Mostrando postagens com marcador Um Cavalheiro para Lady Louisa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Um Cavalheiro para Lady Louisa. Mostrar todas as postagens

25 de abril de 2014

Um Cavalheiro para Lady Louisa

Série Windham
Anos atrás, lady Louisa Windham cometeu uma imprudente ousadia por culpa de um desafio proposto pelo irmão.
Agora esse deslize está a ponto de ser descoberto e sua honra e reputação podem ficar comprometidas por toda a vida, a menos que se case com sir Joseph Carrington, um bom amigo da família.

Capítulo Um

Depois de vencer o Corso, sir Joseph Carrington adquiriu dois fiéis companheiros. Ninguém o considerava estúpido, por isso ele sabia perfeitamente que o consolo da cigarreira, sua primeira afeição, era uma amizade bastante duvidosa.
A segunda companheira, um pouco mais animada, era Lady Ophelia, a quem Carrington tinha conhecido pouco depois de dar baixa no exército. Ela, com os amáveis olhos e pacientes silêncios, lhe deu muitos conselhos sábios e consolo, e deu sistematicamente ninhadas de ao menos dez leitões, tanto na primavera como no outono, o que só podia aumentar sua gratidão.
—Não deveria desanimar. — Sir Joseph coçou atrás da orelha esquerda de Lady Ophelia para tranquilizá-la —. Ficará aqui no campo, ajudando Roland no baile do acasalamento, enquanto eu vou a Londres.
Ali, sir Joseph tomaria parte em um baile similar. Dava graças a Deus pela caça. O fato de perseguir os cães rastreadores podia salvar um homem da loucura coletiva a que sucumbia a boa sociedade quando se aproximavam as festas, ao menos durante algumas semanas.
—Voltarei para o Natal, e possivelmente este ano Papai Noel me traga uma esposa para que eu também tenha meus próprios rebentos.
Bebeu outro pequeno gole da cigarreira, um muito pequeno. A menos que passasse horas montado a cavalo, caminhando pelos bosques com a presa da caçada nas costas, ou que se aproximasse uma tormenta de neve ou uma onda de frio, geralmente a perna não doía terrivelmente.
—Sinceramente, não sei como faz, querida. Dez leitões, duas vezes ao ano, durante tantos anos... ou ao menos desde que tenho o prazer de te conhecer.
Parecia que, nessa temporada a porca ainda não estava prenhe, e já tinha chegado o inverno. Isso era preocupante a um nível que um homem que ainda não estava bêbado não tinha intenções de considerar. A fecundidade de Ophelia lhe dava segurança respeito a uma ordem fundamental da vida; uma segurança mais substancial que a que lhe oferecia a cigarreira.
—Me dê alguns leitões, sua senhoria. — Passou a coçar a outra orelha e a amiga inclinou a cabeça —.Dê o tipo de bebês que posso vender no mercado e que me farão rico. Mais rico. O ideal seria uma ninhada de doze para o Natal.
O recorde era de onze e todos tinham sobrevivido. Isso foi dois anos antes, quando sir Joseph precisava desesperadamente um bom augúrio.
Um rapaz da cavalariça assobiou a ária Ele alimentará seu rebanho, com uma melodia natalina para avisar de que o cavalo estava preparado. O rapaz não ousaria interromper uma conversa particular entre sir Joseph e Lady Ophelia, principalmente quando podia dedicar-se a fazer estragos com as notas do pobre Händel.
—Já vou. Eleva uma prece por Reynard.
Com uma palmada e uma carícia final, deixou que a amiga porcina se reunisse com seus vizinhos.
A sir Joseph, as caçadas o recordavam o exército nos desfiles: todos com impressionantes trajes, boa cerveja e uma cordialidade alimentada em parte pelos nervos e o álcool. O objetivo do dia parecia ser virtuoso em ambos os casos e, entretanto, se tudo saísse tal como estava planejado, alguém que não pertencia à concorrência sucumbiria vítima de uma morte sangrenta.
Que esse alguém fosse uma raposa — um mero animal — e estivesse em uma desvantagem numérica tão evidente em relação aos trinta cães só parecia incomodar a sir Joseph. Inclusive no meio da grande alegria de uma caçada de dezembro, sabia que não podia compartilhar seu afeto pelo animal com nenhum outro ser humano.
—As atividades sociais prévias ao começo da temporada são um chateio enorme.
Lady Genevieve Windham não se incomodou em baixar a voz, coisa que surpreendeu a irmã Louisa. Na realidade, alguém deveria poder queixar-se tranquilamente com a própria irmã (Louisa tampouco gostava dessas atividades prévias), mas dado que estavam na parte de trás do terceiro grupo, alguém podia ouvi-las.
—Perdemos quase todas, menos as das últimas duas semanas — assinalou Louisa —. Graças a papai e a sua loucura pela caça.
—É como caçar Tetraz Grande
— disse Jenny, deixando que a égua se afastasse um pouco dos outros cavaleiros, encaminhando-se para a mesa do café da manhã —. Termina a Quaresma e começa a caça de marido, com as mães armadas e dispostas a cobrar uma moeda. Não sei quantos anos mais poderei suportar, Louisa.
—A pessoa acaba se acostumando.
Isso não era totalmente verdade, mas quando Jenny passava por aqueles incomuns momentos de desânimo era necessária uma mentira piedosa.
—Você leva um pouco mais de tempo que Evie e eu e não deveria me queixar contigo. Sinto muito, Lou.
Havia autêntico remorso no tom de Jenny, porque esta era boa e considerada, algo que Louisa fazia tempo que havia deixado de aspirar a ser. A irmã era loira e angelical, em contraste com o cabelo escuro dela; além disso, Jenny tinha um caráter bastante alegre. Em um momento de desespero, a duquesa, sua mãe, havia dito que as feições de Louisa eram «audazes».
E como eram.
No prado que havia algo mais abaixo, alguns cavaleiros chegavam pouco a pouco da caçada. Um conjunto de ondulantes plumas chamaram a atenção de Louisa: duas plumas de faisão, uma de pavão e outra de avestruz, que, esperava que a bendita ave jamais soubesse, tinham tingido... de rosa!