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25 de fevereiro de 2011

Feitiço Branco

Série Cabo Hatteras
Kinnahauk fitava incrédulo a criatura pálida e frágil deitada na areia. Então era aquela a virgem que o grande Espírito lhe prometera trazer do outro lado das águas? 

A marca feita a fogo na testa da moça branca confirmava a profecia.
Temerosa, Bridget examinou o magnífico selvagem seminu que tinha diante de si.
Com certeza ela estava longe das colônias inglesas e do fazendeiro com quem prometera se casar.
Seria possível que tivesse escapado de morrer queimada como feiticeira na Inglaterra apenas para cair prisioneira de um índio de olhos dourados?
Fugir era o único pensamento claro na mente atordoada de Bridget enquanto Kinnahauk apertava os punhos com força e erguia os olhos para o céu que começava a escurecer. Só podia ser um castigo dos Deuses!

Capítulo Um

Inglaterra, 1681
Os trovões rugiam no céu, enquanto Bridget, apressada, cruzava a cerca em direção ao seu chalé.
Ela franziu a testa, olhando as nuvens escuras. Promessas vazias. Segurando três ovos em seu avental, ela saltou o leito seco de um riacho, marcado pelos cascos do gado sedento.
Se não tivesse tanta coisa a fazer, iria até a fonte de água para molhar os pés.
Mas levara mais tempo do que esperava, aplicando o cataplasma ao pé inflamado de Sarah Humphrey.
A velha cacarejava como uma galinha e era capaz de inventar um semnúmero de motivos para ter sua companhia.
Tanto ela quanto sua mãe, Anne, tinham avisado a mulher para não andar descalça nos lugares onde os animais defecavam, mas Sarah estava ficando cada vez mais esquecida.
Não que Bridget se importasse de parar na casa de Sarah por alguns instantes, quando ia alimentar os gatos e galinhas.
Fizera isso todos os dias, durante a última semana, sempre levando comida e o cataplasma. Mas havia outros que precisavam de sua ajuda.
Ela estava se aproximando do chalé de dois cômodos, que dividia com a mãe, quando ouviu as vozes.
De início, pensou que fossem apenas os trovões que rugiam há tanto tempo, enquanto as plantações morriam de sede nos campos e as folhas tornavam-se marrons antes da hora. Mas o tom agudo de Dodie Crankshaw era mais parecido com os gritos de um galo do que com um trovão.
— É ela, eu já disse! Vi tudo com esse zólho meu!
— Ela é uma bruxa, eu juro! O leite da vaca de John não secou? E a minha mãe não ficou manca?
Bridget começou a correr, suando só de pensar em sua tímida mãe sozinha e incapaz de se defender da geniosa megera.
Anne tivera, recentemente, uma infecção da garganta, que a privara da voz e, até o momento, o chá de casca de elmo pouco alívio lhe trouxera.
A atmosfera estava se tornando mais opressiva, a cada momento. Nem o mais leve sopro de vento agitava as folhas murchas das árvores próximas.
O céu acinzentado lançava uma luz fantasmagórica sobre o canteiro de ervas bem cuidado, que era o domínio de Bridget, e o ar pesado intensificava seu aroma pungente. Bridget deixou cair os ovos que carregava, sem pensar em suas cascas frágeis.  A toda velocidade, passou pelo pé de malvarosa e dobrou o canto do minúsculo chalé.
— Mãe? Cheguei! Vim... Não! Por favor, meu Deus, não!


Série Cabo Hatteras
1 - Feitiço Branco
2 - Anjo Apaixonado
3 - Mar de Desejo
Série Concluída