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4 de julho de 2018

Só Você

Série Romances Vitorianos
Quando María e Black se conheceram, suas vidas mudaram para sempre. 
Surgiu entre eles uma atração instantânea e feroz. Tinham encontrado essa paixão, que, se tiver sorte, encontra uma vez na vida. A desconfiança e o ciúme tinham lhes separado três anos atrás.
 Depois, nenhum deles havia voltado a ser feliz. Um dia Black se inteira de que a vida de María está em grave perigo. 
Então corre para seu lado, para salvá-la, prometendo a si mesmo, que não permitirá que se separe dele nunca mais.

Capítulo Um

Londres, 1854
Black bebia em seu escritório.
Estava a várias horas ali, sozinho, bebendo, tentando chegar, o mais rápido possível à inconsciência.
Acreditava que estava levando muito tempo, mas ele era persistente e o conseguiria. Tinha começado essa manhã, quando pensava que a cabeça lhe ia arrebentar, se continuasse se preocupando com ela. Seu cozinheiro foi o único que se atreveu a entrar e tentar falar com ele.
– Chefe, abriremos dentro de uma hora, não pode tratar nesse estado com os clientes - ele nem lhe olhou, muito menos lhe respondeu, foi como se não lhe escutasse. William, vendo que não haveria resposta, abordou pela garrafa pensando que, estando tão bêbado, não se daria conta.
Acabava de fechar os dedos sobre ela, quando Black lhe sussurrou maliciosamente:
– Solta isso, se não quer que te fatie os dedos, e os joguemos no jantar de algum cliente hoje - as palavras estavam perfeitamente moduladas, com o tom necessário para que ao cozinheiro lhe pusessem os cabelos em pé.
Conhecia seu chefe quando estava de mau humor, mas isto era diferente. Parecia como se estivesse esperando algo, ou alguém com o que poder descarregar sua fúria, na realidade dava a impressão de estar desejoso de matar a alguém. Saiu, sem lhe responder, e fechou a porta a suas costas. O maître, outro empregado do restaurante que levava tanto tempo como ele, estava lhe esperando no corredor.
– O que te disse? – o cozinheiro negou com a cabeça, pouco disposto a repetir a ameaça. Ainda tremia interiormente, ao pensar no que lhe havia dito, e em sua expressão ao dizê-lo – É um selvagem! Nunca tinha lhe visto assim, não sei o que lhe acontece - encolheu os ombros sem saber o que mais dizer. O outro homem ficou pensativo.
– Tenho uma idéia, e se chamarmos à marquesa? – o cozinheiro duvidava.
– Não sei o que é pior, se o seu marido descobre…
– Que venha com ela, acredito que agora se dão bem. Qualquer coisa é melhor que isto. Imagine que sai assim a falar com os clientes, - foi colocar o seu casaco - volto em seguida, pegarei uma carruagem para voltar a tempo.
Pouco depois, Gabriel e Alexandra escutavam as explicações atropeladas do maître do THE CLERK, sentados em seu salão. Ela se voltou para seu marido.
– Que estranho! - observou a expressão de seu marido, conhecia-lhe muito bem - você sabe algo disto?
– Não, mulher, o que você tem - era muito inteligente. Não sabia como era possível, que sempre soubesse quando mentia. Ninguém mais se dava conta. Felizmente.
– Gabriel! O que você fez? - voltou-se para o maître do THE CLERK - Está bem, James, não se preocupe, vou em seguida - o homem pareceu tranqüilizar-se ao escutá-la. Assentiu aliviado e saiu quase correndo. Abririam o restaurante em seguida, e tinha que estar ali.
Ela esperou que o mordomo fechasse a porta, e ficou observando seu marido, com os braços cruzados. Gabriel conhecia essa expressão. Quando ficava assim, não podia lutar contra ela. Bom, de maneira nenhuma, podia lutar contra ela.
– Está bem, vêm comigo - entraram no escritório, e ele fechou a porta. Ela ficou de pé, com a mesma cara de aborrecimento.
– Gabriel - avisou, para que se apressasse.
– Sim, já sei. Levei-lhe uma carta de María, acredito que era de despedida.
– Por que uma carta? Por que não foi falar com ele?
– Está em uma missão - Alexandra franziu o cenho pela explicação.
– Acreditava que o ia deixar - protestou.
– Devido à guerra, não tem trabalho no teatro, por ser russa não querem contratá-la. Pelo visto parte do público se queixou, e os donos dos teatros não se atrevem a que atue neles, se por acaso o público não vai ver as peças.
– Mas isso é uma estupidez! É tão inglesa quanto você e eu! Você me disse que faz anos, que lhe concedeu a nacionalidade!
– Sei, sei. Pelo trabalho, não o tínhamos feito público naquele momento, e, depois, não vimos necessidade.
– Você idiota!Você conseguiu - abriu a porta e ficou olhando um momento para Gabriel. – Está bem, vou ver-lhe, há algo mais que deva saber? – não esperou que lhe respondesse, estava muito zangada. Foi à entrada para recolher seu casaco – Perkins, por favor, que preparem a carruagem! - seu marido a seguiu, como ela sabia que o faria.
– A primeira coisa é que não vai sozinha, acompanho-te, e a segunda, que a missão em que María está trabalhando, poderia ser muito perigosa.
– Estupendo! Tudo são boas notícias - resmungou a mulher, enquanto colocava as luvas – Certamente Gabriel, já falaremos de tudo isto. Enquanto o fazemos, quero apenas que saiba que estou muito zangada! - Perkins, o mordomo do Marquês de Bute, não tinha muitos momentos nos que pudesse sorrir com vontade, e aproveitou este. Seu patrão, nesse momento lhe olhou com o cenho franzido.
Imediatamente, o homem abriu a porta da rua, já totalmente sério.
– Senhores - os dois saíram para a carruagem. Alexandra na frente, andando depressa e com cara de aborrecimento, e atrás Gabriel tentando acalmá-la.
Perkins fechou a porta e foi à cozinha, para contar a sua mulher, a cozinheira, o que acabava de ocorrer.
Desde que a senhora marquesa tinha entrado em suas vidas, nunca se aborreciam.
– James, por favor, uma cafeteira com café muito carregado, para o senhor, obrigado. - O maître se foi, aliviado de que alguém tomasse as rédeas da situação. Tinham entrado apressados no escritório de Black, e Alexandra, como sempre, fazia o que queria.
Black lhes olhava com os olhos frágeis. Gabriel sentia por ele, sinceramente. O furacão Alexandra tinha entrado em sua vida, e já não podia fazer nada para evitá-lo. Tirou o casaco e as luvas e os deixou em uma cadeira, logo, agarrou outra e se sentou junto ao seu amigo.
– Black, querido. Estamos aqui para te ajudar.
– Não necessito ajuda. - em sua defesa terei que dizer que, pela menos na fala, quase não se notava que tivesse bebido, além de uma hesitação antes de dizer as frases, como se tivesse que as pensar.
– Está bem, sabe que já está aberto? Já tem clientes nas mesas. Não se preocupe, James se ocupará. Acha que ele sozinho será capaz de fazê-lo? Se não, podemos ficar para ajudar.
– Não, é muito competente - sorriu quando foi capaz de dizer a palavra inteira. Era uma palavra difícil. Sentiu-se orgulhoso. Decidiu beber outro gole, para celebrar que ainda era capaz de dizer palavras complicadas.
– Você gostaria de ir dormir em casa?




Série Romances Vitorianos 
1 - Traição
2 - Vingança
3 - Só Você
Série Concluída

24 de junho de 2018

Vingança

Série Romances Vitorianos
Alexandra vive por seu trabalho como pesquisadora, até encontrar Gabriel, marquês e espião, e as faíscas voam entre os dois.  

Ela decide não vê-lo novamente, e ele, que tem de levá-la para sua cama. E usará qualquer método, mesmo chantagem, se necessário, para levá-la aos seus braços. Imersos em um mistério cheio de mentiras e assassinatos, eles terão que lutar, primeiro para sobreviver e depois para saber o que é mais importante para ambos.

Capítulo Um

Londres, 1852
O corpo jazia imóvel, deitado de lado, sob uma grossa capa de mantas. Na semi escuridão do quarto, iluminada pela luz da lua que entrava pela janela, vislumbrava-se com muita dificuldade uma silhueta. Por acima do lençol, via-se a cabeça de um ancião, coberta por um gorro de dormir. Sua face estava coberta por uma máscara, e debaixo, por uma barba branca, que lhe cobria o resto do rosto. Roncava ligeiramente, indiferente ao estranho, que havia se introduzido em seu quarto uns momentos antes, e que estava imóvel ao lado da cama. 

O assassino ergueu o braço direito para esfaquear o corpo adomercido quando o quarto de repente se transformou em um pandemônio de corridas e gritos. Dois homens o derrubaram. Só então, várias lâmpadas a gás foram ligadas simultaneamente.
Quando o delinquente foi mantido no chão, o velho pulou da cama com agilidade imprópria para a idade. Caminhou até o intruso, observando os dois policiais iluminarem seu rosto com uma das lâmpadas, depois virou-se para o inspetor ao lado dele, segurando outra lâmpada.
— Eu lhe disse James! Sabia que era o sobrinho! Deve-me um jantar no “Pomme de Terre”, eu sabia disso! — a mulher, pois claramente o era por sua voz, tirou a barba com um puxão seco, e logo o gorro de dormir. Ficaram alguns restos de cola no queixo, mas, no todo, seu aspecto era normal, estava completamente vestida. 
O inspetor de polícia, sorria ao vê-la mover-se de um lado a outro com aquela energia, pouco lhe faltava para ficar dando saltos de alegria.
— Está bem, Alexandra, convidarei-te. Embora fosse mais justo que você me convidasse, já que você ganha mais que eu. —queixou- se.
— Oh, não! uma aposta é uma aposta. — agarrou seu revólver debaixo do travesseiro e o meteu na bolsa como se fosse qualquer coisa. Dali tirou um lenço com o qual terminou de limpar os restos de barbicha do queixo — Bom, vou para casa, com um pouco de sorte, minha tia me terá guardado o jantar.
— Não conheci, em minha vida, ninguém, homem ou mulher, que coma tanto como você. — ele a pegou pelo cotovelo — Vamos, eu vou te levar, é tarde. — fez um gesto a um de seus homens, para que se encarregassem do detido. — Vou levar a senhorita Wallace a sua casa, em seguida vou a delegacia de polícia. — Frank, seu segundo em comando, assentiu.
Alexandra seguiu tagarelando pelo caminho, até que subiram no carro, e uma vez dentro, também.
— Este caso era muito importante — lhe olhava com os olhos brilhantes — saiu nos jornais. Agora ninguém pode pôr em dúvida, que posso fazer o mesmo trabalho que um homem — ele assentiu, estava totalmente de acordo com ela. O ancião, que tinha sofrido duas tentativas de assassinato, a contratou, graças em grande parte, a sua amizade com a tia da Alexandra. Ela tinha falado com o James, quando lhe ocorreu a ideia de ficar como isca. Tomou a sério porque já tinha trabalhado com ela um par de vezes antes, e conhecia seu profissionalismo, e que suas ideias, geralmente, eram muito acertadas.
Escutou-a cantarolar olhando pela janela. O fazia ocasionalmente. Quando estava contente.
— E como está o seu irmão?
— Desgostoso! Continua a insistir para que eu pare com isso. Mas eu adoro! — encolheu os ombros — Ele está em St. Ives, mas vem de vez em quando para nos ver. Você me entende verdade James?
— Claro, também gosto do trabalho. — algo no tom de sua voz lhe fez o observar com atenção. Olhou-lhe pela primeira vez à luz essa noite, havia algo diferente nele, era como se lhe ocultasse algo.
— James, o que está errado?
— Eu não sei o que você quer dizer. — encolheu os ombros.
— James… acredito que já nos conhecemos, não me insulte mentindo para mim. Prefiro que você me diga que não pode me dizer. — ele olhou para ela atentamente.
— Se não te contar, acabará por descobrir. Outro dia, meu chefe me chamou para o escritório dele. Recebi ordens para visitar o Marquês de Bute. — Alexandra não conseguiu deixar de estremecer ao escutar o nome. James não era um tolo, ele percebeu.
— Você o viu? — já não estava tão contente.
— Sim, esta manhã. — ele continuou, olhando para ela, como se avaliasse a conveniência de lhe contar tudo. — James por favor!





Série Romances Vitorianos 
1 - Traição
2 - Vingança
3 - Só Você
Série Concluída


11 de março de 2018

Traição

Série Romances Vitorianos 
Drogo King Siddal, um galês, de 38 anos, desesperado por sua incapacidade de superar algo terrível que aconteceu em sua vida cinco anos antes, encontra no mar, meio afogada, uma jovem que tentaram matar.

Quando acorda, ela é incapaz de dizer o seu próprio nome, porque não se lembra de nada de sua vida anterior. Ela não sabe, portanto, quem a atacou e pode ser qualquer um.
Assim começa uma viagem que farão juntos, lutando para descobrir o que aconteceu para que ela tivesse acabado abandonada no mar daquela maneira e, mais importante, descobrir que a vida às vezes dá uma segunda chance, apenas temos que segurá-la para sermos felizes.

Capítulo Um

St Ives, Cornwall, 1851
Drogo "King" Siddal, solta as amarras de seu barco e em seguida salta para dentro. Embora existisse a ameaça de chuva, precisava sair da mansão. Ele não tinha dormido a noite toda, o que estava se tornando habitual e, apesar de ter tentado pintar, não conseguia se concentrar. 
Naquela manhã tinha começado dois quadros diferentes, para logo abandoná-los. Fazia cinco anos que não pintava nada de bom. Embora os médicos lhe dissessem que era normal, e que voltaria a fazê-lo, no fundo, estava seguro de que jamais voltaria a pintar habilmente, para que os que viam suas obras, sonhassem estar dentro delas.
Entrou no mar respirando profundamente. Dirigia o barco enquanto observava o horizonte. O ar começava a soprar com força. Escutou um ruído no casco que o fez girar a cabeça. Franziu o cenho ao voltar a ouvi-lo. Bloqueou o leme e se levantou para olhar, pois não sabia o que poderia ser.
― Meu Deus! ― Era um cadáver, uma mulher que flutuava de barriga para baixo. Firmou-se sobre seus joelhos para resgatá-la, senão, a família da pobre desgraçada nunca saberia o que tinha acontecido com ela. Agarrou-a pelos braços, mas lhe escorregou. Amaldiçoando, voltou a agarrá-la, com mais força, por debaixo das axilas e a subiu, já sem problemas. 
Tombando-a dentro do barco, retirou-lhe o cabelo para ver seu rosto. Observou então, as marcas de dedos em seu pescoço, assim como um golpe forte na têmpora. Que estranho, por ali não havia assassinatos. Estava observando as sobrancelhas ruivas da jovem, quando lhe pareceu que suas pálpebras se moviam. Inclinado sobre seu peito, colocou o ouvido no coração. Pulsava, débil, mas estava viva. Levantou-se de um salto, e pôs a proa em direção ao ancoradouro.
Amarrou o barco como pôde, e voltou para pegá-la. Agarrando-a com cuidado, levou-a correndo para sua casa enquanto começava a chover.
― Bates! ― O mordomo, que lhe conhecia de toda a vida, olhava-lhe com os olhos saindo das órbitas, vendo-o entrar na casa com essa jovem nos braços e pingando ― peça que Tom vá procurar o Doutor Ribbons, encontrei-a no mar, pensei que havia se afogado.
Subiu para seu quarto, já que era o único local com fogo aceso. Tombou-a sobre a cama e observou atentamente. Era uma mulher muito bela, de baixa estatura e formas delicadas. Cabelo vermelho como o fogo e pele branca como a lua. Gostaria de ver de que cor eram seus olhos. Estava descalça e com camisola. O que lhe provocava mais de uma pergunta, somando ao resto que se acumulava em sua mente.
A senhora Bates entrou, carregada de toalhas, acompanhada pela criada.
― Senhor, se nos desculpar, secaremos à senhorita.
― Me avise quando terminarem, estarei na biblioteca ― antes de sair agarrou algumas roupas secas para ele, já que estava encharcado. Depois de trocar de roupa, passou à biblioteca. Acendeu o fogo e se sentou em uma das poltronas que havia frente a ele. Olhou para a janela, a chuva golpeava contra os cristais com um som musical. Levantou-se e saiu a procura do mordomo, encontrando-o no salão.
― Bates o médico não veio ainda?
― Está a ponto de chegar, senhor, mandei o Tom como me disse ― o som da porta os interrompeu. O jovem criado fechava a porta depois do médico, que tirava o casaco e colocava sua maleta em uma cadeira. Aproximou-se dele. 
Aquele homem desengonçado com sua cara bondosa e seu senso comum tinha conseguido, tempos atrás, que lhe considerasse seu amigo. Um dos poucos que tinha. 
― Alfred!








Série Romances Vitorianos 
1 - Traição
2 - Vingança
3 - Só Você
Série Concluída