Laura Stephenson luta para ocultar sua natureza sensual sob uma fachada de rigidez vitoriana, até que o valente Major Ian Cameron lhe faz a uma proposta de casamento que ela se atreve a aceitar.
Depois de anos de cativeiro na Ásia Ocidental que acabaram com seus sonhos, Ian encontra nos olhos ambarinos de Laura a esperança em um futuro que ele acreditava impossível.
Juntos lutam por construir um matrimônio único.
Mas o perigo e as intrigas que os rodeiam são menos danosos que os segredos ocultos em seus corações.
Só a coragem indomável do verdadeiro amor os fará livres para sair à luz, a selvagem paixão que os dois temem... E desejam.
Capítulo Um
Estação de Baipur, norte da Índia Central.
Pesadelos outra vez. Laura despertou ofegando e se levantou na cama gesticulando e sacudindo o mosquiteiro de musselina que a rodeava. Enterrou tremendo o rosto entre as mãos.
Quando acalmou um pouco o medo, se reprovou por ter se agitado tanto quando seus pesadelos eram muito velhos amigos.
Começaram quando tinha seis anos, a primeira vez que foi testemunha da violência que podia existir entre um homem e uma mulher.
Com o tempo novas cenas foram se acrescentando aos pesadelos. A pior era a tragédia que destruíra sua infância, embora as imagens não se limitassem aos anos vividos como Larissa Alexandrovna Karelian. De fato, o evento mais humilhante aconteceu depois que se convertera em Laura Stephenson.
Hoje em dia os pesadelos não eram frequentes e geralmente só os tinha diante da perspectiva de uma mudança iminente. Mas infelizmente as imagens não tinham perdido nem um ápice de suas vividas emoções: medo, repugnância e vergonha. Paixão, desastre e morte.
Laura afastou, cansativamente, o cabelo avermelhado da testa úmida. Era uma mulher de vinte e quatro anos geralmente equilibrada, serena e composta ao extremo, mas em seus pesadelos era sempre uma menina frenética e aterrorizada, e por mais que tivesse amadurecido isso não mudara em nada.
Talvez devesse se conformar e agradecer porque os pesadelos só vinham a ela duas ou três vezes ao ano. Parecia absurdo ter pesadelos quando ela mesma estava encantada diante da mudança que estava por vir. No dia seguinte partiria com seu padrasto para realizar um percurso pelo distrito, que era a parte mais gratificante da rotina anual. Entretanto a perspectiva despertara seus demônios interiores, que tinham lançado um de seus periódicos assaltos.
O ar tinha refrescado, a temperatura era agradável e no terraço os móbiles balançavam brandamente sob a brisa. Laura elevou o mosquiteiro e se levantou descalça.
Sem fazer caso aos possíveis escorpiões se aproximou da janela, de onde se via a Este, as primeiras luzes do amanhecer. Bom. Aquilo significava que não tinha que dormir de novo.
Como muitos britânicos na Índia, seu padrasto e ela tinham o costume de passear a cavalo muito cedo, antes que se assentasse o calor do dia.
O homem não demoraria a levantar-se e tomariam o café da manhã juntos, chá com torradas. Depois do passeio ele atenderia seus deveres como coletor do distrito, e ela se encarregaria dos múltiplos detalhes necessários para fechar a casa e preparar a viagem.
Seria um dia ocupado e previsível. Mas por um momento, antes de acender o lampião, Laura saboreou as melodiosas notas dos móbiles e os outros sons e aromas da noite.
A brisa acariciava o rosto e a escuridão voluptuosa a chamava. A paixão era a natureza da Índia e às vezes, muito frequentemente, Laura ansiava render-se a ela.
Passou sem pensar as mãos pelo corpo, percorrendo os seios e os quadris enquanto sentia o quente palpitar da pele sob a fina camisola de musselina.
Depois, dando-se conta do que estava fazendo, ruborizou-se e deu as costas à perigosa sensualidade da noite.