16 de novembro de 2014

A Batalha das Rainhas

Saga dos Plantagenetas


Com a morte de João Sem Terra, os barões abandonam a causa de Luís de França para sustentar o jovem Henrique iII, Herdeiro legítimo à sucessão inglesa. 

Mas João, o Príncipe das Trevas, deixara na corte uma  representante à altura de sua maldade e dissimulação: Isabella de Angoulême, uma mulher capaz de rivalizar com a própria filha, antecipando-se a ela na conquista de Hugo, conde de Lusignan. 
Ao se casar com ele, Isabella conhece Blanche de Castela, esposa de Luís VIII. 
A Batalha das Rainhas conta a história dessas duas mulheres ambiciosas e de seu duelo constante pelo poder, ao mesmo tempo em que reconstitui um período difícil, mas promissor, no qual tem início a reestruturação política da Inglaterra.

Capítulo Um

Inglaterra, 1216-1223
A Morte de um Tirano
O Longo verão terminara. Da janela da torrinha, a rainha lançava o olhar desconsolado para além do fosso, para a floresta onde as bronzeadas folhas dos gigantescos  carvalhos e o cobre das faias espadanavam suas cores outonais pela paisagem. O nevoeiro pairava por sobre o charco onde a junca nascia espessa; apática, ela observou um casal de pegas, de um preto e branco vívidos contra o céu de outubro.
E pensou em Angouleme, onde, pelo que se lembrava, os dias haviam sempre parecido cheios de sol e os salões do castelo de seu pai habitados por belos trovadores cujo deleite era cantar os incomparáveis encanto e beleza de Lady Isabella. E aquilo era compreensível, pois não poderia ter havido nas cortes dos reis da Inglaterra e da França uma mulher cuja beleza pudesse se comparar à dela. 
Existem muitas mulheres bonitas, mas de vez em quando surge uma que possui não apenas encantos físicos
evidentes, mas uma qualidade indefinível, que parece indestrutível. Helena de Tróia era uma delas, e Isabella de Angouleme era outra.
Ela sorriu, pensando nisso. Era um pensamento reconfortante para uma prisioneira - e prisioneira ela era. O rei, seu marido, a odiava, e no entanto não podia resistir a ela, porque, uma vez dominado pelos seus encantos, jamais poderia escapar deles. Tampouco queria ela que o marido escapasse.
Onde estava ele, agora? Em dificuldades, em dificuldades muitíssimo sérias. Aquilo era inevitável. 
Nunca poderia ter havido um monarca tão tolo quanto o rei João. Muitos de seus súditos estavam revoltados contra ele, e tão odiado era ele, que os ingleses haviam convidado o filho do rei francês para que fosse usurpar a coroa. Em consequência, os franceses agora se achavam em solo inglês, e João estava perdendo a Inglaterra como perdera todas as possessões da coroa na França. 
Seus antepassados - o poderoso Guilherme, o Conquistador, e o primeiro Henrique, aquele Leão da Justiça, iriam amaldiçoá-lo; e o pai dele, o grande Henrique II, e sua mãe, Eleanor da Aquitânia, estariam de acordo pelo menos uma vez e teriam declarado que teria sido melhor se tivessem morrido antes de trazerem ao mundo uma criatura daquelas. João era libidinoso, cruel, fútil e insensato. Não possuía uma só qualidade que pudesse ser chamada de boa, e a partir do momento em que assumira a coroa caminhara diretamente para o desastre.
Talvez, pensou ela, eu devesse ter-me casado com Hugo. Não! O que quer que ele fosse, João era um rei, e Hugo jamais poderia ter feito dela uma rainha.
Ela sempre quisera poder e grandes honrarias, e parecera perfeitamente natural que a sua beleza lhe proporcionasse isso.
Como estava pensativa, hoje! Parecia haver algo de pressagioso no ar. Ela sentia. Mas seria fora do comum? Todos os dias, quando olhava de sua janela da torrinha, ficava com os olhos fixos no horizonte, à espera de ver um homem a cavalo. 
Poderia ser João, lembrando-se de sua existência e, talvez, dos primeiros anos de seu casamento, quando estivera tão enamorado dela que não saía da cama - não apenas durante a noite, mas também durante o dia -, para desprezo de seus barões, pois, embora soubessem que ele era um homem vigoroso e conhecessem sua trama depois de se ter encontrado por acaso com Isabella na floresta, a fim de levá-la para a cama, acreditavam que, na qualidade de rei, ele deveria ter-se lembrado de que tinha outros deveres que não o de engravidar a esposa e satisfazer seus vorazes apetites sexuais.
Ela sabia que aquelas recordações chegavam a João de repente e ele cavalgava até Gloucester, entrava como um furacão no quarto dela e a fazia lembrar que embora fosse sua prisioneira era sua esposa. 
Ele poderia tê-la amaldiçoado pelas suas infidelidades - embora esperasse que Isabella aceitasse as dele - e podia ter enforcado o amante dela no dossel de sua cama, de modo que ao acordar ela descobrira o corpo ali pendurado, mas sentia um forte desejo pela esposa, e ela não ficava contrariada de todo, porque seus apetites eram tão aguçados quanto os de João a esse respeito, e aquela paixão de ódio e desejo a divertia e intrigava.
Sua filha caçula, Eleanor, tinha sido concebida naquela prisão e nascera um ano atrás. Sentia-se grata por ter os filhos ao seu lado, mas nunca deveria deixar que ele soubesse disso, porque então poderia tentar privá-la da companhia deles.
 

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