16 de novembro de 2014

Epitáfio para Três Mulheres

Saga dos Plantagenetas


Capítulo Um

O Escudeiro Galês
Quando o cunhado foi dizer a Katherine que o rei estava morto, ela não pôde acreditar. Henrique, não, não o poderoso conquistador do país dela, não o amante, marido e pai de seus filhos. Olhou fixo para o cunhado, incrédula, abanando a cabeça.
- Não! - bradou ela. - Não. Não pode ser.
John, o grande duque de Bedford, que amara muito o irmão Henrique e sempre declarara ser o seu mais caro desejo servi-lo com todas as suas forças, e que provara que aquilo era verdade, agora a olhava com olhos melancólicos.
- Os últimos pensamentos dele foram para você - disse ele. - "Console minha querida esposa", disse ele. "Hoje, ela será a criatura viva mais angustiada do mundo."
Katherine continuou a olhar para Bedford com olhos incrédulos.
Murmurou:- Ele estava um pouco doente... sim... Mas a morte...! Oh, não... isso, não - murmurou ela.
- Ele devia ter descansado. Insistiu em ir em auxílio da Borgonha.
A raiva surgiu nos olhos dela, abafando momentaneamente a dor. Toda a sua vida fora abafada pelo conflito entre Borgonha e Orléans. E uma vez mais, era a Borgonha.
- Você o conhecia tanto quanto eu - prosseguiu o duque.- Ele jamais descansava enquanto houvesse uma batalha a ser lutada.
- Inglaterra... França... meu filho... O que vamos fazer agora? - murmurou ela, com voz pausada.
O duque colocou as mãos nos ombros dela e, atraindo-a para ele, beijou-lhe delicadamente a testa.
- Caberá a Deus decidir - disse ele.
E porque sabia que não havia nada mais que pudesse fazer para consolá-la, chamou uma das damas de companhia de Katherine.
- Deixe-a com sua dor - disse ele. - Mas fique preparada. Será terrível quando ela perceber o que isso significa.
com que então o aparentemente invencível Harry, um nome cuja simples menção provocava o terror dos franceses, estava morto. Desde que subira ao trono, ele deixara para trás sua vida dissoluta e se dedicara a conquistar a coroa da França. 
Ele fora um homem alto, bonito, viril, ativo, mas delicado e justo em seu comportamento, exceto quando sua raiva era provocada. Nesses casos, os homens comparavam-no a um leão. Era um homem que se recusava a reconhecer o fracasso, e sempre, dali por diante, quando falassem nele, todos iriam pensar em Agincourt, aquela batalha famosa à qual ele liderara seus homens com todo o ânimo e a confiança de um conquistador, de modo que seu pequeno exército, exaurido pelas doenças, enfrentara a poderosa França e obtivera uma retumbante vitória. 
Tinha sido mais do que uma batalha vitoriosa, porque anunciara o fim da guerra que vinha durando desde a época em que Eduardo III decidira que tinha direito a reivindicar o trono da França.E justo quando o grande guerreiro estava prestes a aceitar os frutos de sua conquista, ele caíra de cama e morrera.
Katherine poderia perguntar: "E agora?"
Ela estava com vinte e um anos de idade. Não muito velha, mas era provável que uma infância cheia de desgraças a tivesse preparado de algum modo para isso.
No castelo de Windsor, na Inglaterra, um menino de nove meses vivia aos cuidados das amas, sob o controle do irmão de Henrique, Humphrey, duque de Gloucester. Aquele menininho
- Henrique, tal como o pai - era a criança mais importante da Inglaterra, porque com a morte súbita do pai ele se tornara rei da Inglaterra.
Agora que se acostumara com a realidade de que Henrique tinha morrido, uma calma tomou conta de Katherine. Seu cunhado John iria dizer-lhe o que fazer, e ela confiaria nele, como fizera Henrique.
Viajou de Senlis para o castelo de Vincennes, onde Henrique jazia, e quando olhou para o corpo do marido morto, a calma abandonou-a e, pela primeira vez desde que recebera a notícia, ela chorou. 
Era como se finalmente percebesse o que a morte de Henrique significava, e ficou desolada, com medo do futuro.
Muitas pessoas queriam falar com ela. O corpo dele tinha de ser levado de volta para a Inglaterra, diziam elas. Não deveria haver demora alguma. Mas o duque de Bedford dera ordens para que a vontade dela fosse respeitada sob todos os aspectos.
Ela disse que queria ficar sozinha, só durante uma hora... sozinha para pensar. Mandou que seu cavalo fosse selado; queria a solidão que só a floresta podia oferecer.
E assim selaram o cavalo, e ela se dirigiu para o Bois de Vincennes, enquanto a uma distância respeitosa os escudeiros do rei esperavam por ela. Quando desmontou, um dos escudeiros apressou-se a adiantar-se para segurar o cavalo. Katherine olhou para ele. Era jovem, mais ou menos da idade dela, alto, moreno, com um rosto que a interessou.
- Estou com vontade de descansar aqui um pouco - disse ela. A floresta é bela nesta época do ano. O senhor não acha?
- É mesmo, majestade - respondeu ele. Tinha um sotaque que ela achou difícil entender, mas na verdade não era tão proficiente em inglês quanto gostaria. Tornou a se lembrar de como Henrique rira da maneira como ela pronunciava certas palavras. "
Eu tenho de melhorar", dissera ela, recatada. "Não", bradara ele. "Eu gosto da sua maneira de falar, Kate. Não mude. Continue sendo a minha pequena Kate francesa."

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