Mostrando postagens com marcador Traição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Traição. Mostrar todas as postagens

11 de março de 2018

Traição

Série Romances Vitorianos 
Drogo King Siddal, um galês, de 38 anos, desesperado por sua incapacidade de superar algo terrível que aconteceu em sua vida cinco anos antes, encontra no mar, meio afogada, uma jovem que tentaram matar.

Quando acorda, ela é incapaz de dizer o seu próprio nome, porque não se lembra de nada de sua vida anterior. Ela não sabe, portanto, quem a atacou e pode ser qualquer um.
Assim começa uma viagem que farão juntos, lutando para descobrir o que aconteceu para que ela tivesse acabado abandonada no mar daquela maneira e, mais importante, descobrir que a vida às vezes dá uma segunda chance, apenas temos que segurá-la para sermos felizes.

Capítulo Um

St Ives, Cornwall, 1851
Drogo "King" Siddal, solta as amarras de seu barco e em seguida salta para dentro. Embora existisse a ameaça de chuva, precisava sair da mansão. Ele não tinha dormido a noite toda, o que estava se tornando habitual e, apesar de ter tentado pintar, não conseguia se concentrar. 
Naquela manhã tinha começado dois quadros diferentes, para logo abandoná-los. Fazia cinco anos que não pintava nada de bom. Embora os médicos lhe dissessem que era normal, e que voltaria a fazê-lo, no fundo, estava seguro de que jamais voltaria a pintar habilmente, para que os que viam suas obras, sonhassem estar dentro delas.
Entrou no mar respirando profundamente. Dirigia o barco enquanto observava o horizonte. O ar começava a soprar com força. Escutou um ruído no casco que o fez girar a cabeça. Franziu o cenho ao voltar a ouvi-lo. Bloqueou o leme e se levantou para olhar, pois não sabia o que poderia ser.
― Meu Deus! ― Era um cadáver, uma mulher que flutuava de barriga para baixo. Firmou-se sobre seus joelhos para resgatá-la, senão, a família da pobre desgraçada nunca saberia o que tinha acontecido com ela. Agarrou-a pelos braços, mas lhe escorregou. Amaldiçoando, voltou a agarrá-la, com mais força, por debaixo das axilas e a subiu, já sem problemas. 
Tombando-a dentro do barco, retirou-lhe o cabelo para ver seu rosto. Observou então, as marcas de dedos em seu pescoço, assim como um golpe forte na têmpora. Que estranho, por ali não havia assassinatos. Estava observando as sobrancelhas ruivas da jovem, quando lhe pareceu que suas pálpebras se moviam. Inclinado sobre seu peito, colocou o ouvido no coração. Pulsava, débil, mas estava viva. Levantou-se de um salto, e pôs a proa em direção ao ancoradouro.
Amarrou o barco como pôde, e voltou para pegá-la. Agarrando-a com cuidado, levou-a correndo para sua casa enquanto começava a chover.
― Bates! ― O mordomo, que lhe conhecia de toda a vida, olhava-lhe com os olhos saindo das órbitas, vendo-o entrar na casa com essa jovem nos braços e pingando ― peça que Tom vá procurar o Doutor Ribbons, encontrei-a no mar, pensei que havia se afogado.
Subiu para seu quarto, já que era o único local com fogo aceso. Tombou-a sobre a cama e observou atentamente. Era uma mulher muito bela, de baixa estatura e formas delicadas. Cabelo vermelho como o fogo e pele branca como a lua. Gostaria de ver de que cor eram seus olhos. Estava descalça e com camisola. O que lhe provocava mais de uma pergunta, somando ao resto que se acumulava em sua mente.
A senhora Bates entrou, carregada de toalhas, acompanhada pela criada.
― Senhor, se nos desculpar, secaremos à senhorita.
― Me avise quando terminarem, estarei na biblioteca ― antes de sair agarrou algumas roupas secas para ele, já que estava encharcado. Depois de trocar de roupa, passou à biblioteca. Acendeu o fogo e se sentou em uma das poltronas que havia frente a ele. Olhou para a janela, a chuva golpeava contra os cristais com um som musical. Levantou-se e saiu a procura do mordomo, encontrando-o no salão.
― Bates o médico não veio ainda?
― Está a ponto de chegar, senhor, mandei o Tom como me disse ― o som da porta os interrompeu. O jovem criado fechava a porta depois do médico, que tirava o casaco e colocava sua maleta em uma cadeira. Aproximou-se dele. 
Aquele homem desengonçado com sua cara bondosa e seu senso comum tinha conseguido, tempos atrás, que lhe considerasse seu amigo. Um dos poucos que tinha. 
― Alfred!








Série Romances Vitorianos 
1 - Traição
2 - Vingança
3 - Só Você
Série Concluída

7 de novembro de 2015

Traição






Rachel Howland nunca imaginou que o homem ao qual tinha entregue sua inocência, sua confiança e todo seu amor, pudesse traí-la de uma maneira tão cruel e abandoná-la a própria sorte. 

Profundamente ferida, foge sem olhar para trás, em busca de um lugar onde chorar sua solidão e, possivelmente...Elaborar sua vingança.
Noel Magnus, um dos membros mais enriquecidos da alta sociedade, converteu-se em um homem duro e implacável que não duvida em aumentar seu poder à custa do que fosse necessário. Mas quando suas ações repercutem sobre Rachel e a fazem fugir, iniciará uma feroz perseguição para recuperar a qualquer preço à mulher que ama, a que significa tudo para ele... A única mulher cujas lágrimas lhe rompem o coração...

Capítulo Um

Ilha de Herschel, mar de Beaufort, Canadá, 13 de fevereiro de 1857.
-Noel Magnus... Não... Conseguiu - sussurrou o homem entrecortadamente. Olhou para trás como se esperasse que o próprio Satanás estivesse sorrindo as suas costas.
Seus amigos se apinhavam ao redor do pedaço de madeira que fazia às vezes de mesa no único botequim ao norte do paralelo sessenta. As ásperas mãos deformadas pelo gelo segurava com firmeza a jarra de cerveja caseira. Não concordaram nem discordaram. Pareciam paralisados com aquelas palavras. Essas palavras impronunciáveis.
-Ele não é dos que falham - murmurou outro. Em seguida apoiou a escura cabeça nas mãos e percorreu freneticamente com o olhar o pequeno chiqueiro que se fazia chamar de Ice Maiden, ou botequim da donzela de gelo - Jurou a lady Franklin que encontraria seu marido e ficou muitos anos no norte buscando-o. Além disso, existe a recompensa... Esse enorme montão de ouro; essa doce fragrância do Paraíso. Não diga agora que tudo está perdido.
-Este lugar selvagem ainda não venceu ao Magnus. -Um jovem com o cabelo de um dourado claro muito curto se agachou desafiante envolto em uma grosa jaqueta de couro.
Ninguém prestava atenção aos constantes gritos do vento que soprava com sua voz de barítono contra as paredes de troncos. Umas grossas camadas de gelo cobriam os dois quadrados de vidro que faziam as vezes de janelas no verão, mas nem sequer isso pareceu intimidar ao jovem; nem mesmo os ameaçadores pedaços de gelo que formavam estalactites do batente das janelas até as tábuas de madeira do chão, apesar de que as portinhas exteriores estavam fechadas a semanas para proteger da interminável noite aos loucos ocupantes do botequim.
- Verão que os rumores de sua morte vindos do Fort Garry são falsos. Magnus voltará logo. Nossa donzela de gelo fará com que retorne. Acaso nosso grande amigo Magnus preferiria uma morte lenta e horrível antes de voltar a ver semelhante beleza? -Um último homem, Alexander Mclntyre, de rosto velho e desgastado, esforçou-se por observar o escuro rosto de uma mulher do outro lado da cabana.
Era uma jovem de pele pálida e a única pessoa presente no botequim além deles, mas não prestava nenhuma atenção à conversa. Em vez disso, estava apoiada na improvisada placa que servia de balcão e olhava pensativa os pequenos blocos de gelo que caiam como cogumelos pelas frestas das paredes.
A donzela de gelo estava vestida como uma nativa. Um manto amauti a cobria dos pés a cabeça; de fato, vestia aquela grossa capa como se fosse o unico tipo de roupa que tivesse vestido a vida toda. 
Umas grossas meias-calças de lã e umas mukluks, botas feitas de pele de urso polar típicas do lugar, completavam sua vestimenta junto à antiga pistola de faísca que levava presa ao áspero cinturão de pele.
Um cavalheiro inglês não familiarizado com os costumes do norte certamente teria se impactado com o aspecto da jovem, mas o desconcerto inicial seria superado pelo enfeitiço que, sem dúvida, aquela mulher o teria feito cair. 
O desbotado manto amauti parecia feito especialmente para ela, já que o objeto era da mesma cor que seu cabelo loiro. O enorme capuz debruado com pele a suas costas também despertava uma espécie de fascinação que afetava inclusive aos ali pressentes. 
O capuz expunha torpemente seus rebeldes cachos dourados, além de indicar que não estava casada. 
O manto amauti era um objeto desenhado para que as mulheres levassem seus bebês no enorme capuz, mas no dela não havia nenhum e, às vezes, os homens mais jovens que freqüentavam o lugar gostavam de imaginar que uma expressão de tristeza sobrevoava o rosto da garota quando olhava para trás.
Em qualquer outra sociedade, aos vinte e sete anos, solteira e sem filhos, Rachel Ophelia Howland seria considerada uma solteirona. Mas, nesse lugar esquecido da mão de Deus, não havia nem um só homem em quilômetros que não estivesse disposto a dar uma perna por ter a oportunidade de dar um filho à senhorita Rachel.