16 de novembro de 2014

A Estrela de Lancaster

Saga dos Plantagenetas

Capítulo Um

Um Encontro na Floresta
Os muros do convento erguiam-se serenos e belos em meio à verde campina. Perto dali estavam os muros cinzentos do castelo de Pleshy, moradia da garotinha que estava sentada à mesa, com o livro de estudo aberto à sua frente. 
Como era silencioso no convento, estava ela pensando. Havia, ali, uma tranquilidade que ela achava muito reconfortante, ainda mais porque ela passara a perceber um certo tumulto no castelo.
Mary sempre tivera um pouco de respeito temeroso por Eleanor, sua irmã mais velha, e talvez mais ainda por Thomas, marido de Eleanor. Ele era um homem muito importante, claro; e Eleanor tinha orgulho de ser sua esposa. Ela estava constantemente lembrando à sua irmãzinha que os filhos dela seriam de sangue real, porque Thomas era filho do rei.
Era verdade. Thomas de Woodstock, como as pessoas o chamavam por causa do lugar onde ele nascera, era na verdade conde de Buckingham e filho caçula do rei Eduardo e da rainha Filipa. Mary se lembrava de quando ele e Eleanor se casaram. 
Seu pai era vivo, então, e houvera muita alegria no castelo, porque se tratava de um brilhante casamento para os de Bohun, muito embora Humphrey de Bohun fosse um homem muito rico, possuindo, além do castelo de Pleshy, os de Monmouth e Leicester e uma mansão na cidade de Londres; e, embora tivesse sido devido à sua imensa fortuna que o casamento fora aprovado pela família real, os de Bohun tinham ficado perfeitamente cientes da honra que lhes fora concedida.
Depois, tudo mudara porque seu pai - Humphrey de Bohun, para dar o nome completo - morrera e sua vasta fortuna seria dividida entre as duas filhas, pois não havia herdeiro homem. 
Assim, Eleanor, mulher do Thomas de sangue real, e Mary, de dez anos de idade, tornaram-se as herdeiras mais ricas da Inglaterra.
Eleanor estava encantada com isso; Thomas também; Mary estava perplexa com a agitação deles. Que diferença fazia para elas?, perguntava-se ela. Tinham sido ricas antes. O que mais poderiam querer?
Quando ela perguntava isso, Eleanor lhe dizia, com rispidez, que não fosse ingénua, e ela ficava desanimada, porque sempre fora muito cônscia da condição de mais velha de Eleanor. 
Eleanor sempre a fizera ciente disso, mesmo antes da morte do pai. Ela era muito mais velha, salientava Eleanor, e Mary não passava de uma criança. Mary devia fazer o que lhe mandassem as pessoas que tinham maior experiência, e isso, naturalmente, significava uma irmã mais velha.
Remoendo, agora, sobre aquela época enquanto ficava sentada dentro dos pacíficos muros do convento, os livros esquecidos à sua frente, ela pensava em tudo o que acontecera desde a morte do pai e na atitude de Eleanor e seu marido para com ela. Era como se estivessem planejando alguma coisa.
O pensamento fazia com que ela se sentisse ligeiramente aflita, e mais do que nunca ela percebia como era agradável estar num convento entre as delicadas freiras. 
Dali a pouco, uma delas daria uma olhada em seu trabalho. Se estivesse bom, pouco se comentaria, porque ficava implícito que se esperava que estivesse; se tivesse sido feito com falta de cuidado ou revelasse ignorância das matérias escolhidas, haveria uma suave reprimenda, que, por estranho que parecesse, a magoava mais do que a raiva e o desprezo.
Mary gostava das freiras; gostava do convento; a atmosfera a fascinava. A abadessa dissera-lhe que as Claras Pobres viviam apenas para servir. Elas se deslocavam pelo convento como cinzentos fantasmas silenciosos, porque se quisessem falar umas com as outras, primeiro tinham de receber permissão da abadessa. 

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