Eleanor de Lacy deve ter sido louca por concordar em trocar identidades com sua obstinada prima.
Ela nunca iria convencer Remington Kinight da loucura dessa união – especialmente desde que o homem parecia tão determinado para que isso acontecesse. Pior ainda ela acha Remington deslumbrante atraente – e ela fica encantada com suas tentativas de seduzi-la, embora ele acredite que ela já é dele. Mas se ele souber do engano de Eleanor, esse ousado patife vai destruir sua reputação e seu coração. Remington esperava uma aristocrata altiva e inflexível que assegurasse sua entrada na boa sociedade. Mas essa “duquesa”é uma surpresa muito agradável – modesta, calorosa, carinhosamente desajeitada - e uma delícia para os olhos. Em suma, ela é exatamente o tipo de noiva que Remington poderia apaixonar-se apaixonadamente por...se ele não estivesse tão interessado em sua vingança.
Capítulo Um
Londres, 1806
A carruagem que pertencia à Duquesa de Magnus parou em frente à mansão em Berkley Square e dela saiu uma impostora.
A longa e resistente capa de viagem cobria as roupas lisas, escuras e modestas da impostora. Era alta e curvilínea como a duquesa e falava com um acento aristocrático. Assim como a duquesa, tinha os cabelos negros penteados para trás.
No entanto, para olhos mais atentos, as diferenças eram evidentes. A impostora tinha um rosto mais doce, mais arredondado, dominado por grandes olhos azuis, impressionantes em sua serenidade. Sua voz era rouca, quente, rica. Suas mãos descansavam tranquilamente na cintura e movia-se com uma graça serena, em nada semelhante à vivaz segurança da duquesa. Sorria lentamente, franzia o cenho lentamente e nunca ria com radiante liberdade. De fato, parecia pesar cada emoção antes de se permitir demonstrá-la, como se cada pingo de impulsividade tivesse sido sufocado em algum momento do passado. Não que fosse taciturna, mas era observadora, serena e muito quieta.
Sim, uma pessoa experiente reconheceria as diferenças entre a duquesa e a impostora. Felizmente, para a Senhorita Eleanor Madeline Anne Elizabeth de Lacy, pessoas assim não se encontravam em Londres naquele momento, com exceção de seu criado, seus cocheiros e lacaios, mas todos eles eram leais a sua prima, a verdadeira duquesa, e a Eleanor – acompanhante da duquesa. Eles nunca trairiam a missão de Eleanor.
Nunca diriam a verdade ao Sr. Remington Knight.
Eleanor sentiu-se tensa quando o mordomo de rosto severo fez o anúncio no grande e ecoante vestíbulo.
— Sua Graça, a Duquesa de Magnus.
Ouvir a si mesma ser apresentada de modo tão formal a fez querer olhar ao redor em busca de sua prima. Se Madeline estivesse aqui! Se a sua prima não tivesse se esquivado desta missão para outra tarefa mais importante!
Se Eleanor não tivesse concordado em passar por Madeline.
Na outra extremidade do salão, um lacaio uniformizado fez uma reverência, então desapareceu por uma porta aberta. Ele se demorou apenas um momento, em seguida voltou e inclinou a cabeça para o mordomo.
O mordomo voltou-se para Eleanor e informou:
— O senhor está ocupado, mas vai recebê-la em breve. À propósito, minha senhora, eu sou Bridgeport. Posso ajudá-la com o casaco e o chapéu?
Embora passasse do meio-dia, a névoa impunha à luz solar um tom acinzentado. As chamas das velas não conseguiam iluminar os cantos escuros da enorme entrada da sala do Sr. Knight, uma entrada construída para anunciar, de modo mais claro possível, a riqueza do proprietário.
As narinas de Eleanor tremeram com desprezo.
Bridgeport sobressaltou-se levemente, como se antecipasse que seria atormentado por ela, tal qual uma substituta de seu senhor.
Claro que o Sr. Knight compraria este tipo de casa, queria que todos soubessem que estava rolando em riquezas. Ele era, afinal, nada mais do que um americano arrivista que sonhava em se casar com um título.
No entanto, a entrada era decorada com cortinas de veludo verde e dourado, com uma profusão de vitrais e espelhos chanfrados de um maravilhoso bom gosto. Eleanor se consolou com o pensamento de que Knight comprara a casa com a entrada já nesta condição e agora planejava destruí-la e instalar algo em dourado no estilo chinês, um estilo tão vulgar quanto a boca de Eleanor se curvou com diversão tão vulgar quanto o próprio Príncipe de Gales adorava.
Bridgeport relaxou e voltou ao seu comportamento impassível.
Ele a observava muito de perto. Seria porque pensava que era a duquesa? Ou porque seu senhor o instruíra a fazer isso?