. Juntos deverão rebelar-se contra as singulares circunstâncias que os uniram. Só então Grace se atreverá a iniciar o jogo da sedução, terna e intensa.
“Uma alma torturada que renascerá com o jogo do amor”

Capítulo Um

Somerset, 1822
— Esta moça não é como as demais prostitutas.
Aquele homem tinha um sotaque tão forte de Yorkshire que devolveu à consciência a Grace, o qual resultou ser uma agonia. Mesmo com a dor palpitante que sentia na cabeça, reconheceu o sotaque de sua terra.
Se era verdade que tinha voltado para a granja, em Ripon, por que seu estômago se retorcia de dor? Por que era incapaz de mover as mãos ou os pés? O medo lhe gelava o sangue e a voz lhe falhava, gélida, na garganta.
“Recorda, Grace, recorda”.
Ao tentá-lo, entretanto, apenas topava com um espesso muro de escuridão.
— Homem, claro que é uma prostituta! — insistia outro homem a seu lado — O que andava procurando no mole se não for uma maldita prostituta? Você a ouviu, perguntou como chegar ao Cock and Crown. Asseguro que quão único procurava era enrolar a algum qualquer com carteira nos bolsos.
Uma prostituta? Não podia ser que estivessem falando dela. A confusão girou na névoa de seus pensamentos. Como podia alguém tomar a respeitável Grace Paget por uma mulher que vendia seu corpo nas ruas?
O instinto refreou seu protesto. Algo lhe dizia que era essencial que aqueles aterradores desconhecidos acreditassem que ainda estava inconsciente. Manteve os olhos fechados, se protegeu contra a persistente dor de cabeça e se obrigou a raciocinar apesar de ter a mente entorpecida.
Um gotejamento de detalhes aleatórios filtrou-se através de sua consciência, o mais estranho era que já era dia. A luz lhe perfurava as pálpebras, que mantinha ainda fechadas. Estava atada com umas correias a uma espécie de banqueta acolchoada, deitada de barriga para cima, com os braços dos lados. Tinha os pulsos e os tornozelos amarrados com ataduras resistentes e lhe cruzava o peito outra cinta grossa que oprimia a respiração.
Em um instante de extremo sufoco, pareceu-lhe que a cinta mais larga estava tão ajustada que lhe impedia de respirar. Sentiu que ia desmaiar por falta de ar. O suor alagou sua pele e lhe impregnou até os ossos, por muito que na estadia não fizesse frio absolutamente.
Entretanto, permaneceu em silêncio, calada como uma tumba.
Invadiram-na perplexas lembranças de violência e ameaças que lhe levavam às náuseas e o enjoo. O caos ocupou seus pensamentos; o caos e um pavor frenético.
Obrigou-se a respirar para escapar daquele pânico asfixiante. Onde estava? Ao não poder contemplar a cena, limitou-se a acumular impressões incoerentes. Não ouvia nenhum som de tráfico. Devia estar em uma moradia campestre ou, ao menos, em um bairro tranquilo da cidade. Tudo era odor de homens fedorentos misturado com um incongruente toque primaveril, repleto de aromas florais.
O primeiro homem produziu um ruído duvidoso do fundo de sua garganta.
— Custa-me imaginar que uma prostituta se deixe ver vestindo esses trapos negros. Além disso, leva aliança.
Seu parceiro soltou uma gargalhada.
— Talvez seja carne fresca, amigo Filey. Ou melhor a aliança é para enganar. Os ricaços que vão ao Cock and Crown adoram estas coisas. E se for novata, melhor ainda. Lorde John nos disse que lhe levássemos uma cadela de aspecto agradável e limpa, não uma velha resmungona e murcha.
À mulher embargou a incredulidade e o asco. Grace era toda uma dama. Uma dama com roupas desfiadas e buracos nos sapatos, mas isso dava igual. As pessoas a tratava com respeito e boa atitude. Os homens não se aproximavam da decente senhora Paget para um fornicar rápido entre uns arbustos.
Claro que, se aqueles animais se incomodaram em sequestrá-la, certamente quereriam algo mais que um breve fornicar.
Tê-la-iam violado enquanto estava inconsciente?
“Ai, Meu Deus, rogo-lhe isso. Se me houverem tocado aproveitando minha inconsciência, não poderei suportá-lo.” Não notava nada estranho na disposição de seu esfarrapado vestido sobre seu corpo. Era difícil assegurá-lo sem mover-se, mas parecia estar ilesa.
No momento.
Não obstante, o que aconteceria a seguir? De repente lhe assaltou uma visão aterradora em que aqueles malfeitores a violavam uma e outra vez. Subiu-lhe à boca uma onda de bílis. Cada vez lhe custava mais permanecer calada, quando todos os nervos do corpo se esticavam para gritar, lutar e espernear.
Igual tinha lutado e esperneado quando a tinham raptado no Bristol.
“Agora sim, agora me lembro. Lembro-me de tudo.”

27 de fevereiro de 2011

Pela Primeira Vez

Série Irmãos Ryland

Devlin Ryland retornou de Waterloo como um aclamado herói de guerra, embora em seu interior prefira esquecer tudo relacionado a ela e tudo o que teve que fazer em nome do dever.

Blythe Christian conhece muito bem do que são capazes os homens quando estão em plena guerra. Como por exemplo, trair suas prometidas.
Agora, o destino quis que os caminhos de ambos se cruzassem, e embora nenhum deles possa negar a atração mútua que surgiu, terão que aprender a confiar de novo; Devlin com seus segredos e Blythe com seu coração.
Só então conhecerão o poder curativo do amor.
Devlin Ryland, herói de guerra em Waterloo, retornou triunfante a Londres, aclamado por sua coragem e ousadia ao salvar a vida de um dos oficiais ingleses.
Devlin se sente envergonhado pela atenção que recebe, já que não quer tomar parte em nada disso, nem deseja sua recém achada glória, nem recordações da guerra ou do papel que desempenhou nela.
Seu bom amigo Miles o convida à festa que vai celebrar em sua casa nos subúrbios de Londres.
E é durante essa festa onde descobre uma mulher que desperta seu interesse e seu desejo como nenhuma outra nunca fez: a bela Lady Blythe Christian.
Para sua desgraça, a dama em questão não quer nada com o célebre herói, pois Devlin foi quem salvou a vida do homem que era seu prometido e que depois de se recuperar de suas feridas se casou com outra.
Não importa que seja devastadoramente bonito amável e atencioso.
Devlin é um constante aviso da dor e humilhação que sentiu ao ser traída.
Como resultado daquela traição, Blythe jurou não casar-se jamais, nem voltar a confiar seu coração a outro homem para que volte a ser destroçado.
Por sua parte, Devlin, apesar de ser elogiado por onde quer que vá, segue lutando contra o sentimento de ser um homem que não encontra seu lugar neste mundo, embora haja uma coisa que tem muito clara, e é que ninguém o fez sentir-se como faz Blythe e, pela primeira vez em sua vida, deseja muito mais…


Capítulo Um

Londres,
Julho, 1817

— Assim vai partir.
Devlin Ryland deixou de fazer as malas e levantou o olhar para seu irmão mais velho.
— Sim — disse Devlin, pegando mais uma camisa da pilha que havia na cama e colocando-a na bolsa de couro gasta.
Já havia colocado a roupa de noite, calças extras, lenços de pescoço, camisas e mais um casaco. O casaco a mais era sua única concessão na moda. Em Brixleigh Park encontraria com pessoas que se empenhariam em não usar a mesma peça duas vezes. Ao menos devia ter um pouco de variedade.
Brahm, enigmaticamente atraente, com traços muito mais marcados e duros que os de Devlin, entrou mancando no "lugar sagrado" do quarto. O teor dos fortes golpes da bengala contra a polida superfície do chão, a perna de seu irmão doía.
— Pensava que se preocupava por voltar a ver Carnover.
Depois de fechar a mala, Devlin deu de ombros.
— Todos nós temos que enfrentar nossos demônios. Você mesmo me disse isso.
E o Senhor sabia que Brahm tinha sua cota de demônios.
Com ambas as mãos sobre o punho de prata lustrado e esculpido de sua bengala, Brahm se inclinou levemente para frente.
— Mas se considera que Carny seja um amigo, não um demônio.
— São ambas as coisas.
Não era necessário que explicasse algo, porque seu irmão o entendia muito bem.
Brahm esboçou uma espécie de sorriso, um pouco muito incomum nele nos últimos meses, desde a morte de seu pai.
— O que vai fazer?
Devlin deu um encolher de ombros de novo. Tinha as malas feitas e estava preparado para partir, mas havia algo que ainda o retinha.
— Não sei. Talvez vê-lo seja mais fácil desta vez.
— Quer dizer que talvez deixe de ter pesadelos.
Erguendo-se, Devlin encontrou serenamente o olhar preocupado de Brahm.
— Sim.
— E o que acontecerá se voltar a tê-los?
Era óbvio que Brahm não queria deixá-lo em paz. Era simples preocupação fraternal ou por acaso temia que Devlin fizesse algo que envergonhasse a família em Devon? Teria que acontecer algo bem escandaloso para igualar ao que Brahm havia feito. Urinar em uma fonte com ponche era difícil de superar.
Entretanto, não podia imaginar Brahm preocupado pelo status social da família. Seu irmão estava preocupado por ele, simples e sinceramente.
— Tudo irá bem.
— Não duvido — respondeu Brahm, sorrindo de forma estranha de novo.
Fez-se um silêncio enquanto Devlin se virava para pegar o rifle Baker que estava apoiado na cadeira, perto da janela. Tinha estado acordado até as três da manhã limpando-o e engraxando-o, polindo a madeira raiada até deixá-la brilhante, esfregando o canhão por dentro e por fora com um pano até que ficou impoluto. Meteu-o no estojo e o arrumou sobre a colcha aveludada de cor creme ao lado de sua mala.
— Por que leva isso? — perguntou Brahm Por acaso quer sair a disparar em Devon? Desta vez, Devlin encolheu só um ombro.
— Talvez.
— Não pode suportar a idéia de deixá-lo para trás, não é?
O que era o que mais o incomodava? O tom de compaixão de Brahm ou sua perspicácia? Provavelmente para Brahm parecesse uma tolice que seu irmão mais novo tivesse tanta dependência de algo tão inanimado quanto um rifle, mas não o julgaria por isso. Brahm jamais julgava, fosse porque não era sua maneira de ser ou porque sabia que não tinha direito de fazê-lo.
— É parte de mim. 








Série Irmãos Ryland
1 - Paixão Esquiva
2 - Pela Primeira Vez
3 - De Novo em Teus Braços
4 - Na Escuridão da Noite
5 - Ainda Te Amo
Série Concluída