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16 de novembro de 2014

Prelúdio de Sangue

Saga dos Plantagenetas


A ascensão de Henrique II ao trono inglês marcou o alvorecer da era Plantageneta. 

Prelúdio de Sangue reconstitui a trajetória do monarca: sua coroação, o assassinato do arcebispo de Canterbury Thomas Becket e o conflituoso casamento com Eleanor de Aquitânia que, ferida e humilhada por Henrique, planta no coração dos filhos a semente da vingança...

Capítulo Um

Duquesa e Rainha
De uma janela do castelo de L Ombrière, o duque de Aquitânia olhava o que se passava embaixo no roseiral sombreado. Era uma cena que o deixava encantado. Suas duas filhas - ambas jovens encantadoras, embora a mais velha das duas, Eleonore, sobrepujasse, em beleza, a irmã Petronelle - estavam cercadas por membros da corte, rapazes e moças, decorativos e elegantes, ouvindo naquele momento o menestrel que cantava sua canção de amor.
Os olhos do duque pousaram em Eleonore, pois ela estava ao centro do grupo. Uma certa qualidade fazia com que ela se destacasse dos demais. 
Não era só a beleza, nem tampouco a sua posição social. Era, afinal de contas, a herdeira de Aquitânia até que o duque gerasse um filho homem e, como ele era viúvo, teria que agir depressa se quisesse fazer aquilo porque, embora tivesse apenas 38 anos, já perdera duas esposas, e o único resultado daqueles dois casamentos eram suas duas filhas, Eleonore e Petronelle. Eleonore era alta e bonita; havia algo nela de imponência; tinha o aspecto de uma pessoa nascida para governar. Havia também sensualidade. 
O duque suspirou, pensando no pai, cuja vida tinha sido dominada pela devoção ao sexo oposto, e imaginando se sua atraente filha não iria sair ao avô sob aquele aspecto.
Ela estava com quatorze anos de idade, e Petronelle era três anos mais moça. No entanto, havia nas duas, mesmo na pequena Petronelle, um ar de amadurecimento. Quanto a Eleonore, estava pronta para o casamento. E se qualquer coisa acontecesse a ele antes de que o evento tivesse lugar, quem iria protegê-la? O duque a imaginou em um roseiral só seu, cercada por seus menestréis e pelas damas de sua corte; e um pretendente entrando no castelo a cavalo. 
Para atraí-lo, haveria não apenas as imensas terras e fortuna de Eleonore, mas também a fascinante Eleonore. E se ela se recusasse a se casar? Ele conhecia os hábitos da época. A bela donzela seria raptada, mantida prisioneira, deflorada se não cedesse de boa vontade, e colocada numa posição tal que a família ficaria ansiosa por casá-la com o seu estuprador.
Era difícil imaginar um destino daqueles para Eleonore. No entanto, até ela poderia ser obrigada a submeter-se.
O duque agradeceu a Deus o fato de as coisas não terem chegado àquele ponto. Ali estava ele, um homem de 38 anos, com duas filhas atraentes. Precisava casar-se e gerar um filho homem. No entanto, e se se casasse e não houvesse filho algum? Como era frequente não surgirem herdeiros! 
Por que lhe haviam sido dadas apenas filhas? Como era costume entre os homens de sua época, ele se perguntava se Deus não o estaria punindo pelos seus pecados ou, talvez, pelos pecados de seus antepassados.
Seu pai fora um dos mais famosos pecadores de sua época. As mulheres tinham sido a sua derrocada. Abandonara a mulher e instalara a amante com grande pompa, chegando até a mandar gravar uma imagem dela em seu escudo. Guilherme, o nono duque de Aquitânia, não dera importância para as convenções e, embora o maior motivo de sua vida tivesse sido correr atrás das mulheres, isso era uma qualidade - ou defeito, dependendo do ângulo de observação
- bastante comum, e ele ficou mais conhecido pelo amor à poesia e às canções. O estado ideal do duque fora ficar deitado com a amante do momento e ouvir o dedilhar da harpa e as canções, que com frequência eram de sua autoria, cantadas pelos seus menestréis. 
Ele era chamado de o Pai dos Trovadores, e Eleonore herdara o seu talento nessa parte; ela escrevia um poema, musicava-o, tocava-o e atraía para si os melhores intérpretes do ducado. 
O que mais ela herdara do avô? Percebendo a expressão naqueles grandes olhos lânguidos ao pousarem em vários cavalheiros bem-apessoados, o duque refletia.










Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

O Crepúsculo da Águia

Saga dos Plantagenetas





Reatadas suas relações com a Igreja, após o episódio que envolveu o assassinato do arcebispo Thomas Becket, Henrique Plantageneta vive o período mais próspero de seu reinado, mas o ressentimento dos filhos e a revolta de Eleanor de Aquitânia após a descoberta de um grave segredo de seu passado o oprimem e produzem sobre o cenário político um efeito maléfico.
O Crepúsculo da Águia é a trajetória final do rei Henrique II, uma velha águia ameaçada pelos filhotes e golpeada, enfim, por aquele em quem depositara suas últimas esperanças.

Capítulo Um

Era o primeiro diado ano de 1171, e no castelo de Argentan celebrava-se o término do ano velho e davam-se as boas-vindas ao ano novo. O rei estava animado, antegozando
com satisfação sua volta à Inglaterra e seu reencontro com a amante, Rosamund Clifford. Já que sua mulher, a rainha Eleanor, ficara sabendo da existência dela, não havia mais necessidade de manter oculta a ligação. Não que ele, rei da Inglaterra, duque da Normandia e do resto tivesse medo da mulher, embora ela fosse capaz de provocar um escândalo tremendo. 
Sua preocupação era de que Eleanor fizesse alguma vingança contra Rosamund antes que ele pudesse agir para impedi-la. Eleanor deveria saber que ele era o senhor, mas esta era uma conclusão que ela vinha evitando nos 19 anos do casamento dos dois.
Ainda assim, o rei achava que a união deles não tinha sido de todo insatisfatória. Eleanor lhe dera quatro filhos e três filhas uma boa marca - e não era só isso: as ricas terras da Aquitânia, que ela havia levado para o casamento, haviam aumentado seus domínios e tornado o rei da Inglaterra o homem mais poderoso da Europa.
O rei tinha muito por que congratular-se consigo mesmo. Levara de volta para a Inglaterra aquela justiça que o país perdera sob o reinado do fraco Estêvão; conseguira manter suas possessões ultramarinas; arranjara com habilidade o casamento dos filhos - de todos, à exceção de Joana, que estava com seis anos de idade, e de João, que tinha cinco - de modo a tirar das uniões o máximo de vantagem, e de fato era temido e respeitado em todo o seu reino - e em outros.
Embora naquele dia de Ano-Novo estivesse se sentindo benevolente, todos sabiam que o seu mau génio poderia ser despertado a qualquer momento. Então, a pele rosada tornar-se-ia rubra e os olhos ficariam ameaçadores, as narinas se alargariam até que ele ficasse parecendo o leão ao qual tanto o comparavam. O rei jamais conseguira controlar aquele mau génio, e tampouco via qualquer motivo para que devesse fazê-lo. Quando se zangava, queria que todos soubessem. Seus ataques de raiva eram terríveis. Ele perdia todo o controle de seus atos e descarregava a fúria sobre quaisquer objetos inanimados que estivessem ao seu alcance, muitas vezes causando danos a ele próprio. Dizem que rolava no chão e mordia os juncos em ocasiões assim.
- Qualquer dia, quando der um de seus acessos, vai causar danos irreparáveis a si próprio - comentara Eleanor.
Ele se lembrava do brilho no olhar dela, e na ocasião exclamara: - Imagino, senhora, que se eu o fizesse, isso não iria desagradá-la. 
Ela não negara. Sempre fora desafiadora, nunca mostrando medo dele, sempre lembrando-lhe que, embora ele pudesse ser o rei da Inglaterra, ela era a duquesa de Aquitânia.
O rei tinha dúvidas de que ela fosse sentir se ele morresse. Na verdade, o fato deveria até deixá-la satisfeita. Eles tinham um filho para segui-lo no trono. 
O jovem Henrique, já coroado rei, bonito, com todo o encanto imaginável, já vinculando homens a ele pela simples atração de sua personalidade. Era insensato coroar um filho rei enquanto o pai ainda estivesse vivo. Becket se mostrara contra.
- Ah, senhor arcebispo - murmurara Henrique -, terá sido porque não foi o senhor que realizou a cerimônia?









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

O Coração do Leão

Saga dos Plantagenetas
Após a morte de Henrique II, Ricardo assume a Coroa jurando recuperar Jerusalém para o mundo cristão.

Suas campanhas na Sicília, a conquista de Chipre e as vitórias na Terra Santa lhe conferiram fama, mas permitiram que o traiçoeiro príncipe João usurpasse o trono durante sua ausência.
O Coração do Leão revela a natureza deste destemido e romântico monarca, cercado pelo astuto rei Filipe da França, a amargurada rainha Berengária, a amorosa irmã Joana, o rival sultão Saladino e a idosa Eleanor de Aquitânia. O caráter aventureiro de Ricardo levou ao enfraquecimento da instituição monárquica na Inglaterra, abrindo caminho para a crise que seria desencadeada no reinado seguinte.

Capítulo Um

Um Rei É Coroado
A Rainha, depois de dispensar todas as suas amas, ficou sentada sozinha na câmara do rei no palácio de Winchester. O rei morrera, e com a sua morte chegara a libertação do cativeiro no qual ele a mantivera durante muitos anos. Ela estava com 67 anos - uma idade na qual a maioria das pessoas teria se contentado em afastar-se da vida, talvez entrar para um convento onde, se tivesse levado a vida que ela levara, poderia achar conveniente passar os anos que lhe restavam fazendo penitência. Eleanor de Aquitânia, viúva do recémfalecido Henrique Plantageneta, não.
Ela estudou os murais. Tinha sido ideia do rei falecido mandar pintar as paredes de seus palácios com alegorias que representassem sua vida, e aquela era a sala das aguietas. Eleanor se lembrou de uma ocasião em que ele e ela tinham estado juntos naquela sala.
Devia ter sido durante um dos períodos em que houvera uma diminuição do antagonismo que um tinha pelo outro, pois essas ocasiões tinham existido. Uma delas fora na época da morte do filho mais velho, quando a tristeza os reunira - apenas por um curto período. Ela nunca perdoara Henrique por suas infidelidades; ele nunca a perdoara por ter voltado os filhos contra ele. E ali estavam os filhos representados pelas aguietas à espera de matarem o pai de bicadas. Que amargura ele sentira quando as mostrara!
- Seu justo castigo - disse Eleanor, em voz alta. - Seu velho devasso! Espera que eu tenha medo de você, agora que está morto? Falando nisso, quando foi que tive medo de você... ou de qualquer outra pessoa?
Era morbidez de Eleanor ir àquela sala, até mesmo pensar nele; no entanto, como evitar? Ele fora o homem mais importante de sua vida, e tinham sido muitos.
Fora um grande rei, isso ela reconhecia. Se tivesse podido dominar a devassidão, se tivesse compreendido como tratar os filhos, talvez tivesse mantido a devoção da família.Mas ele estava morto e ela precisava esquecê-lo.
Ela nunca fora uma pessoa de olhar para trás, e havia trabalho a fazer. Eleanor gostara de todos os filhos, mas Ricardo sempre fora o favorito. Havia entre eles um elo muito forte, que ela não sentia com nenhum dos outros - nem mesmo com a jovem Joana, a mais nova das filhas. E Ricardo era, agora, o rei da Inglaterra, embora o pai tivesse feito o possível para evitar que ele herdasse a coroa.
Henrique queria dá-la a João. Teria ele percebido, em seus últimos momentos de vida, como tinha sido um tolo ao idolatrar João? Como homens espertos podiam ser estúpidos, às vezes, quando embriagados pelas emoções! No fundo do coração, ele devia ter sabido que João era um traidor, e no entanto recusara-se teimosamente a aceitar a verdade.
João o traíra como Ricardo nunca fizera, porque pelo menos Ricardo tinha sido sincero em sua condenação do pai, enquanto que João o bajulara, elogiando-o enquanto o tempo todo tramava contra ele.
Henrique sabia, é claro, apesar de enganar a si próprio. O que dissera ele a Eleanor quando os dois tinham estado naquela sala?
- As quatro aguietas são meus filhos, que irão me perseguir até eu morrer. O mais novo, meu favorito, será o que mais irá me ferir. Está esperando pelo momento de me arrancar os olhos com o bico.
- Oh, Henrique - disse ela, baixinho -, que tipo de tolo era você?









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

O Príncipe das Trevas

Saga dos Plantagenetas

A ascensão de João Sem Terra ao trono inglês, após a morte de Ricardo Coração de Leão, desencadeou uma das piores crises da história da Inglaterra. 

O Príncipe das Trevas reconstitui os turbulentos anos de seu reinado, da coroação ao casamento com Isabella de Angoulême, provocando o rompimento das relações com a França e abrindo caminho à rebelião declarada dos barões, que o pressionaram a assinar a Magna Carta. 
Excomungado por Inocêncio iII, João instituiu a injustiça e a crueldade, levando o povo a ansiar pelo fim da era de trevas.

Capítulo Um

A Morte de um Rei
Em um tranquilo cômodo do château de Vandreuil, Guilherme Marechal, o mais respeitado de todos os cavaleiros do rei, cochilava prazerosamente depois de um excelente jantar de carne de veado assada. Entre acordado e dormindo, ele pensava na situação favorável vigente, agora que o rei retornara da Terra Santa e estava trazendo a lei e a ordem de volta aos seus domínios. 
A Inglaterra já estava em paz, e Ricardo recuperara grande parte das terras que Filipe Augusto, rei da França, aproveitando-se do fato de Ricardo estar longe, tomara dele na Normandia.
Guilherme Marechal, conhecido em sua juventude como o melhor cavaleiro de sua época, famoso pela integridade e como homem que não tinha medo de ofender o rei, mesmo que isso pudesse significar risco de vida - e, portanto, idolatrado por reis inteligentes como Ricardo e o pai de Ricardo antes dele -, estava, agora, na metade da casa dos cinquenta, mas ainda forte e com o peso da experiência em que se apoiar; parecia ter ganho, e não perdido, com o passar dos anos.
Ele deplorara a ausência do rei do país porque, embora aceitasse o fato de que Ricardo fizera um juramento de devolver Jerusalém à cristandade, acreditara que o primeiro dever de um rei era para com o seu reino; fora contra a excessiva tributação que tivera de ser cobrada a fim de levantar dinheiro para a cruzada, mas se mostrara incansável na arrecadação dos recursos necessários para o resgate do rei quando se descobrira
que Ricardo estava em mãos inimigas no castelo de Diirenstein.
Agora, a tentativa do irmão, João, de tirar a coroa dele durante a sua ausência tinha sido frustrada, e Ricardo voltara ao seu povo. Na opinião de Guilherme, as perspectivas eram muito boas... ou tão boas quanto podiam ser, considerando-se a vulnerabilidade do ducado da Normandia situado, como era, exatamente na fronteira do território francês.
Isabella, mulher de Guilherme, entrou na sala e olhou para ele com afeição. Era uma boa esposa, e ele se casara com ela quando Ricardo subira ao trono. Ela lhe trouxera não apenas belos filhos homens, mas riqueza, pois seu pai fora Ricardo de Clare, conde de Pembroke e Striguel, e embora o rei ainda não tivesse confirmado Guilherme na "plena paz e no título de conde", ele tinha a posse do condado e aquela cerimônia seria realizada no momento oportuno. 
Antes do casamento, ele fora conhecido como "o cavaleiro sem terras"









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10- Passagem para Pontefract
11- A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

A Batalha das Rainhas

Saga dos Plantagenetas


Com a morte de João Sem Terra, os barões abandonam a causa de Luís de França para sustentar o jovem Henrique iII, Herdeiro legítimo à sucessão inglesa. 

Mas João, o Príncipe das Trevas, deixara na corte uma  representante à altura de sua maldade e dissimulação: Isabella de Angoulême, uma mulher capaz de rivalizar com a própria filha, antecipando-se a ela na conquista de Hugo, conde de Lusignan. 
Ao se casar com ele, Isabella conhece Blanche de Castela, esposa de Luís VIII. 
A Batalha das Rainhas conta a história dessas duas mulheres ambiciosas e de seu duelo constante pelo poder, ao mesmo tempo em que reconstitui um período difícil, mas promissor, no qual tem início a reestruturação política da Inglaterra.

Capítulo Um

Inglaterra, 1216-1223
A Morte de um Tirano
O Longo verão terminara. Da janela da torrinha, a rainha lançava o olhar desconsolado para além do fosso, para a floresta onde as bronzeadas folhas dos gigantescos  carvalhos e o cobre das faias espadanavam suas cores outonais pela paisagem. O nevoeiro pairava por sobre o charco onde a junca nascia espessa; apática, ela observou um casal de pegas, de um preto e branco vívidos contra o céu de outubro.
E pensou em Angouleme, onde, pelo que se lembrava, os dias haviam sempre parecido cheios de sol e os salões do castelo de seu pai habitados por belos trovadores cujo deleite era cantar os incomparáveis encanto e beleza de Lady Isabella. E aquilo era compreensível, pois não poderia ter havido nas cortes dos reis da Inglaterra e da França uma mulher cuja beleza pudesse se comparar à dela. 
Existem muitas mulheres bonitas, mas de vez em quando surge uma que possui não apenas encantos físicos
evidentes, mas uma qualidade indefinível, que parece indestrutível. Helena de Tróia era uma delas, e Isabella de Angouleme era outra.
Ela sorriu, pensando nisso. Era um pensamento reconfortante para uma prisioneira - e prisioneira ela era. O rei, seu marido, a odiava, e no entanto não podia resistir a ela, porque, uma vez dominado pelos seus encantos, jamais poderia escapar deles. Tampouco queria ela que o marido escapasse.
Onde estava ele, agora? Em dificuldades, em dificuldades muitíssimo sérias. Aquilo era inevitável. 
Nunca poderia ter havido um monarca tão tolo quanto o rei João. Muitos de seus súditos estavam revoltados contra ele, e tão odiado era ele, que os ingleses haviam convidado o filho do rei francês para que fosse usurpar a coroa. Em consequência, os franceses agora se achavam em solo inglês, e João estava perdendo a Inglaterra como perdera todas as possessões da coroa na França. 
Seus antepassados - o poderoso Guilherme, o Conquistador, e o primeiro Henrique, aquele Leão da Justiça, iriam amaldiçoá-lo; e o pai dele, o grande Henrique II, e sua mãe, Eleanor da Aquitânia, estariam de acordo pelo menos uma vez e teriam declarado que teria sido melhor se tivessem morrido antes de trazerem ao mundo uma criatura daquelas. João era libidinoso, cruel, fútil e insensato. Não possuía uma só qualidade que pudesse ser chamada de boa, e a partir do momento em que assumira a coroa caminhara diretamente para o desastre.
Talvez, pensou ela, eu devesse ter-me casado com Hugo. Não! O que quer que ele fosse, João era um rei, e Hugo jamais poderia ter feito dela uma rainha.
Ela sempre quisera poder e grandes honrarias, e parecera perfeitamente natural que a sua beleza lhe proporcionasse isso.
Como estava pensativa, hoje! Parecia haver algo de pressagioso no ar. Ela sentia. Mas seria fora do comum? Todos os dias, quando olhava de sua janela da torrinha, ficava com os olhos fixos no horizonte, à espera de ver um homem a cavalo. 
Poderia ser João, lembrando-se de sua existência e, talvez, dos primeiros anos de seu casamento, quando estivera tão enamorado dela que não saía da cama - não apenas durante a noite, mas também durante o dia -, para desprezo de seus barões, pois, embora soubessem que ele era um homem vigoroso e conhecessem sua trama depois de se ter encontrado por acaso com Isabella na floresta, a fim de levá-la para a cama, acreditavam que, na qualidade de rei, ele deveria ter-se lembrado de que tinha outros deveres que não o de engravidar a esposa e satisfazer seus vorazes apetites sexuais.
Ela sabia que aquelas recordações chegavam a João de repente e ele cavalgava até Gloucester, entrava como um furacão no quarto dela e a fazia lembrar que embora fosse sua prisioneira era sua esposa. 
Ele poderia tê-la amaldiçoado pelas suas infidelidades - embora esperasse que Isabella aceitasse as dele - e podia ter enforcado o amante dela no dossel de sua cama, de modo que ao acordar ela descobrira o corpo ali pendurado, mas sentia um forte desejo pela esposa, e ela não ficava contrariada de todo, porque seus apetites eram tão aguçados quanto os de João a esse respeito, e aquela paixão de ódio e desejo a divertia e intrigava.
Sua filha caçula, Eleanor, tinha sido concebida naquela prisão e nascera um ano atrás. Sentia-se grata por ter os filhos ao seu lado, mas nunca deveria deixar que ele soubesse disso, porque então poderia tentar privá-la da companhia deles.
 

A Rainha de Provence

Saga dos Plantagenetas

Henrique III atingira a maioridade, mas se revelara um homem fraco, sem capacidade de comando. 

À sombra de Eleanor-a moça que viera de Provence para se tornar rainha da Inglaterra-, o rei passa a cometer abusos na cobrança de impostos e não consegue conter a revolta dos barões,liderados por Simon de Monfort. 
A Rainha de Provence reconstitui este período turbulento, mas de grande fertilidade artística, em que todas as vozes clamavam unânimes por um verdadeiro chefe de Estado, que, no entanto, só apareceria no reinado seguinte.

Capítulo Um

À Procura de um Marido
Enquanto Raymond Berenger, conde de Provence, e seu amigo, confidente e conselheiro principal, Romeo, lorde de Villeneuve, caminhavam juntos nos luxuriantes jardins verdes que cercavam o castelo de Lês Baux, os dois falavam sobre o futuro.
Raymond Berenger tivera uma vida feliz; sua bela mulher era tão talentosa quanto ele. Juntos, os dois haviam transformado sua corte numa das mais interessantes de toda a França, do o ponto de vista intelectual, e por isso poetas, trovadores e artistas seguiam para Provence, certos de serem bem recebidos e apreciados. 
Era realmente uma vida agradável, e o conde e a condessa desejavam que durasse para sempre. Não eram tolos a ponto de acharem que pudesse durar. Mas nenhum paraíso terrestre podia ser inteiramente perfeito, e embora durante a vida de casados tivessem rezado fervorosamente por um filho homem que fosse governar a Provence ao lado do pai durante muitos anos e depois preservasse aquele ambiente de graciosa tranquilidade e luxuoso conforto, só tinham tido filhas.
Mesmo isso eles não podiam lamentar de todo, pois adoravam as filhas e confessavam que não teriam trocado uma única pelo filho que haviam pedido com tanta veemência. Em que lugar do mundo, perguntava Raymond Berenger à sua condessa, era possível achar moças que fossem tão bonitas e talentosas quanto as deles? E a resposta era: em parte alguma.
As meninas estavam crescendo, e as decisões que teriam de ser tomadas eram os assuntos da conversa entre o conde e Romeo de Villeneuve.
Marguerite, a mais velha da família, estava com quase treze anos de idade. Uma criança, dizia a condessa, mas sabia que fora de seu círculo familiar Marguerite seria considerada casadoura. A procura por um marido adequado não poderia ser adiada por muito mais tempo; além do mais, era preciso pensar nas outras.
- Confesso, Romeo - estava dizendo o conde -, que esses problemas me causam muita preocupação.
- Tenho certeza de que encontraremos uma solução, como temos encontrado para tantos dos nossos problemas - respondeu Romeo.
- Muitas vezes tenho depositado minha confiança em você, Romeo - disse o conde com um suspiro -, e você nunca me decepcionou. Mas como vamos encontrar maridos para as filhas de um conde que ficou pobre, quando elas têm pouco a oferecer, exceto a graça, o charme e a beleza?
- E o talento, senhor conde. Não nos esqueçamos de que elas o possuem em abundância muito maior do que a maioria das meninas cujos pais estão à procura de maridos para elas.
- Você está tentando me animar. Eu adoro minhas filhas. Elas são bonitas e inteligentes. Mas ouro, prata e ricas terras são considerados mais interessantes do que encanto e instrução.
- A Provence não é tão insignificante a ponto de os reis da França e da Inglaterra não nos quererem como amigos.
- Os reis da França e da Inglaterra! - bradou o conde. Você deve estar brincando!










Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

Eduardo I

Saga dos Plantagenetas




A ascensão de Eduardo I ao trono da Inglaterra restaurou a autoridade real e as finanças, abaladas durante o reinado de seu pai, Henrique III. 

Dotado de extraordinário vigor físico, que lhe valeu o apelido de Pernas longas, Eduardo deixou a marca de sua personalidade num período em que a Inglaterra atingiu o auge da prosperidade.
No Sétimo Livro da Saga dos Plantagenetas, Jean Plaidy reconstitui a trajetória deste notável estadista, da coroação ao segundo casamento com a irmã do rei de França, e a luta para alcançar a unidade britânica através da conquista da scócia e do País de Gales. 
Seu único ponto de fragilidade era a constante preocupação com os filhos, especialmente com o jovem Eduardo - a quem, no futuro, deveria entregar a Coroa...

Capítulo Um

O Rei Volta para Casa
Embora o Rei tivesse morrido fazia mais de um ano, a rainha ainda lamentava a sua perda. Em algum lugar além-mar estava seu filho, o novo rei, que agora precisava voltar para reivindicar a coroa. A rainha, que durante tanto tempo governara o marido e, portanto, a corte, ficara prostrada de dor. 
Ela não pensava em outra coisa, a não ser em que ele se fora para sempre - aquele seu querido e bondoso marido que a adorara a partir do dia em que ela lhe fora apresentada como sua noiva.
Muitas vezes ela sorria ao lembrar o quanto ele regateara, quando o casamento dos dois fora negociado, sobre a insignificância do seu dote, e que chegara um momento em que parecera que, devido à pobreza do pai dela, não haveria casamento. No entanto, assim que ele a vira, aquele pagamento deixara de ter qualquer importância, e a partir daquele momento e durante a vida toda ele não fizera segredo do fato de se considerar o mais feliz dos monarcas por ter conseguido como esposa aquela filha sem dote de um conde pobre. 
Fora amor à primeira vista, e continuara pela vida toda. Ela o dominara, e isso criara uma bem-aventurança matrimonial num grau raramente experimentado em famílias reais. O fato de ela ter tentado governar a Inglaterra ao mesmo tempo provocara resultados menos felizes.
E agora o rei estava morto, e ela estava sozinha naquele suntuoso leito real no palácio de Westminster naquele esplêndido quarto que deixava maravilhados todos os que o viam. O rei fora o responsável por aquela beleza. Henrique adorara arte, literatura, música e arquitetura. 
Muitas vezes dissera que gostaria de fugir das atribulações da monarquia e passar a fazer aquilo em que se sobressaísse. Alguns dos barões tinham trocado olhares dissimulados naquelas ocasiões, dando a entender que teria sido um bem para o país se ele tivesse feito isso. 
Os barões sabiam ser insolentes. Eles tinham exercido um poder grande demais desde que o pai de Henrique, João, fora forçado a apor sua assinatura àquele documento chamado de Magna Carta, que lançara uma sombra sobre a vida de seus descendentes.
Ela gostava de ficar deitada na cama e correr os olhos por aquele quarto e lembrar-se de que os dois o tinham planejado juntos. Os murais eram requintados. Henrique fora um homem profundamente religioso e ordenara que se pintassem anjos no teto. "Podia-se deitar na cama e pensar que se estava no céu", dissera ela. E, sempreo amante ardente, Henrique respondera que quando a rainha estava ao seu lado, ele se sentia no céu.
- Oh, Deus - disse ela, em voz alta -, por que o Senhor o levaste? Nós ainda poderíamos ter muitos anos juntos.
Lembrava-se de que muitas vezes os dois iam observar os empregados. "Isso tem que ficar pronto antes de o verão terminar", dissera Henrique. "Se vocês contratarem mil empregados por dia, eu acabo." "O custo, majestade...", queixaram-se eles. Como Henrique ficava impaciente com aquela lamúria sobre dinheiro!









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

As Loucuras do Rei

Saga dos Plantagenetas

A morte de Eduardo I trouxe de volta a incerteza e a instabilidade à Inglaterra. Ao herdar a Coroa, Eduardo II cuidou para que fosse providenciada a volta de Piers Gaveston, cavaleiro gascão banido do reino por seu pai.

A ligação íntima entre eles e a ascendência cada vez maior de Gaveston sobre o rei acabou despertando a revolta não só dos barões mas também da rainha Isabella, que, humilhada, assumiu as rédeas do movimento que levaria à queda definitiva do monarca. 
No oitavo livro da vitoriosa Saga dos Plantagenetas, Jean Plaidy reconstitui a vida e a trajetória deste homem de caráter duvidoso e extremamente influenciável, cujo governo foi marcado pela turbulência política e por uma série de loucuras que culminariam num dos mais trágicos acontecimentos da história inglesa.

Capítulo Um

Querido Perrot
O Velho Rei estava morrendo. Ali, na pequena aldeia de Burgh-onSands, onde se encontrava num ponto em que podia ver o Solway Firth, do outro lado do qual ficava o país que planejara conquistar, ele chegara ao fim de uma longa vida de realizações e triunfos. Tirara seu país do fosso do desastre ao qual o mau governo de um avô demoníaco e de um pai fraco o levara e tornara a Inglaterra, de novo, um país orgulhoso. Seus ancestrais, cujo principal era aquele grande Guilherme que ficara conhecido como o Conquistador, deviam estar orgulhosos dele.
Mas Deus achara melhor levá-lo antes que sua obra estivesse completa. Ele fizera muita coisa, mas não o suficiente. Sabia que tinha sido inspirado e que iria tornar-se uma lenda. Seus inimigos encolhiam-se diante dele, e sempre que Eduardo entrara numa batalha, aquela aura de invencibilidade entrara com ele.
- Depois que eu morrer-disse ao filho -, mande colocar meus ossos numa rede e levá-los à frente do exército, para que o inimigo saiba que estou lá em espírito.
O jovem Eduardo estava prestando pouca atenção. Havia um só pensamento que ocupava a sua mente.
Perrot!, pensava ele. Meu adorado, meu querido, meu incomparável Perrot, depois que o velho morrer, o primeiro ato de meu reinado será trazer você de volta para mim.
Ele estava vagamente ciente de que o pai continuava balbuciando sobre enviar seu coração à Terra Santa com cem cavaleiros, que deveriam servir por lá durante um ano, e estava se perguntando quando poderia enviar um mensageiro. 
Perrot estaria à espera. Há muito tempo que parecia que o rei estava à beira da morte. Ele vivera, na verdade, 68 anos, um tempo considerado muito longo. Mas Eduardo sempre parecera diferente dos outros homens. Alguns de seus súditos acreditavam que ele era imortal, e parecia que ele mesmo pensava assim... até agora.
O velho era fantástico. Sempre tivera o dom de ler o pensamento dos que o cercavam. Mesmo ali deitado, com a morte ao lado, quando deveria estar pensando em enfrentar o Criador, ele lançou ao filho um olhar astuto e disse:
- Nunca chame Piers Gaveston de volta sem o consentimento da nação.
Fantástico! Sim, como se soubesse que o jovem alto e bonito que estava ao seu lado - ele próprio já fora muito parecido com aquele jovem, mas apenas no que dizia respeito à aparência - não estava pensando no pai moribundo, mas no seu querido amigo Piers Gaveston, o seu Perrot.
- Sim, papai - disse ele, tímido, pois não via justificativa em discutir um assunto que decidira que seria o seu primeiro ato ao adquirir a autoridade. De qualquer modo, o velho não teria como impedir aquilo depois de morto.
Enquanto ficava ao lado do leito de morte, ele sabia que o pai não confiava nele nem no futuro do país e, no entanto, tudo o que o jovem Eduardo podia pensar era: "dentro em breve, meu querido Perrot, você virá para o meu lado".E então o fim ficou muito próximo. O velho rei reclinou-se para trás, murmurando sua fé em Deus - e pouco depois estava morto.
Agora, os homens olhavam para o jovem rei com aquele respeito temeroso que mostravam para com a coroa. Ele era filho legítimo do pai e, portanto, eles deviam jurar-lhe vassalagem.
Eduardo obteve um grande triunfo. Um novo reinado começara. O seu reinado.
"Majestade", diziam eles e ajoelhavam-se diante dele. Beijavam-lhe as mãos, aqueles barões que, em mais de uma ocasião, tinham provado que podiam oferecer ao seu rei uma lealdade que nada tinha de absoluta. Precisava tomar cuidado com eles. Não devia mostrar-lhes, por enquanto, o quanto a vida seria diferente.









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

O Juramento do Rei

Saga dos Plantagenetas

Eduardo III assume a Coroa inglesa aos quinze anos após a trágica morte de seu pai, Eduardo II, no castelo de Berkeley. 

Neto de Filipe IV, o jovem monarca decide reivindicar o trono da França, prestando um juramento que mudaria o curso da história: tem início a Guerra dos Cem Anos. 
No nono livro da Saga dos Plantagenetas,Jean Plaidy reconstitui a trajetória deste grande líder, desde o seu casamento com Filipa de Hainault até as vitoriosas campanhas na França ao lado do filho, o memorável Príncipe Negro, herói de Crécy e Poitiers.
Dono de um temperamento enérgico e generoso, Eduardo levou o reino à prosperidade, mas foi traído por seus próprios sentimentos...

Capítulo Um

A Rainha Assombrada
No velho Castelo de York, a rainha Isabella estava deitada, sem sono, ao lado do amante. Nada havia a temer, assegurou-lhe ele. Aquele castelo de York, aquela grande fortaleza que se dizia ter sido construída pelo Conquistador, com seu fosso profundo, sua ponte levadiça e suas paliçadas, era invulnerável. 
O sentinela no alto da torre de Clifford iria avisá-los da aproximação de qualquer inimigo; ninguém poderia irromper pelos maciços muros de pedra e por aquelas torrinhas circulares. Mas não era um exército invasor que Isabella temia, e sim o fantasma de seu marido assassinado.
Desde que lhe haviam noticiado sobre aquela noite em que os agoniados gritos dele tinham sido ouvidos, segundo lhe disseram, até por quem estava do lado de fora dos muros do castelo de Berkeley, aquela terrível inquietação tomara conta dela.
 Às vezes, ela acordava e imaginava ver um vulto alto no quarto. O rei tinha sido um homem alto, e ela imaginava seu rosto na escuridão distorcido por uma expressão de uma terrível angústia. Às vezes, sonhava que os lábios dele se mexiam e ele expressava maldições sobre aqueles que o tinham condenado a uma morte tão brutal. No suspirar do vento, Isabella ouvia a voz dele.
- Isabella, você é a culpada... você... com seu amante Mortimer. Sei que ele era seu amante. Você vive com ele em clamoroso pecado, você, a Loba da França. Por quanto tempo você me enganou? Há quanto tempo planejou meu assassinato?
Há quanto tempo?, pensou ela. Assim que passou a ser necessário. Você me acusa. Já se esqueceu da maneira pela qual você tratava a num... como você me humilhava e desprezava, quando eu estava pronta a amá-lo, me ignorava para ficar com seus belos rapazes? Você mereceu o que lhe aconteceu.
Não, isso não. Ninguém poderia merecer uma morte daquelas. Por que tiveram que fazer daquela maneira?
Ela imaginou a fisionomia zombeteira de Ogle.
- Mas, minha senhora, foi por ordem sua... sua e do senhor. Nada de marcas no corpo. Ninguém deve saber que ele morreu por outro tipo de morte que não a natural.
Era apenas um banco comprido de madeira, com encosto alto, que ela via na escuridão. À medida que seus olhos se acostumavam, o banco assumia sua forma. Só por um rápido instante ela achara que tinha a forma de um homem e que era Eduardo que saíra da sepultura para zombar dela. Mas porque continuara vivo na imaginação dela, ele não a deixaria esquecê-lo e aparecia sem ser chamado... na calada da noite.
- Mortimer - sussurrou ela -, você está acordado? Meu doce Mortimer, acorde para mim.
O doce Mortimer, suspirando, virou o corpo enorme para ficar de frente para ela.
- O que é, meu amor? - murmurou ele, sonolento. - Mais sonhos?
- Sonhos - respondeu ela. - Sempre sonhos.
- Nesse caso, não têm substância.
- Não consigo dormir - disse a rainha. - Penso nele lá... na cama dele. Eles colocaram uma mesa sobre ele para que ele não se mexesse. Foi um espeto de ferro em brasa, num estojo de osso, para não deixar marcas... e com ele, queimaram-lhe as entranhas.
- A morte deve ter vindo logo - tranquilizou-a Mortimer.
- E de forma agoniante - respondeu ela. - Dizem que os gritos dele penetraram os muros do castelo de Berkeley.
- Isso é um absurdo. Lembre-se de Berkeley...









 Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

Passagem para Pontefract

Saga dos Plantagenetas
O Príncipe Negro, herói do povo, está morto, e Eduardo iII, seu pai, tornou-se um velho senil. 

O trono agora será ocupado por um menino, Ricardo de Bordeaux, cercado de parentes ambiciosos e nada confiáveis.
Neste episódio, o tom é dado pelas intrigas palacianas e pelas relações perigosas entre os nobres e suas amantes.
Extravagante e elitista, Ricardo ama duas rainhas: Anne da Boémia, com quem se casa, e a frágil Isabella.
O rei tem sua autoridade constantemente ameaçada, mas consegue salvar a Inglaterra de uma revolução e ganha prestígio.
Logo passa a enfrentar a oposição de cinco lordes que querem tirá-lo do poder.  De quatro ele consegue se vingar, mas o quinto, seu primo Henrique de Bolingbroke, mais esperto do que os outros, está decidido a levá-lo à ruína.


Capítulo Um

Inglaterra, século XIV, O Nascimento dos Meninos
Londres estava com espírito festivo naquele magnífico dia de maio. Eram poucas as coisas de que os cidadãos gostavam mais do que um acontecimento régio, e aquele prometia ser um dos mais esplendorosos que a capital já vira até então. 
O rei adorava a exibição - quanto mais magnificente, melhor. Aquela era uma de suas qualidades de que as pessoas gostavam. Uma fraqueza, talvez, mas uma fraqueza adorável, tida por um homem que diziam ser o maior guerreiro da cristandade e cuja reputação era tão ilustre quanto a de seu avô, o grande Eduardo, o primeiro a usar aquele nome.
Três dias antes, o filho do rei - aquele que era conhecido como John de Gaunt porque nascera de Eduardo e da boa rainha Filipa na cidade flamenga de Ghent, e os ingleses, desprezando línguas estrangeiras, achavam Gaunt mais fácil de pronunciar do que Ghent casara-se em Reading com Blanche, filha do duque de Lancaster.
Todos concordavam que a união de dois belos jovens era motivo de celebração, em especial por serem os dois de sangue real, porque Blanche descendia da árvore Plantageneta, exatamente como John; e os pais da noiva e do noivo eram venerados por todo o país.
Henry de Lancaster, o pai da noiva, era conhecido na Inglaterra - e na Europa, também - como o bom Duque Henry, o cavaleiro perfeito. Ele era fidalgo o tempo todo, generoso para com os inimigos, leal aos amigos, um homem profundamente religioso, e seu avô tinha sido Edmundo H, filho de Henrique El.
Quanto aos pais do noivo, eram adorados pelo povo como poucos monarcas tinham sido até então. 
Os súditos deviam sentir-se orgulhosos daquele rei alto e bonito que muitos diziam ser a imagem do avô e ligeiramente mais baixo do que Eduardo Pernas Longas, cuja reputação tinha sido ampliada pela memória. Aquele Eduardo tinha todos os itens que formavam a beleza Plantageneta - os abundantes cabelos louros, o nariz reto, os brilhantes olhos azuis, o belo físico. 
Além do mais, trouxera estabilidade ao país, e sua popularidade era tal que as pessoas tinham se esquecido de que as glórias de Crécy e Poitiers tinham sido pagas não só com sangue, mas com impostos arrancados do povo, e que a conquista do trono da França não estava mais perto do que estava no início da guerra. 
Ele se casara com Filipa de Hainault, de cuja benevolência o povo tomara conhecimento, e até no casamento Eduardo mostrara bom senso. Filipa podia estar rechonchuda além do normal e mostrar sinais de partos contínuos e nada ter de bonita, mas seu rosado frescor lhe caía muito bem, e a expressão do seu rosto era de uma suave boa vontade. 
Sabia-se que em várias ocasiões ela implorara ao rei que mostrasse misericórdia, porque ele, como a maioria dos de sua raça, possuía um génio que se tornava violento quando provocado; e por essa qualidade, ela fora profundamente respeitada. Ela era feminina; era virtuosa; e também conhecida como a Boa Rainha Filipa.
A devoção que um dedicava ao outro fora um exemplo para o país, e se ultimamente circulavam rumores de que o rei já não era bem o marido fiel que de modo geral as pessoas acreditavam que fosse antes, as insinuações eram esquecidas quando o casal real aparecia junto.
Londres estava encantada com seu governante; e todos os governantes inteligentes sabiam que a aprovação da cidade capital era essencial à segurança deles. Sim, eles amavam aquele rei que sabia sair-se muito bem nas justas nas quais ele tanto gostava de participar, e gostavam de vê-lo brilhando com as jóias com as quais ele tanto gostava de adornar sua bela pessoa.
Não só ele restaurara o prestígio da Inglaterra, que ela perdera durante o desastroso reinado anterior de seu fraco e efeminado pai, como tivera filhos homens - todos bonitos, e o mais velho, como era adequado, era um homem cuja fama espalhara-se por todos os cantos e já mostrava sinais de ser tão notável quanto o pai e o bisavô
- outro Eduardo, conhecido no país inteiro como o Príncipe Negro.









Saga dos Plantagenetas
1- Prelúdio de Sangue
2- O Crepúsculo da Águia
3- O Coração do Leão
4- O Príncipe das Trevas
5- A Batalha das Rainhas
6- A Rainha de Provence
7- Eduardo I
8- As Loucuras do Rei
9- O Juramento do Rei
10-Passagem para Pontefract
11-A Estrela de Lancaster
12- Epitáfio para Três Mulheres
13- A Rosa Vermelha de Anjou
14-Sol em Esplendor
Saga Concluída

A Estrela de Lancaster

Saga dos Plantagenetas

Capítulo Um

Um Encontro na Floresta
Os muros do convento erguiam-se serenos e belos em meio à verde campina. Perto dali estavam os muros cinzentos do castelo de Pleshy, moradia da garotinha que estava sentada à mesa, com o livro de estudo aberto à sua frente. 
Como era silencioso no convento, estava ela pensando. Havia, ali, uma tranquilidade que ela achava muito reconfortante, ainda mais porque ela passara a perceber um certo tumulto no castelo.
Mary sempre tivera um pouco de respeito temeroso por Eleanor, sua irmã mais velha, e talvez mais ainda por Thomas, marido de Eleanor. Ele era um homem muito importante, claro; e Eleanor tinha orgulho de ser sua esposa. Ela estava constantemente lembrando à sua irmãzinha que os filhos dela seriam de sangue real, porque Thomas era filho do rei.
Era verdade. Thomas de Woodstock, como as pessoas o chamavam por causa do lugar onde ele nascera, era na verdade conde de Buckingham e filho caçula do rei Eduardo e da rainha Filipa. Mary se lembrava de quando ele e Eleanor se casaram. 
Seu pai era vivo, então, e houvera muita alegria no castelo, porque se tratava de um brilhante casamento para os de Bohun, muito embora Humphrey de Bohun fosse um homem muito rico, possuindo, além do castelo de Pleshy, os de Monmouth e Leicester e uma mansão na cidade de Londres; e, embora tivesse sido devido à sua imensa fortuna que o casamento fora aprovado pela família real, os de Bohun tinham ficado perfeitamente cientes da honra que lhes fora concedida.
Depois, tudo mudara porque seu pai - Humphrey de Bohun, para dar o nome completo - morrera e sua vasta fortuna seria dividida entre as duas filhas, pois não havia herdeiro homem. 
Assim, Eleanor, mulher do Thomas de sangue real, e Mary, de dez anos de idade, tornaram-se as herdeiras mais ricas da Inglaterra.
Eleanor estava encantada com isso; Thomas também; Mary estava perplexa com a agitação deles. Que diferença fazia para elas?, perguntava-se ela. Tinham sido ricas antes. O que mais poderiam querer?
Quando ela perguntava isso, Eleanor lhe dizia, com rispidez, que não fosse ingénua, e ela ficava desanimada, porque sempre fora muito cônscia da condição de mais velha de Eleanor. 
Eleanor sempre a fizera ciente disso, mesmo antes da morte do pai. Ela era muito mais velha, salientava Eleanor, e Mary não passava de uma criança. Mary devia fazer o que lhe mandassem as pessoas que tinham maior experiência, e isso, naturalmente, significava uma irmã mais velha.
Remoendo, agora, sobre aquela época enquanto ficava sentada dentro dos pacíficos muros do convento, os livros esquecidos à sua frente, ela pensava em tudo o que acontecera desde a morte do pai e na atitude de Eleanor e seu marido para com ela. Era como se estivessem planejando alguma coisa.
O pensamento fazia com que ela se sentisse ligeiramente aflita, e mais do que nunca ela percebia como era agradável estar num convento entre as delicadas freiras. 
Dali a pouco, uma delas daria uma olhada em seu trabalho. Se estivesse bom, pouco se comentaria, porque ficava implícito que se esperava que estivesse; se tivesse sido feito com falta de cuidado ou revelasse ignorância das matérias escolhidas, haveria uma suave reprimenda, que, por estranho que parecesse, a magoava mais do que a raiva e o desprezo.
Mary gostava das freiras; gostava do convento; a atmosfera a fascinava. A abadessa dissera-lhe que as Claras Pobres viviam apenas para servir. Elas se deslocavam pelo convento como cinzentos fantasmas silenciosos, porque se quisessem falar umas com as outras, primeiro tinham de receber permissão da abadessa.