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18 de julho de 2015

Sombras da Noite







Resgatada das ruas de Dublin...

Caitlyn O’Malley se encontrou sob o amparo de Connor D’Arcy, de dia conde de Iveagh e de noite o mais ousado salteador de estradas da Irlanda.
Das ruínas do castelo de Donoughmore, o valente nobre sai para roubar os odiados ingleses.
Logo Caitlyn cavalgará ao seu lado, atormentada pela crescente paixão que sente pelo homem que a converteu em mulher e, entretanto, trata-a como a uma menina… até essa noite infernal em que Caitlyn se viu obrigada a trair Connor para salvá-lo.

Capítulo Um

Caitlyn O’Malley era uma jovenzinha, mas ninguém o teria sabido se a tivessem visto pelas estreitas ruelas empedradas de Dublin aquela nebulosa tarde de abril de 1784. Nos últimos oito anos dos quinze que tinha vivido, tinha fingido ser um moço. Tanto êxito teve que ela mesma esquecia às vezes seu verdadeiro sexo. Seu negro cabelo emaranhado estava cortado de tal maneira que quase não chegava aos ombros.
Uma capa constante de fuligem escurecia suas feições delicadas.
 Seus enormes olhos azuis, grandes como ágatas em um rosto marcado pela fome, passavam quase despercebidos em meio de toda a sujeira. Um casaco velho e puído cobria seu corpo esguio e suas calças eram dois tamanhos maiores do que o necessário. 
Parecia-se muito ao menino esfarrapado de doze anos que a acompanhava.
—Por Deus, O’Malley, que aroma mais maravilhoso!
Willie Laha se deteve para cheirar com inveja a bandeja de bolos de carne que o vendedor estava acomodando em sua carroça. 
Estavam tão frescos que saía fumaça deles. Ao ver o exterior dourado e sentindo o seu delicioso aroma, Caitlyn sentiu a boca cheia d’água. A fome lhe retorceu o estômago. Nem ela nem Willie tinham comido a noite anterior nem em todo o dia, e já estava se aproximando a noite outra vez. 
As sobras para o jantar eram provavelmente escassas. Os grupos de rapazes, meninos e mendigos que se escondiam nas guaridas perto da Rua O’Connell eram tão famosos que os comerciantes quase andavam armados. A vida de um menino valia tanto como uma maçã. 
Com a feira de rua e os trabalhadores das docas nas ruas todas as noites, deveria haver abundantes sobras. Mas os farristas cuidavam de suas bolsas e os comerciantes olhavam com olhos de águia seus bens. Só uma semana atrás, Tim O’Flynn, um membro da turma de meninos, que era o mais próximo a uma família que Caitlyn tinha tido desde que sua mãe morreu, tinha sido enforcado por roubar duas ameixas e um pedaço de pão. 
Com esse exemplo em mente, Caitlyn era mais precavida do que o habitual, embora a fome estivesse começando a minar sua acostumada prudência. Se não se decidisse a roubar, não comeria.
—Ei, você! Te mova ou te dou uma surra! —O grito provinha do comerciante com o rosto vermelho que tinha notado seu interesse e os ameaçava com um pedaço de pau na mão. Caitlyn lhe respondeu com um gesto grosseiro, mas não resistiu quando Willie a empurrou pela rua, a qual estava isolada pelas carroças de vendedores que ofereciam desde bolos de carne até sapatos de couro.
—É melhor que fiquemos quietos até que Doley e os outros venham. Só nós dois não temos muitas oportunidades.
Caitlyn franziu o cenho ante a cautela de Willie. O destino de O’Flynn estava convertendo em mulherzinhas a muitos deles. Tinham que sacudir de cima esse espectro se quisessem comer com regularidade.
Era pura tolice pensar — como Willie e alguns dos outros — que estavam perseguidos pela má sorte. O’Flynn não tinha sido o suficientemente cuidadoso ou rápido. A lição que deviam aprender não era deixar de roubar a não ser assegurar-se de não ser apanhados. E ela não o seria. Sempre tinha sido cuidadosa e, além disso, era a mais rápida de todos. Nenhum comerciante gordo a apanharia, como tinha acontecido a O’Flynn. E Jamie McFinnian, que tinha sido enforcado um mês antes que O’Flynn, sempre tinha sido torpe.
Que tivesse escapado até então era um milagre, nem mais nem menos. Não, não era que a má sorte os perseguisse. Não era nada mais que desajuizados.
—Olhe ali. — Com a cabeça dirigiu a atenção de Willie a um ângulo mais afastado da rua. Um homem alto e esbelto, vestido com elegância, abria caminho com despreocupação através dos sujos trabalhadores das docas que, com suas mulheres, começavam a encher a rua. 
Enquanto eles olhavam, o homem tirou um relógio de ouro do bolso, abriu-o com a unha de seu polegar bem cuidada e o olhou um momento antes de voltar a pô-lo em seu lugar despreocupadamente. 
O desdém torceu a boca de Caitlyn em uma careta. Obviamente o cavalheiro era um recém-chegado da maldita Inglaterra, um dos membros da odiada casta governante, e ninguém lhe tinha avisado que não se aventurasse aos perigosos bairros irlandeses da cidade. Passeava como se não lhe importasse o mundo, alheio aos olhares sombrios que recebia da maré de oprimidos que o rodeava.
—O cordeiro justo para a tosquia, Willie, meu amigo. — Os olhos de Caitlyn brilharam com uma combinação de avareza e ódio quando se fixaram no cavalheiro. O ódio não tinha nada a ver com ele
como pessoa. Os irlandeses odiavam aos ingleses desde seu nascimento. Era algo que levavam no sangue e nos ossos.
 




24 de novembro de 2013

Mar De Fogo

Série Hale
A saga tempestuosa de Lady Catherine Aldley e do pirata Jonathan Hale, que começou em Paixão na Ilha, agora continua em Mar de Fogo... 

O que pode uma bela cativa dizer para um sensual pirata cruel? 
Ele era seu marido, seu amante, o pirata que tomou seu corpo, em seguida, roubou o seu coração. 
Lady Catherine Aldley fugiu da Inglaterra para construir uma casa com o infame Jonathan Hale na Carolina. Mas a sua vida perfeita foi quebrada quando Cathy foi convocada a voltar à Inglaterra por seu pai doente, e descobriu que seu casamento com Jonathan era uma farsa. 
Ele era um homem procurado, a um passo da forca. A única maneira que achou para salvá-lo era se casar com seu desprezível primo, e deixar Jonathan achar que tinha traído o seu amor. 
Qualquer coisa, menos "não". Com um preço sobre a sua cabeça e a vingança em sua alma, Jon Hale liderou um motim a bordo do navio-prisão Cristobel e recapturou a sua esposa infiel. 
Cathy disse que o odiava, mas se derreteu ao seu toque, mesmo quando Jon tentou desprezar o que mais desejava. 
 Em seguida, o destino ameaçou separá-los para sempre e Jon arriscou sua vida para resgatar a mulher que ele não poderia viver sem...

Capítulo Um

No final dos dias do verão de 1844, Lady Catherine tinha chegado à plenitude de sua beleza. Seus brilhantes cabelos avermelhados com reflexos dourados, uma espessa cabeleira de cachos que ao soltá-los chegavam à cintura, estavam recolhidos em um coque frouxo no alto da cabeça para lhe fornecer um pouco de ar fresco. O penteado formava uma radiante auréola dourada que lhe emoldurava o pequeno rosto cada vez que os raios do ardente sol da Carolina do Sul lhe acertavam de frente. Seu rosto era arrogantemente adorável, um oval quase perfeito onde predominavam incríveis olhos azuis celestes rodeados de sedosos cílios escuros e separados, o qual acrescentava um toque de exotismo a sua beleza loira. Quanto ao resto, tinha maçãs do rosto altas, aos que o sol tinha tingido de uma cor pêssego intensa, um nariz pequeno, delicado e reto, boca de lábios sensuais da cor das cerejas, que eram alvo das brincadeiras de seu marido, pois dizia que foram feitos expressamente para que os beijassem, e um pequeno queixo voluntarioso, claro indício de um caráter oculto muito forte.
Era uma moça pequena de ossos frágeis, mas seu corpo harmonizava perfeitamente com seu rosto, por sua delicadeza e elegância. Os peitos eram redondos e eretos, do tamanho exato para caber na palma em concha de uma mão máscula (isto, também, dito por seu marido). A cintura era estreita e os quadris deliciosamente curvados terminavam em pernas esbeltas e proporcionais.
Nesse dia particular de agosto, Cathy tinha posto um vestido informal devido ao intenso calor. Mas a mesma simplicidade do vestido decotado de musselina para as tardes, com saia ampla franzida e pequenas mangas bufantes, que eram a moda da temporada, lhe caia muito bem e acima de tudo, por causa do amarelo ofuscante do tecido que ressaltava a suavidade de porcelana de sua pele.

Tinha só dezenove anos, mas era mais mulher que menina. A expressão natural de doçura de seu rosto se acentuou quando, ao olhar pela janela da sala de estar, viu aparecer o homem que a tinha feito mulher. Era evidente que Jon vinha do trabalho e que acabava de deixar os campos cultivados. Um sorriso indulgente brincou nos lábios de Cathy ao ver que seu marido estava imundo, o suor escorria por seu rosto moreno e tinha deixado marcas de linhas mais escuras, a umidade da tarde lhe tinha cacheado mais que nunca os cabelos negros. Essas ondas rebeldes eram na verdade a grande aflição de sua existência. Os calções e a camisa de cor branca foram cobertos com uma fina camada de areia como as botas de cano alto que sempre usava e o chapéu de abas largas que nesse momento trazia na mão. Jon trabalhava até esgotar-se fiscalizando os cultivos de algodão nas vastas terras do Woodham. Cathy reconhecia que ele o fazia unicamente por ela e pelo pequeno filho de ambos, Cray, de apenas quinze meses de idade. Do fundo de seu coração acreditava que Jon, às vezes, tinha saudade da vida de pirata, errante e desenfreada, que tanto tinha desfrutado antes, o matrimônio e o nascimento de Cray lhe empurraram para a respeitabilidade. Mas sempre foi muito bom em piratarias pelos mares, como ela lhe repetia frequentemente, teria acabado sua vida da única forma possível: com uma corda no pescoço em algum andaime. Duas vezes tinha escapado dessa sorte, e Cathy não tinha nenhuma intenção de que voltasse a tentar o demônio uma vez mais.  O sorriso de Cathy aumentou ao ver, dobrando a esquina da casa, Cray nos braços da Martha, sua roliça babá que lhe cuidava com amor de avó. Martha também tinha sido a babá de Cathy, quase desde o dia de seu nascimento. Depois da morte de Lady Caroline Adley, a mãe de Cathy, quando a menina só tinha sete anos, Martha tinha assumido plenamente a tarefa de sua criação. Cathy amava profundamente Martha e esta por sua vez, protegia com ferocidade tanto a Cathy como Cray. Logo depois de certas desconfianças mútuas, Jon também tinha entrado no círculo mágico de sua devoção. Martha teria prazer de dar sua vida por qualquer um dos três, acreditava Cathy, mas de todos eles, e disso sim estava segura, Cray era o preferido de seu coração. Isso a fazia realmente feliz.

Série Hale
1 - Paixão da Ilha
2 - Mar de Fogo
Série Concluída

13 de outubro de 2013

Paixão Na Ilha

Série Hale

Lady Catherine Aldley estava a caminho de Londres quando piratas atacaram seu navio.

Bem a tempo o capitão Jonathan Hale a salvou de seus próprios homens, varrendo-a em seus braços, mostrando sua reivindicação sobre a filha mimada do embaixador da Inglaterra em Portugal. 
Tudo que Catherine tinha eram sua inteligência e vontade para vencer seu captor em seu próprio jogo. 
Seus beijos tórridos acenderam paixões estranhas, mas ela prometeu fazer dele seu prisioneiro do desejo... 
Ele era um pirata lendário, ousado, triunfante, livre. Jonathan Hale nunca tomou cativos e sempre escapou das armadilhas da paixão, até que viu a beleza teimosa que não podia deixar para trás. 
Ela era fogo e gelo, uma senhora indignada perante todos e uma tigresa em seus braços. 
Cathy se recusou a ser tratada como uma cativa, mas cedeu ante a sensualidade de Jonathan, que conquistou seu corpo e alma. 
Ele a fez amar o verdadeiro perigo, e ela o fez expor os seus medos mais profundos e seu coração rebelde... 
Este best-seller premiado da autora Karen Robards dá vida a dois personagens extraordinários, uma beleza aristocrática e um pirata famoso, em uma história de amor apaixonante repleta de aventura e desejo desenfreado...

Capítulo Um


Lady Catherine Aidley era linda e ela sabia disso. Era muito consciente da sua aparência, apoiada contra o corrimão do convés do navio Anna Creer, com a brisa que lhe agitava os cabelos e o pôr do sol que transformava em uma chama esplendorosa sua cabeleira em um vermelho dourado. O vento que vinha do mar batia direto em suas bochechas e os olhos azuis brilhavam.
Só tinha dezessete anos e durante toda sua vida sempre a mimaram e protegeram. A mãe tinha morrido dez anos antes e ela foi criada por uma babá e por várias governantas cujo único dever era ensinar a jovem pupila as coisas que, em 1842, eram importantes para uma dama: tocar harpa e piano, pintar aquarelas sem graça, falar francês tão bem como a língua nativa, parecer doce, olhar ingênuo e infantil todo o tempo. Neste último aspecto, as governantas foram bem sucedidas - apenas em parte, embora Cathy fosse capaz de cumprir o papel de uma jovem bem educada quando lhe convinha, mas do contrário era uma verdadeira moleca, mais de uma governanta foi embora se desmanchando em muitas lágrimas por suas explosões, jurando não voltar, o que na opinião de Cathy dava igual. Não desejava aprender nada do que continham os livros. Queria viver a vida, não ler a respeito dela!
— Essa moça é uma ignorante! – Seu pai resmungou, indignado, em certa ocasião, sem faltar nem um pouco com a verdade.
Cathy mantinha uma suprema indiferença diante da insistência das governantas que a forçavam para colocar alguma educação em sua cabecinha impertinente. Era um grande sofrimento para seu pai, descobrir que as poucas coisas que aprendia tinham que ser a força.
Ao conhecer seus planos Cathy chorou e esperneou, mas quando o seu pai se decidia era tão teimoso como ela. Finalmente, a moça se cansou e o pai, com ajuda da babá, conseguiu convencê-la da conveniência de seu plano. Era verdade que adoraria ser apresentada à rainha Vitória, que no quinto ano de reinado tinha vinte e três anos e, portanto, não era muito mais velha que a própria Cathy, mas a Inglaterra ficava muito longe e foi a quase sete anos que a deixaram. E se os homens não a achassem atraente? Talvez em Londres a moda fosse às morenas e não as loiras encantadoras. O pai e a babá, cada um a sua maneira, asseguraram-lhe que sua beleza era incomum e se sairia vitoriosa de qualquer comparação e Cathy se deixou convencer. No começo da sua adolescência era bela e formosa e nem lhe passava pela imaginação que algum homem não a admirasse.
Uma vez que a tempestade de acusações passou, o conde suspirou aliviado e disse a si mesmo que quando se reunisse com sua filha na Inglaterra teria que cuidar de corrigir seus caprichos. Depois se concentrou em fazer os acertos para a viagem de sua menina, coisa nada fácil nessas épocas turbulentas. Nos últimos tempos se falava muito de um bando de piratas que infestavam as águas portuguesas e faziam prisioneiros os navios que não navegavam armados. O conde se estremeceu diante da ideia de que sua filha caísse nas mãos de sujeitos que não teriam respeito pela sua inocência e a posição elevada da jovem.
Quando o conde ouviu mencionar de um amigo que zarparia no navio Anna Creer para a Inglaterra, pareceu-lhe uma resposta as suas preces. O navio Anna Creer estava emprestado da Inglaterra pela Marinha portuguesa, estava com proteção contra armas de fogo e equipado com artilharia. Nenhum pirata se atreveria a atacar um navio tão formidável!
Foi surpreendentemente fácil arranjar uma passagem para Cathy a bordo do Anna Creer. Fazia parte de um reduzido grupo de passageiros do navio que, até essa viagem, só realizava operações militares. Nem o conde nem a filha se perguntaram por que, de repente, o navio Anna Creer lhe permitia transportar civis.

Série Hale
1 - Paixão na Ilha
2 - Mar de Fogo
Série Concluída

28 de setembro de 2013

Coração Negro

Trilogia Irmãs Banning
Uma bela jovem vê sua vida transformada quando um belo canalha cruza seu caminho. 

Lady Elizabeth, a mais jovem e teimosa das três irmãs Banning, provoca um escândalo cada vez que rompe um compromisso. 
A sociedade a considera uma descarada, mas é o temor de que um homem seja seu dono o que fez dela uma rompe corações. 
Neil Severin, um belo canalha com o coração tão negro como sua reputação, é um assassino do governo que agora caiu em desgraça. 
Seu último alvo era um cavalheiro muito querido por Beth, e ela frustrou seus planos. 
Neil promete a si mesmo utilizá-la para seus propósitos, mas então as circunstâncias os convertem em inesperados companheiros de aventuras…

Capítulo Um

Abril, 1817

Aquilo era culpa como sempre de seu condenado temperamento, pensou lady Elizabeth Banning com abatimento enquanto elevava a vista à cara avermelhada de seu último prometido.
— Está dizendo que irá me deixar? — exigiu William com incredulidade.
O conde de Rosen era de estatura mediana e possuía uma constituição um tanto robusta que, conforme suspeitava Beth, tenderia a acumular gordura com a idade. Mas agora mesmo tinha vinte e seis anos, mandíbula quadrada, traços agraciados, faiscantes olhos azuis e espesso cabelo loiro cortado segundo o imperante estilo romano. Era considerado um homem atraente por centenas de mulheres interessadas nesse tipo de coisas. O certo era que não conhecia nenhuma que não o visse assim. Embora, é obvio, todas elas valorizavam também os ganhos de quase vinte mil libras anuais que recebia.
Algo que a ela, infelizmente, importava muito pouco.
— Não estou deixando-o. Só estou dizendo que não deveríamos nos casar.
Estavam frente a um par de janelas altas, cobertas por cortinas entreabertas de veludo cor granada, que ocupavam a parede mais afastada da biblioteca de Richmond House, a residência londrina do duque de Richmond, o cunhado de Beth. William se encontrava a menos de um metro dela e a jovem sentiu uma corrente de ar nos ombros. Estavam nus devido ao atrevido e inovador decote do brilhante vestido dourado de corte império que havia escolhido para ressaltar seus cachos acobreados. O certo era que aquela noite no começo de abril não fazia muito calor na habitação apesar do fogo que chispava na lareira. Entretanto, em vez de tiritar, Beth cruzou os braços, elevou o queixo, quadrou os ombros e sustentou o olhar de William sem alterar-se, sentindo-se cada vez mais encolerizada. As conversas dessa índole jamais eram fáceis e ela sabia muito bem por experiência própria. Mas mesmo assim, era algo que deveria fazer e já havia adiado muito tempo.
— Não pode falar sério. Minha mãe está aqui. — William praticamente estremecia ante a afronta. A mãe dele, lady Rosen, era uma das matronas melhor consideradas da sociedade e, durante os últimos dois anos, não havia se incomodado em ocultar a opinião sobre Beth: considerava-a “muito descarada”. Beth não tinha dúvida de que quando William anunciou a mãe que queria casar com ela se fez merecedor de um montão de recriminações e rios de lágrimas.
— Sinto muitíssimo. — Beth o olhou cheia de remorso.
Pensar que ele teria que enfrentar a formidável mãe a fez sentir-se ainda mais culpada. Lamentava de verdade. De momento, só a família mais próxima estava à par do compromisso, que havia se formalizado fazia apenas uma semana. Embora Beth começou a arrepender-se só uma hora depois de aceitar a oferta. Deveria ter esclarecido as coisas imediatamente, mas ele era um bom partido e ela, que já havia completado vinte e um anos e desfrutava da terceira temporada, deixando para trás a flor da juventude e a idade em que se casavam quase todas as jovens. Depois de caçar William – e admitia ante si mesma ter feito para jogar na cara da mal intencionada irmã do conde – tinha pensado, esperado, desejado, que se tentasse com suficiente afinco, as coisas poderiam resultar diferentes desta vez. 

Trilogia Irmãs Banning
1 - Escandaloso
2 - Irresistível
3 - Coração Negro
Trilogia Concluída

23 de setembro de 2012

Irresistível

Trilogia Irmãs Banning
Claire Banning cumpre os sonhos de toda debutante quando se casa com um rico aristocrata. 
Entretanto, não demora em perceber que se casou com uma doninha. 
Amargamente ferida e desesperadamente sozinha Claire jura, ao menos, ocupar seu lugar na sociedade. 
Então em uma viagem de volta ao imóvel do marido na costa de Sussex, é raptada, e sua vida e seu coração mudarão para sempre. 
Hugh Battancourt, um sombrio e perigoso aristocrata, que muito tempo atrás virou as costas à sociedade e agora leva uma vida secreta dedicada ao serviço do país, está decidido a não se deixar influenciar pela beleza de sua prisioneira enquanto compartilha um camarote em um navio rumo à França. 
Há vidas dependendo da recuperação de uma carta repleta de segredos que se encontra em poder de Claire e que ela pretende entregar ao inimigo. 
Mas mesmo que Claire e Hugh se envolvam em uma batalha de vontades e engenho, captor e cativa se sentem atraídos irresistivelmente um pelo outro. 
Claire se pergunta, se será possível descobrir o verdadeiro significado do amor com este belo desconhecido… desconhecido que arriscará a vida para protegê-la de alguém que a está pondo em perigo… 

Comentário revisora Nathalia D.:  O livro é bom, com um bom enredo, mistério e romance o suficiente para ficar na memória.

Capítulo Um

Janeiro de 1813.

Se a capturassem, morreria.
-Por todos os diabos, pode-se saber onde está?
Aquela voz sem corpo soava assustadoramente próxima. Aterrorizou-a o fato de que chegasse a seus ouvidos por cima do rugido das ondas. Estavam perto. Correu mais depressa ainda, apesar da natureza traiçoeira do terreno que pisava. Não podia parar…   -Será pior para você, pequena rameira, quando voltar a pôr minhas mãos em você.
Ouvia a voz quase em cima dela. Claire deu uma rápida olhada e viu que o gélido disco da lua acabava de se elevar o suficiente no céu e aparecia pela beira do escarpado. Sob sua luz glacial, a jovem mal podia distinguir a silhueta escura de quem falava entre a névoa espessa e cinza que surgia do mar durante as longas horas que seguiram ao entardecer. O coração batia no peito e tremia; lutou por segurar o fôlego e evitar que se convertesse em um ofego aterrorizado e audível. Por mais perigoso que fosse o caminho pelo qual se arrastava, era sua única rota de fuga. A língua de terra inspecionada por seus perseguidores era estreita e terminava em uma queda de uns trinta metros ao agitado Atlântico, a apenas umas centenas de metros de onde ela se aferrava ao penhasco. Estando nesse saliente pantanoso cuja topografia obrigava a dar a volta, teria ido parar diretamente nos braços daqueles que pretendiam matá-la.   -Lamentará o dia que tentou zombar de mim, jovenzinha, eu prometo.   Claire compreendeu com um estremecimento de horror que o homem sabia, ou ao menos suspeitava que estivesse perto. De outro modo as ameaças careceriam de sentido. Obrigou-se a renunciar ao duvidoso consolo de olhar outra vez, por medo de que o homem visse o brilho pálido de seu rosto contra o negrume da rocha, e lutou por manter o pânico a raia enquanto continuava arrastando-se. De repente escorregou. Conteve um grito com muita dificuldade e se aferrou a parede para se segurar. Estendeu a mão, arranhou a rocha com desespero e fechou os dedos ao redor de uma pedra saliente que a salvou. Recuperou o equilíbrio e, por um instante, ficou completamente imóvel, com o peito palpitante apertado com força contra o granito implacável, o coração golpeando entre as costelas e os olhos fechados, enquanto tentava recuperar a respiração.
Segundos mais tarde, com certo tom de humor negro, enquanto contemplava a espuma branca que se chocava contra a praia de rochas e franqueava o ponto mais difícil, pensou que se caísse não teria que preocupar-se se por acaso seus perseguidores a assassinavam. Ela mesma teria se encarregado de levar o trabalho a cabo, e com bastante eficiência, certamente.
Ao pensar na queda, em precipitar-se pelo penhasco e estatelar-se contra as afiadas rochas do fundo, ficou completamente paralisada ali mesmo. Mas depois teve uma visão ainda mais horrenda: o destino que seus perseguidores tinham planejado para ela e que Claire escutou enquanto permanecia amarrada a imunda cabeceira de uma cama que seus captores tinham em uma habitação, junto á cozinha da granja a qual eles a levaram. Ao longo da madrugada, enquanto as pessoas decentes dormiam e o restante sabia que era melhor olhar para outro lado, pensavam levá-la ao mar aberto e jogá-la, com os pés e mãos amarrados, as gélidas profundidades. A jogariam como um gatinho recém-nascido; isso era o que havia dito o líder do grupo com uma voz arrepiante e em um tom de despreocupada jovialidade. Claire voltou a estremecer, e um espasmo violento a fez tremer ao recordar essas desumanas palavras.
Aquele bando de desconhecidos brutais pretendia matá-la. Mas por quê? Por quê? Revirou o cérebro, mas não encontrava nenhuma resposta que tivesse sentido. Não havia voltado a formular essa pergunta desde que enganou o homem que agora a procurava. Conseguiu livrar-se das amarras ao fingir a imperiosa necessidade de usar o urinol. Quando o indivíduo a desamarrou, Claire o golpeou com o penico assim que este lhe deu as costas à contra gosto e fugiu. Esteve muito ocupada correndo para se salvar.

Trilogia Irmãs Banning
1 - Escandaloso
2 - Irresistível
3 - Coração Negro
Trilogia Concluída

17 de dezembro de 2011

Escandaloso

Trilogia Irmãs Banning
Sem fortuna e com duas irmãs para cuidar, Gabriella Banning tinha assumido que seria uma solteirona para sempre. 
Mas o azar a impeliu a tomar uma decisão extrema e, inesperadamente, sua vida se veria sacudida pela paixão, a raiva e o desconcerto. 
Um homem teimoso e muito atraente, que se apresentaria como o conde Wickham, estava a ponto de cruzar seu caminho. 
Curiosamente, o mesmo nome de seu longínquo meio-irmão criado na Ásia. E, também, o mesmo cuja morte Gabriella teve conhecimento fazia só um par de dias.

Capítulo Um

— Lamento ser portador de más notícias, senhorita Gabby.
Lady Gabriella Banning pensou que, mais que lamentar, Jem Downes parecia profundamente angustiado devido à notícia pela qual havia atravessado um oceano e parte de dois continentes. Este fixou seus tristes e úmidos olhos castanhos nos olhos cinza de Gabby, que o olhava intrigada.
Atrás de Jem, o velho mordomo Stivers se inclinou e se retirou discretamente, fechando a porta com um suave clique. O cheiro a umidade que vertiam as roupas de Jem predominava sobre o leve aroma de enxofre do fogo de carvão e a vela que chispava junto ao cotovelo de Gabby. Jem sustentava o chapéu entre as mãos; suas roupas de viagem estavam cobertas de manchas úmidas e reluzentes das gotas de chuva devido ao tremendo toró que caía naquele momento. Suas botas e calça estavam manchadas de barro. Em circunstâncias normais, o velho criado que levava toda a vida a serviço da família jamais teria se atrevido a se apresentar dessa maneira diante dela. O fato de que não tivesse esperado o dia seguinte nem tivesse mudado de roupa indicava claramente seu estado de ânimo.
Quase inconscientemente, Gabby se preparou para receber o golpe.
Apertou os lábios e endireitou as costas até ficar sentada muito rígida atrás da enorme escrivaninha situada em um canto do escritório, onde havia se retirado depois do jantar para revisar as contas da casa. Até esse momento, sua maior preocupação era cortar alguns xelins dos gastos da propriedade, o qual já havia reduzido ao máximo. As palavras de Jem fizeram que o coração encolhesse e apagassem de sua mente a situação financeira da família. O único sinal externo de sua repentina ansiedade era a crispação da mão com que sustentava a pena. Consciente disto, Gabby deixou a pluma junto ao tinteiro e apoiou as mãos pálidas e finas sobre o livro de conta aberto diante dela.
Do lado de fora, os trovões descarregavam com tal violência que o fragor transpassava inclusive os robustos muros de Hawthorne Hall, semelhantes aos de uma fortaleza. De repente as chamas na lareira se encabritaram, sem dúvida porque deviam ter caído algumas gotas de chuva pela chaminé. Gabby interpretou o súbito trovejar e a intensificação da luz quase como um sinal prodigioso e reprimiu, não sem esforço, um calafrio.
« E agora o que? -pensou olhando Jem-. Deus Santo! E agora o que? » — Viu meu irmão?
Uma vida convivendo com o homem mais cruel que se pode imaginar havia mostrado a Gabby a necessidade de manter um aspecto impávido, por mais horrível que fosse a calamidade que se abatesse sobre ela. Seu tom era gélido.
— O conde está morto, senhorita Gabby.
Consciente da terrível importância dessa notícia, Jem espremeu nervoso seu chapéu até deixá-lo quase irreconhecível. E apesar de seus cinqüenta e tantos anos, seu cabelo curto e grisalho e seus traços proeminentes conservavam o corpo miúdo e esbelto do cavaleiro que havia sido antigamente. A postura que apresentava nesse instante, com a costa encurvada devido ao peso da notícia que devia comunicar a sua senhora, o fazia parecer mais baixo do que era.
Gabby emitiu um breve e profundo suspiro, como se tivessem lhe dado um soco. Estava preparada para que Marcus rechaçasse seu pedido ou inclusive a repreendesse por ter se atrevido a formulá-lo, assumindo que Marcus tivesse um caráter semelhante a seu pai. Mas não para isto. Marcus Banning, o meio-irmão de Gabby, quem como resultado da morte de seu pai há dezoito meses se converteu no sétimo conde de Wickham, tinha só seis anos mais que ela. Fazia dois meses, já que o novo conde não mostrava nenhuma pressa para ir á Inglaterra e reclamar sua herança. Gabby tinha enviado Jem com uma carta dirigida a seu irmão à ilha de Ceilán, onde Marcus passou boa parte de sua vida em uma plantação de chá de propriedade da família de sua mãe. Na carta, Gabby expôs a Marcus as circunstâncias o mais brevemente possível e lhe pedia permissão e recursos para levar sua irmã Claire a Londres e celebrar seu debut, adiado desde fazia muito tempo.

Trilogia Irmãs Banning
1 - Escandaloso
2 - Irresistível
3 - Coração Negro
Trilogia Concluída