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14 de agosto de 2017

A Dama de Companhia

Relançamento
Inglaterra, 1815

Salvo por um anjo apaixonado!
Seriamente ferido no campo de batalha, Kit Armstrong, conde de Hawthorne, voltou para casa para receber cuidados médicos. Mas como fazê-lo voltar à vida, se tudo que ele desejava era ter perecido no campo de batalha como tantos outros?
Chloe era apenas uma dama de companhia. Mas sua alegria quase juvenil, seu sorriso radiante mesmo diante das maiores adversidades e seu jeito amoroso fez com que os olhos de Kit Armstrong readquirissem o brilho então inexistente. Seria o amor o responsável por trazê-lo de volta à vida?

Capítulo Um

Christopher Armstrong, antigo membro da 20ª Cavalaria, permanecia em pé ao lado das janelas altas, e apreciava as cores brilhantes do outono de Yorkshire. Os bosques cerrados de carvalhos, faias e tílias vicejavam. Os gramados bem cuidados que se estendiam pela paisagem pitoresca. Era tudo dele. E aquilo não lhe dizia absolutamente nada.
— Hawthorne? — O som estridente da voz de sua avó quebrou o silêncio. Christopher estremeceu ao ouvir o nome que não lhe agradava.
— Meu nome é Kit — ele afirmou, sem se voltar.
— Isso é um absurdo! — a avó retrucou. — Agora, como conde de Hawthorne, não pode mais comportar-se como um simples plebeu rastejando atrás do comando de seu irmão! Além do mais, esta família é responsabilidade sua!
Kit não se moveu. Já ouvira aquilo várias vezes, desde que voltara para casa. Não se falava na sua carreira militar e nem na perda chocante de seu irmão. Nada. Era apenas a repetição constante de seus deveres. De certo modo, era como estar de volta ao Exército. Um corpo amorfo para ser usado em caso de necessidade.
Só que, nesse caso, em vez de entregar-se a seu país, tinha de sacrificar-se em favor da posição ilustre da família. Pelo menos, no entender de sua avó. Ele fora para a batalha com a mais honorável das intenções, mas não sentia nenhum entusiasmo pelos ornamentos duvidosos do poder político, da riqueza e dos privilégios. Nem tinha o menor interesse na continuação de uma pretensa dinastia que havia se reduzido a um ferido de guerra e uma velha ranzinza.
— O senhor me escutou? — ela gritou e bateu a bengala, para o caso de ele não ter ouvido.
Kit torceu os lábios, embalado por lembranças muito antigas. Houve tempo em que apenas o som daquele bastão atemorizava a ele e a seu irmão, nos dias longínquos e bucólicos da infância. Todos, até seu pai, se curvavam diante da famosa viúva que conservara o título do marido.
Mas, naquele momento, Kit via a avó como ela realmente era. Uma mulher envelhecida, zangada com o destino, e sem poder para mudá-Io. Ela acostumara-se a comandar a vida dos que estavam a seu redor e Kit a desapontara em todas as suas exigências. Ele se esforçara para conseguir sua patente em parte para contrariá-Ia. Mas acabara muito mais ferido do que ela.
Sua avó parecia ter sido feita de pedra. Kit nem mesmo saberia dizer se ela lamentava a perda de Garrett. Embora vestisse o luto necessário, ela não demonstrava tristeza. Ele não passava um segundo sem sofrer. Não somente por seu irmão, mas por todos os homens que serviram sob seu comando. Por todos os que haviam morrido no massacre sangrento de Waterloo. Por todos que haviam ido para a guerra, para nunca mais voltar.
E ali estava ele, não apenas vivo, mas supostamente próspero como o quinto conde de Hawthorne. Era mesmo uma ironia. Enquanto ele enfrentava batalhas e escapava da morte, Garrett, que permanecera em casa e em segurança, havia perdido a vida. Disseram que ele se cortara nos equipamentos agrícolas que sempre o fascinaram e morrera uma semana depois.
Era estúpido, sem sentido e insustentável. Kit nem se recordava de quantas vezes fora cortado por navalha e até mesmo por uma espada. Em Waterloo, fora atingido por um projétil e ficara esmagado debaixo de seu cavalo. O que lhe rendera costelas quebradas, numerosas contusões e uma perna proclamada imprestável. Ainda assim, Kit exigira que o engessassem. Com muito empenho e força de vontade, seu sofrimento deixara como consequência apenas uma leve claudicação.
Naquela altura, ele se perguntava de que lhe valera o esforço. Estava sendo medicado em Bruxelas, quando Garrett morrera. Embora a avó jurasse haver mandado um mensageiro, esse nunca o encontrara, por causa da grande confusão reinante depois de Waterloo.
Voltara para casa, para se recuperar, e a encontrara de luto. O funeral já terminara há muito tempo e sua avó estava determinada a fazê-lo substituir o irmão. Se ele não houvesse se alistado no Exército e enfrentado batalhas, poderia ser capaz de tomar o lugar de Garrett. Mas, então, não tinha estômago para suportar aquilo. Ele não se interessava por nada e nem queria ser um Hawthorne.
— O senhor precisa assumir o controle das propriedades!



24 de abril de 2017

Em Busca do Impossível

Série Os Marchant
Ele era um cavalheiro taciturno, ela uma mulher muito especial…

O estado de ânimo de Christopher Marchant era tão sombrio como as escuras nuvens que se acumulavam junto a sua mansão.
Quando uma bela mulher foi apanhada no meio de uma tempestade, Christopher atuou como faria qualquer cavalheiro. Uma vez resgatada, a dama devia partir.
Mas se Hero Ingram partisse com as mãos vazias, seu tio a castigaria. 
Então Christopher se deixou envolver por sua valorosa rebeldia, não isenta de vulnerabilidade, e como cavalheiro que era decidiu protegê-la e acompanhá-la em sua aventura. Em troca, ela despertaria seu lado mais apaixonado…

Capitulo Um

Hero olhou pela janela da carruagem, mas não viu nenhum sinal de Oakfield Manor na crescente escuridão. A má conservação das estradas tinha culminado em um grande atraso, mantendo-a muito tempo confinada no veículo. Sua companheira de viagem, sentada frente a ela, olhava para diante inabalada, o pequeno e mau ventilado espaço que ocupavam e os buracos que faziam Hero ricochetear, não pareciam perturbá-la.
Não pôde evitar perguntar se a senhora Renshaw viajava com ela em qualidade de dama de companhia ou como espiã cuja missão era assegurar-se de que os assuntos de Raven seriam resolvidos
Sentiu uma corrente de ressentimento que aplacou por puro costume. Sabia o que se esperava dela. 
Sem dúvida, Christopher Marchant resultaria ser um velho verde enrugado, calvo e fedorento. E ela teria que recostar-se a seu lado e exibir seu vestido decotado. Usando sua persuasão e adulações estava acostumada a escapar com o prêmio e sua pessoa intacta, embora não podia dizer o mesmo de seu amor-próprio. Mas fazia muito tempo que tinha aprendido que luxos como o orgulho eram para gente enriquecida e não para pessoas como ela.
Se lhe restava alguma dúvida sobre se o mundo era um lugar sombrio bastava dar uma olhada nas charnecas açoitadas pelo vento, as árvores cortadas e as escuras nuvens que se amontoavam lá fora. Se não soubesse que era impossível, teria pensado que Raven era o responsável pelo mau tempo, além de todo o resto. A ideia lhe crispou os nervos.
Outro buraco a lançou contra a pele gasta e gretada da tapeçaria e se deu conta que tinham tomado um atalho de cascalho em tão más condições como a estrada. Perguntava-se se estariam por fim aproximando-se de seu destino quando se viu lançada de novo, desta vez com mais força. Tentou em vão de encontrar algo ao que agarrar-se. De súbito, a senhora Renshaw aterrissou em seu colo e Hero percebeu que algo estava errado.
A imperturbável mulher soltou um grunhido de surpresa enquanto seu peso deixava Hero sem fôlego. 

Série Os Marchant
1 - Coração Ferino
2 - Em Busca do Impossível
Série Concluída

16 de outubro de 2013

Coração Ferino

Série Os Marchant

Seu coração é amargurado, e ele não confia em ninguém. 

Trovoadas recumbavam e relâmpagos cortavam o céu quando a srta. Sydony Marchant chegou a sua nova e imponente mansão. 
Além de ser linda e inteligente, ela não se deixaria intimidar com facilidade pelo aspecto sombrio do lugar. 
Entretanto, se a casa não a assustara, a chegada do visconde Hawthorne certamente o faria. 
No lugar do menino que ela outrora havia beijado, estava Bartholomew, um homem com um brilho implacável no olhar. Ele estava ali para revelar uma verdade, e arruinar Sydony. Mas logo se viram rodeados por segredos mais sinistros do que poderiam imaginar. E, à medida que a tensão entre os dois se intensificava, a lembrança daquele beijo inocente passou a não ser mais o suficiente... 

Capítulo Um 

Com um olhar preocupado, Sydony observou as nuvens escuras deslizando pelo céu, ciente de que a tempestade se aproximando representava um mau presságio para a chegada deles ao novo lar. O céu parecia maior aqui, os elementos da natureza mais poderosos, ou talvez, fosse apenas a estranheza do campo que a estivesse incomodando ao olhar para fora da janela da carruagem. Seu irmão Kit diria que ela lê romances góticos em demasia, no entanto, não havia como negar que o destino deles era muito diferente da bela casa de tijolos que chamavam de lar por tanto tempo. 
A triste verdade era que ela e Kit eram órfãos — não do tipo indigente forçado a procurar abrigo em asilos, mas mesmo assim, órfãos. A mãe havia falecido quando ainda eram pequenos, e era lembrada com muito carinho, embora não tanto assim. Mas o pai morrera há menos de um ano, e essa ferida ainda estava recente. Uma depressão notavelmente profunda na estrada jogou Sydony de encontro ao irmão, e ela sentiu-se grata pela presença sólida de Kit. Desde o acidente, haviam aprendido a contar mais um com o outro, tanto por escolha quanto por necessidade. 
O pai havia sido um estudioso — um homem de livros, não de negócios — e, desde a sua morte, eles haviam sido forçados a apertar os cintos. Embora apenas dois anos mais velho do que Sydony, aos 19 anos de idade, Kit mantinha a cabeça no lugar. Jamais havia sucumbido à tentação de jogar ou beber em excesso como havia tornado tantos colegas tolos, pobres, ou coisa pior. Ele, às vezes, brincava com ela, dizendo que Sydony era o único bem real que para custear uma temporada em Londres. De modo que permaneceram juntos, continuaram a pagar o aluguel da casa onde haviam morado com o pai. Mas, pouco após a morte dele, o proprietário havia insistido que pagassem mais. 
Aparentemente, estava desconfiado de duas pessoas jovens administrando a casa, e, para ser sincero, suas diversas fontes de renda e recursos estavam tendo os limites testados. Mas para onde ir? Então, quando as coisas pareciam estar mais desanimadoras, o destino, enfim, deu uma guinada para melhor. A notícia de que haviam herdado uma propriedade de um parente distante pareceu um inesperado golpe de sorte. Venderam todos os móveis, arrumaram as malas e partiram imediatamente em direção ao novo lar. Mas agora, enquanto Sydony observava as folhas cobrindo o chão da paisagem triste, carvalhos desnudados ao fundo, ela se perguntou se a situação não havia ficado ainda pior. Quando o céu caiu, ela avistou uma enorme construção de pedra se erguendo ao longe. 
Assim como o futuro deles, a também tempestade caíra sobre os dois irmãos. Agarrando-se ao assento, Sydony inspirou profundamente. A estrada acidentada que havia lhes dado a impressão de ser quase intransitável antes, não ficou nada melhor sob a chuva torrencial. 
— Deve ser Oakfield!

Série Os Marchant
1 - Coração Ferino
2 - Em Busca do Impossível
Série Concluída

12 de agosto de 2012

O Último De Burgh

Série De Burgh



Qual é o segredo obscuro dele? 

Destinada a ir para um convento, Emery Montbard se disfarça de rapaz e pede a ajuda do nobre cavaleiro Nicholas de Burgh. 
Vindo de uma família respeitável, seu forte código de honra é desafiado quando ele nota as curvas provocantes de sua misteriosa companhia. 
Será que ela não percebe que entrega sua identidade a cada movimento? Mas Nicholas também esconde um segredo que cala fundo em seu coração e que jamais será revelado... 

Capítulo Um 

Nicholas de Burgh manteve a mão no punho da espada e um olhar cauteloso nas pessoas ao redor. Já havia visitado lugares piores, não muitos, mas aquela estalagem seria capaz de provocar receio até em seus irmãos. 

Apesar de destemidos, os De Burgh não eram estúpidos, e Nicholas culpou a própria imprudência por sua presença ali.
O fedor de bebida e vômito enchia suas narinas, pois aquele alojamento não fazia qualquer pretensão de limpeza, um fato que parecia indiferente aos outros que se reuniam naquela escura sala de convivência. 
De fato, os homens ao seu redor possuíam o ar endurecido de quem provavelmente cometeria um assassinato por um punhado de moedas.
Exceto um.
Foi a visão singular daquele camarada que fez Nicholas se demorar. Pouco mais que um garoto, o estranho trajava o manto característico dos hospitalários e provavelmente tinha retomado de um período de batalha na Terra Santa. Embora fosse um cavaleiro, a coxeadura e a falta de um escudeiro o tornavam vulnerável a ladrões, prostitutas e apostadores que freqüentavam tais lugares.
Os olhos do garoto estavam brilhantes devido ao excesso de vinho ou algum tipo de febre, o que poderia explicar sua falta de juízo. Ou talvez estivesse tão feliz por voltar à Inglaterra que esqueceu haver muitos perigos no próprio lar.
Qualquer que fosse a razão, ele parecia alheio às ameaças ao redor, mas Nicholas estava determinado a alertá-lo. Mas, quando Nicholas deu um passo à frente, um templário foi mais rápido em atrair a atenção do rapaz. 
Embora houvesse rumores de desentendimentos entre as duas ordens militares, aqueles dois logo estabeleceram uma longa conversa, deixando Nicholas livre para partir. Existia, porém, algo no templário que o fazia hesitar...
Nicholas ficou de pé quando uma inevitável briga irrompeu ao seu lado. Abaixando quando um copo de vinho passou voando por sua cabeça, esquivou-se do líquido escuro que salpicou a parede e se manteve no perímetro da crescente confusão. 
Quando um banco atravessou seu caminho com um baque alto, ele pulou por cima do objeto, evitando uma vela que caiu sibilando no chão, sua luz extinta.
Alcançando a porta, Nicholas se virou para examinar a sala, mas não conseguiu encontrar o hospitalário nem o templário, nem mesmo caídos nos juncos imundos. Também não havia sinal dos cavaleiros lá fora, mas Nicholas não se demorou. 
Estava ansioso, afinal, para se afastar da estalagem antes que os brigões começassem a sair.
Mantendo um olho na entrada, pegou a estrada, mas pouco tinha se afastado quando alguém saiu das sombras para entrar em seu caminho. O jovenzinho seria de pouca ameaça para um cavaleiro armado. Nicholas não parou, mas passou a caminhar ao lado dele.
— Mantendo vigia, Guy?
— Falei que este alojamento fedia a problemas — disse o escudeiro.
— Por isso deixei o lugar — respondeu Nicholas, sem titubear. — Apesar do que possa pensar, valorizo meu pescoço.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída
 

18 de agosto de 2009

O Lobo Domado

Série De Burgh





Ela só tinha uma arma para conquistar aquele homem...a sedução

Forte, corajoso, sempre alerta contra o perigo, Dunstan de Burgh, barão de Wessex, era comparado a um lobo selvagem.
Destemido cavaleiro de mil batalhas, ele não acreditava no amor.
Até o dia em que seu destino cruzou com o de Marion Warenne.
Misteriosa donzela de passado nebuloso e olhar doce, Marion começou a derrubar todas as defesas armadas em torno do coração de Dunstan...

Capítulo Um

Marion conteve a respiração quando viu as imponentes e majestosas paredes de pedra que se erguiam ao longe. Aparentemente era para lá que eles se dirigiam.
As inúmeras torres pa¬reciam muito altas e sólidas, o que aumentava a apreensão dela. O que a aguardava ali?
Quando olhou para os cavaleiros de cabelos pretos que lideravam a caravana ela sentiu a tensão diminuir.
Naquelas semanas de viagem havia passado a confiar nos rapazes que a haviam encontrado desmaiada na estrada. Mas também não tinha outra escolha, porque não podia recorrer a ninguém além deles.
E não se lembrava de nada.
Talvez fosse por causa da pancada na cabeça. Geoffrey, que parecia ser o mais instruído daqueles homens, tinha dito que às vezes um golpe na cabeça podia roubar a memória de uma pessoa.
Marion se via obrigada a acreditar, já que não se lembrava de nada sobre o próprio passado. Tudo o que havia acontecido antes que os irmãos de Burgh aparecessem era um enorme vazio... um vazio aterrador.
Embora ela estivesse viva, respirasse, caminhasse e andasse, era muito misteriosa aquela ausência de passado.
Ao ouvir o canto de uma ave, faci1mente a identificava como um pardal.
Até se lembrava de uma receita para preparar no forno aves maiores, mas como e quando havia aprendido aquilo eram informações que não estavam na memória dela.
O passado parecia ser algo inexistente.
Aqueles homens a chamavam de Marion.
Isso não significava nada para ela, mas eles haviam descoberto o nome inscrito no que pensavam ser o livro de salmos dela.
E a tratavam como uma Lady, argumentando que só uma Lady possuía as coisas com que a haviam encontrado: roupas finas, um espelho, livros, moedas e jóias.
E resolveram levá-la consigo, já que estavam com pressa de voltar para casa e não sabiam quem ela era.
- Vamos, lady Marion! - chamou-a Geoffrey.
Obviamente feliz por finalmente chegar ao destino ele atravessou ao lado dela o enorme portão do castelo, que a essa altura já estava aberto para permitir a entrada dos recém-chegados. Depois ajudou-a a desmontar e Marion riu da ansiedade com que ele a levou para o interior do castelo.
Embora fosse um cavaleiro, um guerreiro, Geoffrey era um homem instruído e bondoso, alguém por quem ela prontamente sentira simpatia.
Quando entrou no salão do castelo, Marion mal conteve uma exclamação de espanto.
O cômodo era de uma enormidade como ela jamais vira.
A luz penetrava pelas janelas altas e arqueadas e havia muitas cadeiras e bancos, uma indicação da riqueza da família de Burgh.
Tudo era grandioso... e muito sujo.
Marion procurou não torcer o nariz quando sentiu o cheiro de comida passada misturado com o de urina de cachorro.
Nem mesmo o vento que entrava pelas janelas era capaz de dissipar aqueles maus odores. Embora não estivesse em pleno gozo das faculdades mentais, ela logo concluiu que aquele castelo carecia de uma castelã.
Aquele pensamento fez com que Marion parasse, sentindo um arrepio na nuca.
Ela poderia realizar a tarefa. Tinha certeza disso, uma certeza que se fazia acompanhar por uma sensação de saudade, de excitação.
Não só poderia realizar o trabalho como também ficaria extremamente feliz com isso.
- Ah! Simon! Geoffrey!


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

O Anel de Noivado

Série De Burgh




Nobre de berço, embora selvagem de coração...

A última coisa que Elene Fitzhugh queria era se casar com Geoffrey de Burgh.
Ela só esperava que os afiados punhais que possuía lhe dessem proteção contra os modos gentis e as açucaradas mentiras daquele homem!
Embora Elene Fitzhugh houvesse assassinado o primeiro marido no leito nupcial, Geoffrey de Burgh não tinha escolha além de se casar com ela.
Mas como tomar por esposa uma mulher de alma tão selvagem e apaixonada?

Capítulo Um

om um misto de espanto e horror, Geoffrey de Burgh olhou para o pedaço de graveto que tinha na palma da mão. Percebeu a reação dos cinco irmãos que o cercavam, as mal contidas exclamações de surpresa, os suspiros de alívio e os murmúrios de solidariedade, mas não deu resposta.
Apenas olhava para o minúsculo graveto, sem querer acreditar que, entre todos os de Burgh ainda solteiros, tinha sido ele o escolhido pela sorte.
Havia perdido. E agora devia se casar com a Fitzhugh.
Erguendo finalmente a Cabeça, Geoffrey viu que era observado pelo pai.
Se o conde de Campion estava chocado com o fato de que o mais instruído de seus filhos iria se casar com a endiabrada mulher, não dava mostras disso.
Evidentemente compreendia que Geoffrey tinha motivos, para ficar abatido, mas devia estar orgulhoso, já que tinha certeza de que aquele filho jamais o desapontaria.
Mais do que em qualquer outra oportunidade, Geoffrey sentiu o peso daquela
confiança e das responsabilidades que isso implicava, sabendo que não teria como fugir ao cumprimento do dever.
O rei Edward havia decretado que um dos de Burgh deveria tomar a mulher como esposa, e caberia a ele cumprir essa determinação, pelo rei, pelo pai e pelos irmãos.
Aprumando o corpo, Geoffrey tomou todos os cuidados para não demonstrar o quanto estava arrasado.
— Pois muito bem, eu a desposarei — declarou.
Não houve congratulações, já que ninguém no castelo tinha a mais longínqua ilusão de que Geoffrey seria feliz naquele casamento.
E, pela primeira vez, nenhum dos irmãos disse nada para caçoar do irmão, o que gostavam muito de fazer uns com os outros.
Mas era evidente que estavam aliviados por haverem escapado daquele capricho
do destino.
Sem querer continuar mostrando a covardia que os acometia quando o assunto era casamento, os cinco rapazes, todos destemidos guerreiros, pediram licença e
apressaram-se em se retirar.
Geoffrey não se sentia no direito de censurá-los. Quem não recuaria diante da perspectiva de um casamento como aquele?
Depois da retirada dos irmãos, ele se viu a sós com o conde de Campion.
— Sente-se — disse o pai, indicando-lhe uma cadeira.
Geoffrey acomodou-se de frente para o homem que respeitava mais do que qualquer um outro, sustentando o olhar firme do pai. Campion coçou o queixo,pensativo.
— Eu tinha esperanças de que fosse um outro, talvez Simon, embora ele seja tão
exaltado que poderia matá-la antes mesmo que a cerimônia se concluísse — disse,
fazendo uma careta.
Geoffrey permitiu-se rir do que acabava de ouvir. Simon, o segundo filho de
Campion, era um feroz cavaleiro que não tinha a menor complacência com as mulheres.
Sem dúvida, deixaria intimidada até mesmo a Fitzhugh, mas por causa do temperamento às vezes não sabia agir com bom senso.
Campion assentiu, como se estivesse concordando com o pensamento do filho.
— Bem, talvez seja melhor mesmo que você, com seu talento de negociador,
encarregue-se da tarefa. Tenho orgulho de todos os meus filhos, mas você, Geoffrey, é o que mais se parece comigo.
Geoffrey olhou para o pai sem esconder a surpresa.
Embora Campion sempre deixasse clara a afeição que sentia pelos filhos, nunca era pródigo em elogios. E aquele era de fato um elogio muito grande, porque todos os esforços de Geoffrey eram no sentido de seguir os exemplos do pai.
— Você tem a firmeza dos seus irmãos, mas também é dotado de sabedoria —prosseguiu Campion, fazendo depois uma recomendação.
— Use a cabeça e o coração, além da mão com que maneja a espada, para lidar com a mulher que será sua esposa. Contam-se muitas coisas sobre ela, mas você sabe
tanto quanto eu que muitas vezes essas histórias são exageradas. As pessoas nem
sempre são o que parecem ser. Por isso peço-lhe que, quando se casar, procure manter a mente aberta. Sei que saberá levar em consideração este conselho.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

Coração de Guerreira

Série De Burgh


Dama, guerreira, amante!

Era essa a ladainha repetida por Simon de Burgh, toda vez que punha os olhos em Bethia Burnel.
Dotada de grande habilidade em lutas, capaz de enfrentar qualquer um de seus
cavaleiros, Bethia capturou o coração de Simon durante uma batalha!

Simon de Burgh era irritante, com seu poder e convicções machistas, mesmo quando
Bethia o mantinha com pés e mãos amarrados, em seus domínios, no coração da floresta.

Mas ela estava determinada a provar àquele arrogante que era capaz de derrotá-lo de
novo… apesar do refrão repetido por seu coração, de que ela finalmente havia
encontrado um homem à sua altura!



Capítulo Um

Simon de Burgh queria lutar. Embora houvesse negado, caso questionado, Simon
escolhera deliberadamente seguir pela estrada que cortava a floresta, como se estivesse desafiando bandidos a atacar seu grupo. Sentia-se entediado e desbaratar um bando de salteadores, se fossem tolos o bastante para tentar um assalto, seria o melhor remédio para aquele mal.
Quando aceitara a missão proposta pelo irmão, Dunstan, acreditara haver encontrado uma boa maneira de fugir da paz excessiva que reinava nas propriedades de seu pai. Porém, depois de dias intermináveis na estrada, sem ter se deparado com qualquer incidente, Simon começava a ficar inquieto.
Embora seu destino, o castelo Baddersly, não estivesse muito longe, a perspectiva de administrar as terras do irmão não era das mais atraentes.
Durante toda a sua vida, Simon sentira-se em constante competição com os seis
irmãos. Especialmente, Dunstan, o mais velho, que servira o rei Edward, no país de Gales e, assim, recebera suas próprias terras.
Embora a necessidade de provar seu valor houvesse diminuído nos últimos dois anos, à medida que Simon passara a assumir responsabilidades maiores, ele ainda esperava, impaciente, por desafios, como se em sua vida existisse a falta de algum tipo de glória.
Tal necessidade não encontraria satisfação em uma simples incursão pela floresta,
Simon pensou, enquanto seu corcel adentrava a mata.
Os homens que o seguiam ficaram em silêncio.
Durante algum tempo, os únicos sons eram produzidos pelo roçar do couro nas armaduras flexíveis, confeccionadas em malha de fio metálico, bem como dos cascos
das montarias batendo contra a terra seca da estrada.
Simon tinha certeza de que seus irmãos não teriam escolhido aquele caminho.
Na verdade, podia ouvir o sensato Geoffrey lembrá-lo de que não estava conduzindo um exército, mas sim um pequeno grupo de guardas montados.
Como podia ser tão imprudente com respeito à vida de seus homens?
Tal pensamento só fez piorar o humor de Simon, que fincou os calcanhares no cavalo.
Porém, era tarde demais para se arrepender da decisão tomada, pois um pouco adiante, à sombra escura que as árvores lançavam sobre a estrada, havia um tronco
enorme caído, atravessado.
Certo de que não se tratava de um acidente, Simon concluiu que chegara o momento da esperada luta.
Em silêncio, ergueu uma das mãos, em um gesto de advertência para aqueles que o seguiam. Então, desembainhou a espada.
— Pare e identifique-se — gritou uma voz, de trás do tronco.
Naquele momento, Simon desejou poder trocar um de seus cavaleiros por um bom
arqueiro. Estreitando os olhos, observou o dono da voz subir no tronco.
Muito esperto, de fato, o sujeito vestia túnica e braies, ambas de um marrom escuro, de maneira a ser facilmente confundido com a paisagem.
Não empunhava nenhuma arma, mas plantou os pés separados e colocou as mãos na cintura, assumindo uma postura petulante, que fez Simon ranger os dentes.
Tinha uma pequena espada na bainha e usava uma espécie de armadura encurtada.
A última, provavelmente, roubada de algum cavaleiro cativo, ou morto, Simon pensou, furioso.
— Saia do caminho, pois nego-me a responder a bandidos.
— Diga seu nome, a quem presta obediência e qual o seu propósito nesta floresta
— o assaltante replicou, mostrando-se impassível.
Parecia ser muito jovem e tolo, também.
A menos que as árvores ocultassem um grande número de homens, melhor equipados do que ele, o rapaz não teria a menor chance de vencer a disputa com um bando de guerreiros experientes.
— Sou Simon de Burgh, leal a meu pai, conde de Campion, e a meu irmão, barão
de Wessex. Meu propósito não é da sua conta. Não cometa o erro de desafiar-me. Agora,
desapareça, ou será morto.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

Uma Visita Inesperada

Série De Burgh

O chefe da poderosa família De Burgh tem sua tranqüilidade abalada pela jovem e sedutora viúva que se hospeda em seu castelo durante os 12 dias das comemorações de Natal.

Mas o espírito natalino faz milagres e é capaz de aproximar dois corações solitários, abençoando-os com a dádiva do amor!



Capítulo Um

Seus filhos não viriam para casa no Natal.
Fawke De Burgh, conde de Campion, estava de pé com as mãos entrelaçadas nas costas. Sozinho no solar, ele abrira uma das janelas altas e estreitas e foi surpreendido por uma rajada de vento frio e pela neve.
O tempo estava pior que em outros anos.
Viajar durante o inverno nunca fora fácil, mas ninguém enfrentaria as estradas enregeladas desde a semana passada quando caíra uma forte nevasca.
E Campion nunca colocaria a família em perigo por causa de um capricho seu.
Mas não podia negar seu desapontamento.
Estava acostumado a passar as festas natalinas cercado pelos descendentes.
Era a única época do ano em que todos estavam juntos e Campion aproveitava para conhecer a esposa de um filho ou o mais novo neto.
Talvez a época seria mais suportável se eles não estivessem fora.
De seus sete filhos, só os dois mais novos estavam no castelo de Campion, os demais ainda por chegar.
E apesar de todos serem queridos, o conde sabia que Stephen e Reynold eram os que menos tinham disposição para alegrá-lo.
Um rapaz inteligente, Stephen havia mergulhado seus talentos num mar de vinho, enquanto Reynold, prejudicado por uma perna ruim, passava pela vida com uma crueldade que desfigurava todas suas conquistas.
Com um suspiro, o conde se virou, acolhendo o vento frio que refletia seu humor.
Ele nunca esperou que seus filhos ficassem em Campion, mas tampouco imaginara que fossem se estabelecer longe dali.
Quem tomaria conta de tudo quando ele tivesse partido?
Seu herdeiro era Dunstan, mas o mais velho dos De Burgh estava ocupado com seus próprios domínios, além dos que sua esposa herdara.
Geoffrey e Simon tinham casado recentemente e estavam felizes em viver nos lares que os casamentos proporcionaram.
Robin tomava conta de uma das propriedades de Dunstan no sul, e Nicholas, em busca de novas aventuras, se juntara ao irmão.
Campion tinha orgulho das conquistas e da independência dos filhos, mas sentia certa melancolia por sua ausência.
Sentia saudade, e as festas não seriam as mesmas sem a presença deles.
Campion, viúvo duas vezes, sabia que essas comemorações eram o palco das mulheres. Nos últimos anos, a esposa de Dunstan tinha se encarregado de decorar o ambiente com folhagens verdes e de manter todas as tradições, mas, sem ela, quem providenciaria tudo? Eles tinham conseguido arrastar o tronco de árvore para dentro de casa aproveitando uma arrefecida do frio, e naturalmente haveria um banquete.
Mas quem arrumaria a árvore de Natal e organizaria as brincadeiras, a entrega de presentes e providenciaria a música?
Campion se imaginou tomando as providências, mas ele não se sentia muito entusiasmado com a idéia, já que Stephen e Reynold provavelmente não valorizariam seu esforço.
O som de passos o fez levantar as mãos para as janelas.
Ninguém veria o conde de Campion de cara triste na janela como um rapaz desconsolado. Ultimamente ele notara uma sutil preocupação em torno dele.
Ele podia não ser jovem como antes, mas era o senhor daquele lugar e ainda mandava em seus cavaleiros, até mesmo nos filhos fortões.
Os dedos de Campion crisparam ao ver uma sombra escura no meio da tempestade lá fora. Ele se inclinou para a frente, mas a espessa camada de neve atrapalhava a visão do terreno.
Podia não ser nada, mas ele decidiu que mandaria um homem verificar a área quando a voz do criado ecoou atrás dele.
— Senhor! Senhor! Ah, aí está! O senhor os viu? Tem alguém no portão, um grupo pequeno, enfrentando a fúria do tempo.
Então, seus olhos não tinham se enganado, mas visitas nessas condições e tão tarde? Já era quase noite.
— Deixe-os entrar — ordenou Campion.
Fechando as janelas, ele se virou imaginando quem teria sido tão imprudente em enfrentar um tempo daqueles.
Quem poderia ser? Certamente não era nenhum inimigo para ousar enfrentar tamanha intempérie. Nessa época, até os peregrinos ficavam em casa.
Talvez fosse um mensageiro da corte, pensou ele, mas tais missivas provavelmente trariam notícias ruins.
Ele deixou o solar com certa apreensão.
No entanto, conhecia seu dever e acolheria qualquer viajante que enfrentara o tempo ruim para alcançar refúgio em seu lar.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

Um Lorde Para Amar

Série De Burgh


A mando do pai, Stephen não teve escolha a não ser escoltar a feiticeira Brighid l’Estrange até o castelo de seu falecido pai.

Stephen de Burgh era humano demais para Brighid l’Estrange.
Amante da boa vida e convencido, o cavaleiro parecia indigno da nobre herança.
Mas mesmo assim Brighid sentia um poder e uma certeza sobre Stephen que respondiam aos desejos mais profundos de seu coração!
Escoltar a obstinada Brighid pelas terras inclutas e pantanosas do País de Gales enfraquecia Stephen ao extremo. 
Jamais conhecera uma mulher tão briguenta e ao mesmo tempo tão sedutora quanto a sra. l’Estrange, cujos olhos prenunciavam um destino que mudaria sua vida para sempre!


Capítulo Um

Stephen de Burgh sentia-se aborrecido.
Recostado na cadeira de madeira entalhada no salão de Campion, ergueu a taça de vinho na esperança de que a bebida aplacasse aquela sensação de fastio, que acabasse com o tédio de sua existência. Logo experimentou uma espécie de calor difuso, efeito que geralmente o agradava.
Ultimamente, porém, nem a leve embriaguez conseguia quebrar a monotonia implacável de cada dia.
Olhando ao redor, Stephen avaliou seus domínios, ou melhor, os domínios de seu pai, o duque de Campion. Servos deslocavam-se atarefados pelo salão luxuoso que era o coração do castelo mais moderno, bem equipado e famoso na região.
Ali não havia guerra, fome ou doença.
Só tédio. Em Campion, não havia uma alma com a qual pudesse afiar seu senso de humor... e a língua ferína.
Dos seis irmãos, todos moravam ou visitavam outras paragens, exceto Reynold, a quem não valia a pena atormentar.
Em vez de fisgar a isca, a exemplo de Simon, por exemplo, Reynold simplesmente lhe dava as costas amuado, um oponente indigno de seus esforços.
Sendo assim, via-se sem atividade desde a breve visita da família, no começo do ano.
Desde o casamento de seu pai com Joy. Stephen franziu o cenho à lembrança.
Joy lhe parecera interessante, pelo menos por algum tempo, após a chegada abrupta na véspera do Natal.
Mas, então, embora pouco mais velha do que ele mesmo, ela se casou com seu pai e os dois andavam tão apaixonados um pelo outro que dava enjôo olhar para eles.
Lá estavam os pombinhos, trocando beijos à cabeceira da mesa.
Stephen tentou se convencer de que estava enjoado e entediado, quando na verdade se conscientizava de uma sensação estranha, surgida com as núpcias do pai.
Não que quisesse Joy para si, pois não se tratava de nenhuma beldade em especial.
Talvez houvesse sofrido um golpe de afronta com o fato de a moça ter escolhido um de Burgh tão mais velho, mas já superara o assunto.
Infelizmente, a lembrança de seu comportamento lamentável na ocasião perdurava como fel em sua boca, que nenhuma quantidade de bebida parecia capaz de dissipar.
Com a atitude, distanciara-se ainda mais do pai, ao mesmo tempo em que se tornava ciente de seu próprio descontentamento.
Sim, apesar da alegria reinante em Campion, Stephen sentia-se insatisfeito.
Na verdade, fugia da própria infelicidade havia anos, mais esta o incomodava cada vez mais, levando-o a beber na tentiva de afogá-la.
Além de se distrair com mulheres, só aborrecia os irmãos, que haviam feito algo de suas vidas.
Ultimamente, porém, assolava-o a sensação de não ter mais para onde ir.
Atormentado com a idéia, bebeu o resto do vinho com uma avidez que pouco lembrava sua graça costumeira.
Estava bêbado, mantinha-se assim desde o Natal.
Mas não sabia como sair do fundo do poço que se tomara sua existência.
Seus pensamentos eram tão sombrios que não percebeu a aproximação do irmão Reynold, que anunciou:
— Visitantes, pai. Leais a Campion pedem uma audiência com o senhor.
Visitantes, o evento ideal para animar uma tarde de inverno medonha, considerou Stephen, servindo- se de mais vinho.
Recostado na cadeira, assistiu à entrada da comitiva liderada por duas mulheres idosas, uma dupla de aspecto estranho que não lhe despertou maior interesse. Suprimia um bocejo quando outra pessoa entrou.
Era bem mais jovem, mas tão paramentada que mal revelava detalhes, exceto parte do rosto sem contorno.
Sejam bem-vindas — saudou o duque de Campion.
As duas mulheres mais velhas se aproximaram, enquanto a jovem permanecia no lugar, como que relutante.
Stephen interessou-se ainda mais. Geralmente, os súdítos atiravam-se aos pés do duque como discípulos fervorosos.
Estaria a moça tão encantada com a riqueza do salão que criara raízes?
A mais alta das duas senhoras avançou, enquanto a mais baixa se movimentava ao redor de forma descoordenada.
— Oh, meu senhor, minha senhora! — invocou a mais baixa, sem fôlego. — Soubemos do casamento, claro, meu lorde, e viemos cumprimentá-los. O casamento será longo e cheio de fartura — entoou a mais alta, como se possuísse algum tipo de visão, e Stephen ouviu um murmúrio entre os servos próximos, algo sobre poderes místicos. Desconsiderou os comentários com um sorriso divertido.
Embora a maioria dos camponeses fosse supersticiosa, Stephen de Burgh não acreditava em nada menos tangível do que um bom vinho e uma cama macia.
Meneando a cabeça, encheu a taça de vinho e a ergueu em saudação silenciosa ao casal.
— Obrigado, senhora l’Estrange — agradecia o duque.
— Armes, meu lorde — ofereceu ela.
Por favor, sentem-se e descansem da jornada convidou Joy, num tom receptivo que irritou Stephen.
Quando iria se acostumar com a presença daquela mulher, sua madrasta, no castelo?
A casa de Campiou sempre fora uma província de homens e ele já estava velho demais para mudanças.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

A Noviça De Burgh

Série De Burgh


Que outra explicação haveria para aquela onda de casamentos na família de Burgh senão uma maldição?

E Robin de Burgh sabia que, pela ordem natural, seria a próxima vítima.
Determinado a não cair na mesma armadilha que os irmãos, saiu à procura da única pessoa que tinha poderes para desfazer a maldição lançada sobre sua família.
Mas o destino, por meio de um sórdido assassinato, aproximou-o de Sybil, uma dama que corria perigo de morte.
Burgh soube então que aquela jovem temperamental e rebelde era sua predestinada!
Quando os muros do convento tornaram-se mais uma prisão do que um refúgio, a rebelde noviça Sybil concluiu que já era hora de partir.
Porém, não esperava torcar o véu de noviça por um de noiva, mesmo quando sir Robin de Burgh, cavaleiro petulante, exigiu que ela pusesse a vida, assim como o coração, em suas mãos!


Capítulo Um

Os de Burgh haviam sido amaldiçoados.
Robin estava certo disso.
Embora a família continuasse próspera e poderosa, com todos os seus membros gozando de boa saúde, uma força traiçoeira enfraquecia sua união e os espalhava por todo o país. O nome dessa força era "casamento".
Apenas quatro anos antes, os sete filhos do conde de Campion eram solteiros e determinados a continuarem assim.
Então, como se governados por um braço invisível, um a um, Dunstan, Geoffrey e Simon haviam arranjado esposas.
Até mesmo o conde havia se casado, no Natal!
E, agora, Robin fora convidado a participar da comemoração do casamento de seu irmão, Stephen.
Observando o grande salão do castelo de Campion, Robin não se alegrou com a visão de tantos casais. Além de lamentar o destino dos irmãos casados, era o mais velho dos três de Burgh que permaneciam solteiros.
A ideia o deixava tenso, com razão. Não sabia o que os outros dois pensavam disso, mas já começava a transpirar.
Robin não tinha nada contra as mulheres, pois sabia que elas proporcionavam boa diversão. Porém, nem a mais bela o tentava a desejar uma união duradoura.
A simples idéia de se ver amarrado a uma mulher para sempre fazia Robin enfiar um dedo no colarinho, subitamente apertado demais.
Apesar de ser o membro mais bem-humorado da família, Robin tornava-se mais e mais taciturno, à medida que contemplava seu futuro.
Como homem e como cavaleiro, ressentia-se com a sensação impotência que sentia. Queria defender-se, mas de que valeria sua habilidade com a espada, diante de um fantasma? Robin cerrou os dentes, perguntando-se quanto tempo-ainda lhe restaria. Embora seus irmãos parecessem! ter se rendido sem lutar, ele se recusava a aceitar tal sina com tamanha facilidade.
Tinha de haver uma maneira de impedir o que estava por vir!
Robin aprendera que a razão podia resolver a maior parte de seus dilemas e, em circunstâncias normais, ele já teria pedido conselhos ao pai.
Infelizmente, o conde já se tornara vítima da maldição, e sua sabedoria já não era confiável. E, também, não faria sentido consultar os irmãos casados.
As opções de Robin estreitavam-se, e ele começava. a se desesperar.
Sempre acreditara que os de Burgh eram invencíveis, pois eram homens poderosos, guerreiros valentes, instruídos e habilidosos na administração de grandes propriedades.
A riqueza, a vida privilegiada e a inegável capacidade haviam resultado em uma arrogância nata, que ainda era visível, mesmo nos que haviam se transformado em maridos.
Robin, porém, sentia a sua confiança abalada.
Somente três de Burgh continuavam solteiros. Talvez já fosse tempo de pensarem juntos em uma solução.
Uma vez tomada a decisão, Robin pôs-se a procurar por Reynold entre os convidados. Encontrou o mais jovem sentado em um banco.
Reynold era taciturno de natureza, mas parecia ainda mais sombrio.
Robin perguntou-se se o irmão também estaria contando suas últimas horas.
Com um sorriso encorajador, Robin sentou-se o lado de Reynold, tentando encontrar as palavras certas para o que tinha a dizer.
Ninguém jamais tocara no assunto "casamento" abertamente, e ele não sabia como começar. Para sua sorte, Reynold falou primeiro:
— Você acredita nisso? Depois de se aventurar com tantas mulheres, não imaginei que Stephen decidiria se casar, ou abandonaria seu gosto pelo vinho.
— Nem eu — Robin concordou.
Estudou Reynold, mas como sempre, a expressão do irmão era incompreensível.
Robin, porém, estava determinado a prosseguir.
Os de Burgh sempre prefeririam morrer a admitir uma fraqueza, mas naquele caso, a honestidade poderia ser questão de vida ou morte.
E seu tempo estava se esgotando.
Juntos, talvez conseguissem pôr um fim à onda de casamentos, de preferência, antes do dele.
— Eu não esperava ver nenhum de nossos irmãos casado — Robin declarou. — Não acha estranho que estejam todos se casando... tão depressa?
Reynold limitou-se a dar de ombros e, por isso, Robin continuou:
— Pois eu acho. Acho mais que estranho. — Baixou a voz para um sussurro. — Na verdade, acho que se trata de uma maldição.
0 irmão virou-se para fitá-lo de olhos arregalados, mas Robin não se deixou intimidar.
— De que outra maneira pode-se explicar isso? — indagou. — Há poucos anos, éramos todos solteiros e gostávamos de viver assim. Agora, como se manipulados por uma força misteriosa, os de Burgh estão sendo acorrentados a mulheres, um a um, até mesmo papai! Precisamos fazer alguma cosia, antes de nos tonarmos as próximas vítimas!
Mais uma vez, Reynold permaneceu em silêncio, mas baixou os olhos para o copo de vinho que Robin tinha nas mãos, como se especulasse quanto o mais velho havia bebido.
— Não está preocupado? — Robin insistiu.
— Com o quê?
— Com a possibilidade de ser agarrado por uma mulher! De se tornar um deles!—apontou para os irmãos casados, acompanhados de suas esposas e parecendo totalmente enfeitiçados.
— Ora, não tenho tanta sorte! — Reynold retrucou de mau humor.
— Sorte? Acredite, eles foram amaldiçoados!


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burg
Série Concluída

O Cavaleiro Sombrio

Série De Burgh
 
A "ovelha negra" da família de Burgh é um título que a Reynold cai bem. Amargurado e ferido, este cavaleiro está viajando em peregrinação. 

Mas sua jornada é interrompida por uma donzela muito determinada que o prende pelo voto de cavaleiro - proteger e servir!
Sabina Sexton percebe seu salvador relutante e cético sobre seu pedido.
Mas o perigo é muito real, e Sabina deve colocar sua vida e seu coração - neste sombrio e perigoso cavaleiro .
"Uma aldeia deserta. Um dragão. Uma donzela em perigo."
A única verdade era a reação da bela donzela, um pedaço de realidade num lugar que parecia habitado pela fantasia. 
Quem poderia sonhar com aquele tipo de perigo?
Reynold não soube se Sabina Sexton pousou a mão em seu braço para atraí-lo a ficar ou se foi um gesto inocente.
Mas estava certo do que aconteceu a seguir.
Ele ouviu um leve arfar, o calor de seus dedos e a sensação do simples contato feminino e gentil, e então ela se afastou,com repulsa.
Era uma lembrança para não baixar sua guarda ou deixar alguém chegar perto demais, e como tal era bem-vindo.
Reynold não podia esquecer o incidente tão facilmente, quanto outros em seu passado. Era muito vivo em sua mente, muito insultante, mais uma decepção.
Mas, intimamente, ele esperava que Sabina Sexton fosse diferente...
Capítulo Um

Reynold de Burgh demorou-se nas ameias de castelo e olhando acima das terras da sua família, com a primeira luz , vestida de lânguido rosa do amanhecer no horizonte.
Ele tinha planejado deixar sua casa por uns tempos, mas agora que o instante chegou, a separação era mais penosa que imaginou.
Ele amava Campion e suas pessoas, e sentiu um impulso traiçoeiro de ficar, embora já tivesse tomado sua decisão.
Reynold podia demorar, mas ele soube que hoje não seria diferente.
Ele teve só que esperar até que seu pai, o Conde de Campion, levasse sua nova esposa até o corredor, para ser lembrado das mudanças que aconteceram no castelo.
Embora Reynold amasse e venerasse seu pai e gostasse de Joy, sua felicidade era uma lembrança áspera de sua própria carência.
Nos últimos anos, cinco de seus seis irmãos tinham se casado, e Reynold estava dolorosamente ciente que ele era o próximo na linha.
Embora ele não sentisse nenhuma raiva ou pesar pelos casamentos que guiaram seus irmãos para esposas e famílias próprias, ele sabia que o futuro não assegurava o mesmo para ele.
Logo todos em Campion contariam com Reynold ou seu irmão mais jovem Nicholas, perguntando-se e sussurrando quem seria o último de Burgh a cair.
Reynold decidiu que era mais fácil ir, escapar das perguntas e dos olhares penalizados que seguiriam, como também da felicidade dos outros.
Quando Campion iniciou as boas vindas às novas filhas e netos que aumentavam a família, ele esperou ser esquecido.
O pensamento o fez se arrepender dos instantes preciosos que desperdiçou neste último adeus, e apressou sua volta pelo castelo ,para a muralha onde seu cavalo estava aguardando.
Não falou com ninguém de seus planos, mas deixou uma mensagem, dizendo a seu pai que ele estava fazendo uma peregrinação.
Embora ele não tivesse nenhum destino real em mente, aquela explicação impediria sua família de vir atrás dele.
Uma peregrinação, se para um santuário local ou para outro lugar mais longínquo, era uma decisão pessoal que devia manter seu pai e irmãos à distância.
Reynold não quis que eles deixassem suas esposas e filhos, para seguir à zona rural com ele — especialmente quando não desejava ser encontrado.
Atento aos empregados e homens livres, que eram ativos ao amanhecer, Reynold estava para montar em seu cavalo quando ouviu o tinido de sinos, que vinham das sombras próximas às portas de castelo.
O som poderia ter sido qualquer coisa, e ele se desanimou achando que talvez tivesse que esperar muito tempo para fazer sua fuga.
Sua suspeita foi logo confirmada pela visão de uma mulher rechonchuda, pequena, se dirigindo apressadamente à ele.
Are! Ela vibrou, agitando um braço, que fez os sinos minúsculos em sua manga tinirem.
Reynold abafou um gemido.
Desde que seu irmão Stephen casou com Bridgid l’Estranges , suas tias eram bem-vindas a ir e vir a Campion ,conforme sua vontade.
Elas eram gentis e ofereciam boa companhia para Joy, em uma casa composta principalmente de homens, mas existia algo sobre as duas que fizeram sua aparição repentina , nesta hora, não esperada.
Reynold estreitou os olhos:
‘Eu peço seu perdão, Srta. Cafell, mas eu não tenho tempo para ficar.
-Oh, nós sabemos que você quer partir - ela disse, agitando uma mão rechonchuda e sua irmã Armes surgiu das sombras , para juntar-se ela.
Reynold jurou que elas não o abalariam com sua conversa.
De fato, ele diria a elas que iria verificar a represa ou quaisquer umas das várias tarefas que ele realizava junto a seu pai e o oficial de diligências, de forma que se livraria delas.
Porém, quando abriu a boca, falou o que se passava por sua mente naquele momento..
‘Não tentem me impedir’
‘Nós não sonharíamos com isto, meu querido - Cafell disse, levantando uma mão, para bater levemente em seu braço.
‘Claro você deve ir. - Mais alta que sua irmã, ela ergueu seu queixo para o olhar seriamente. ‘É seu destino, para completar sua busca.


Série De Burgh
1 - O Lobo Domado
2 - O Anel de Noivado
3 - Coração de Guerreira
4 - Uma Visita Inesperada
5 - Um Lorde para Amar
6 - Noviça De Burgh
7 - O Cavaleiro Sombrio/ Reynold De Burgh
8 - O Último De Burgh
Série Concluída

12 de junho de 2009

Coração Mudo





Capítulo um

Outubro, 1792


Dominique debruçou-se sobre sua cômoda, puxando impacientemente as gavetas antes de lançar seus dedos na captura de seus conteúdos.
Lançou de lado um cachecol tremeluzente de gaze que ficou apenas momentaneamente no alto do guarda-louça antes que deslizasse sobre a borda,carregado como uma chapa embutida da porcelana de Sèvres que deslizou vivamente ao assoalho com o ruído de uma cachoeira. Um leque delicado de marfim seguiu, tinindo no serviço de mármore, onde rolou repetidamente, o pequeno som cortante como uma faca através do silêncio pesado.
Como se em resposta, uma voz sussurrou do outro lado do recinto. "Depressa",
dizia, e Dominique olhou para cima, agitada pela urgência investida nas palavras.
A luz do único candelabro criava grandes sombras dançantes nas paredes brancas revestidas de painéis e no teto pálido, tornando difícil penetrar os cantos mais profundos; ninguém além de Dominique via sua criada pelas janelas. Thérèse psicionava-se como uma pedra, seu corpo esguio e jovem tenso jogado para trás como um espesso veludo balançando na escuridão.
Sua mão apareceu pálida e gélida contra a cortina, enquanto ela olhou a vastidão abaixo. Apesar de ter falado suavemente, suas palavras continham mais terror que um grito.
- Eles estão vindo - ela disse. Foi tudo que ela tinha que dizer.
Por um instante, Dominique enfiou estupidamente um minúsculo lenço que ela puxara de uma gaveta, então ela deixou-o cair e correu para onde sua criada se posicionava.
Com os dedos trêmulos, ela gesticulou para que a criada puxasse para trás a margem da cortina.
Num primeiro momento tudo o que ela podia ver era a obscuridade, mas seus olhos se ajustaram, o brilho pálido da lua ajudou-a a detectar seus marcos familiares de picareta nos gramados abaixo. Tudo pareceu como devia ser até que ela viu as luzes, baixas demais para serem estrelas, que cintilaram na inclinação da colina. Com um suspiro involuntário, Dominique identificou o tremeluzir do brilho das tochas que assinalavam a aproximação dos aldeões.
- Estou quase pronta - ela disse suavemente para a garota a seu lado, mas Thérèse, ainda com o olhar perscrutador na noite, não respondeu. Dominique também achou difícil tirar seu olhar da terrível, contudo compelente, cena. Foi como se todo o medo e o pavor de poucas horas atrás, certamente dos últimos anos, tomassem forma diante de si, coalescendo nas fagulhas e agarrando-a como um coelho na toca.
Ela não gostava desse sentimento e, com um vagaroso balançar de cabeça, expulsou a imagem de si mesma como a presa indefesa de um caçador.
Deixando cair sua mão, Dominique virou para longe da janela e lembrou a incumbência que guiava seu pensamento antes da visão das tochas. Ela correu de volta à cômoda, mas em seu atordoamento, o xale que foi envolvido precariamente em torno de seus ombros enganchou-se em uma das gavetas abertas. Dominique puxou o xale frustrada, espalhando artigos de tocador e lembranças no chão.
Frascos de vidro caíram silenciosamente no profundo carpete, derramando seu precioso perfume sobre cartas ora estimadas, laços de cabelo favoritos e leques frágeis.

8 de janeiro de 2009

Série Lacis

Comecei a ler este romance pensei que não era tão bom.
Mas é surpreendente ...o suspense é tanto que você vai querer ler até o fim rapidinho acredite!!!


1 - BODAS DE FOGO
Isadora de Laci
Feito um vendaval, Isadora invadiu o castelo de Dunmurrow para reivindicar o Cavaleiro Vermelho como marido!
E Piers percebeu que sua vida mudaria para sempre.
Mas uma mulher tão ardente e cheia de luz iria aceitar viver uma paixão envolta pelas trevas?


Piers Montmorency
Diziam que o misterioso Cavaleiro Vermelho não era um simples mortal.
Que fizera um pacto com demônio, em troca de se tornar um guerreiro invencível. Isadora, porém, podia sentir com todo o seu ser que as sombras do enigmático e fascinante Piers ocultavam um segredo muito mais profundo...

Capítulo Um

Isadora sentia-se como um verdadeiro presente de Natal!
Ou talvez uma iguaria deliciosa, aguardando o momento de ser devorada pelos cavaleiros famintos que se moviam lá embaixo como um punhado de cães raivosos e famintos.
Todos, sem exceção, tinham se empanturrado de vinho, cerveja e comida.
Agora pareciam ansiosos para receber um prêmio especial.
Até se poderia pensar que as festas de fim de ano já haviam chegado, tal a maneira como se banqueteava aqui, na corte do rei Edward.
A cena lhe causava tamanha aversão que Isadora não conseguiu controlar a expressão nauseada do rosto.
Porém ao perceber a aproximação de sua aia, virou-se imediatamente de costas.
Não queria ser vista assim, vulnerável e impotente, quando sempre soubera enfrentar qualquer situação.
Mas Edith, tendo carregado-a no colo desde que nascera e a acompanhado ao longo da vida, podia reconhecer o estado de ânimo que a dominava a distância.
- Que foi, minha lady? - a mulher indagou baixinho.
- Que foi? Isadora sorriu amarga, a voz normalmente melodiosa vibrando de raiva e desprezo. – Sinto-me o prêmio de um torneio, toda embrulhada e enfeitada num gesto irritado, passou a mão pelo vestido bordado e pela capa debruada de arminho esperando ser entregue ao vencedor.



2 - ESPOSA VIRGEM
Bretanha, Idade Média

Sophie Hexham ficou desapontada com o desinteresse de Nicholas de Laci em fazer-lhe companhia no leito nupcial...É que Nicholas, obrigado a se casar, por ordem do rei, com a sobrinha de seu maior inimigo, jurara vingar-se fazendo-a sofrer.  Mas Sophie sabia como conquistar o coração do marido de uma maneira que ele jamais imaginara!

Capítulo Um

Idade Média

Com olhar sombrio para a caneca de cerveja, Nicholas de Laci apoiava-se à parede. 
Não estava embriagado. Nunca bebia demais. 
Isso lhe embotaria os sentidos e os dele eram afiados como uma navalha. Como prova disso, levantou a cabeça ao ouvir um ruído na entrada do salão.
Mantinha o olhar alerta ao menor sinal de perigo.
Mas tratava-se apenas da irmã Isadora com o bebê no colo.
Hexham não passaria por ali outra vez.
Apesar da disciplina férrea, a idéia invadiu-lhe a mente como um fantasma negro.
Por um momento, Nicholas debateu-a. Seu inimigo estava morto.
O vizinho, que o tinha abandonado ferido na Terra Santa e voltado para roubar-lhe as terras, perecera neste mesmo salão, nas mãos de Piers, o marido de Isadora.
O fato o privara de exercer a vingança.
Nicholas olhou para as duas cadeiras pesadas, na frente do salão, onde a cena se passara.
Mas os ladrilhos já tinham sido lavados e o sangue de Hexham se fora para sempre. Nicholas jamais o veria soluçar e, assim, não sentiria o prazer da vingança tão arraigada em sua alma.
Desde então, nesse último ano, ele tentara executar outras mortes, trabalhando como soldado contratado.
Todavia, o extermínio de estranhos significava tão pouco quanto as parcas moedas recebidas em sua troca.
Nicholas já possuía fortuna e uma próspera propriedade.
Construído pelo pai, Belvry era um castelo moderno que provocava a inveja de seus pares.
O fato, entretanto, não lhe provocava satisfação.
Por isso, estava ali, no local do desapontamento amargo, em busca de alento para o vazio em que sua vida se tomara.
Nicholas apertou os dedos em volta da caneca.
Na verdade, não encontrava estímulo em nada, pois tudo perdera o significado para ele. Sua irmã havia mudado muito nesses cinco anos que ele passara na Terra Santa. Ele nem mais a reconhecia.
Nicholas também se ressentia do fato de o cunhado tê-lo privado do que mais desejava:
tirar a vida de Hexham.
― Nicholas! Eu não o vi aí encostado na parede. O que pretende fazer esta tarde? ― Isadora perguntou com aquele meio sorriso desconfiado, com o qual ele já se acostumara.
A irmã linda, de cabelos loiros, não sabia o que fazer com ele, mas isso não o surpreendia.
Ele próprio não sabia o que fazer consigo mesmo.
― Nada ― respondeu Nicholas com olhar indiferente.
Isadora sentou-se num banco e dirigiu-se à filhinha:― Veja, Sybil, é seu tio Nicholas.
Ao ouvir a voz terna e amorosa, ele quase não acreditou.
A Isadora que ele conhecia era uma jovem altiva, castelã eficiente, mas incapaz de demonstrações afetivas.
Agora, em vez de deixar a criança sob os cuidados da babá, carregava-a para todos os cantos grande parte do tempo. Difícil entender tal atitude.
Um movimento na entrada chamou-lhe a atenção.
Virando-se depressa, Nicholas viu Piers entrar no salão.
Homem de estatura avantajada, o marido de Isadora seria capaz de intimidar as pessoas, mas raramente o fazia.
Ele parecia deliciar-se com o mundo em volta, do qual se vira desligado durante uma crise de cegueira temporária.
― Piers! ― exclamou Isadora sem esconder a alegria. ― Veja, Sybil, é o papai ― acrescentou, sacudindo a mãozinha da criança para o cavaleiro imponente.
Talvez algo durante o parto houvesse danificado a mente da irmã, pensou Nicholas não pela primeira vez durante a estadia ali.
― Fique no colo do titio enquanto recebo seu pai -― disse Isadora.
Para horror de Nicholas, ele viu-se com a sobrinha no braço.
Era pequena, gorda e sem um fio de cabelo.
Cheirava a uma mistura de leite e sabonete. Ele a estrangularia caso lhe sujasse a túnica.
Com a caneca de cerveja em uma das mãos e o bebê no outro braço, Nicholas dirigiu um olhar impotente para a irmã. Porém, ela já se afastava.
Atônito, viu-a atirar-se nos braços do marido.
Nicholas jamais se acostumaria àquele comportamento.
Numa cena constrangedora, o casal beijou-se apaixonadamente como se estivesse em seu quarto.
Talvez a crise de cegueira também houvesse perturbado a mente do cunhado, refletiu Nicholas.
A criança percebeu de repente onde estava e pôs-se á chorar alto.
Nicholas estremeceu e imaginou se não deveria deixar logo o castelo de Dunmorrow. Sentia-se embaraçado ao lado desse trio estranho, mas feliz.
Em comparação à deles, sua vida parecia mais vazia e sem propósito.
― Pegue aqui ― disse ele, estendendo a criança para a mãe.
― Pronto, Sybil. Você deve estar com sono ― Isadora murmurou.
Admirado, Nicholas não entendeu como a irmã falava com aquela coisinha como se pudesse ser entendida.
O estômago contraiu-se e ele lembrou-se de que precisava comer algo.
Mas como tudo, os alimentos não lhe despertavam o interesse.
Resolveu concentrá-lo no gigante loiro que teimava em chamá-lo de irmão.
― Nicholas! ― Piers exclamou com afetividade irritante.
Como o Cavaleiro Vermelho ousava encará-lo com aquela franqueza e como se enxergasse o vazio de sua alma?
Como se atrevia a dar-lhe conselhos quando este castelo era uma lástima se comparado a Belvry?


Série Lacis
1 - Bodas de fogo
2 - Esposa Virgem
Série Concluída