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1 de dezembro de 2016

Rumores na corte

Série Casamentos Reais



Uma aliança duvidosa...

Lady Cecily despreza os reféns franceses mantidos na corte. 
Tratados como convidados de honra, não passam de escroques no jogo de sedução. 
Pior: Cecily teme que a princesa seja corrompida. Fadigado pela guerra, tudo o que o cavaleiro Marc de Marcel deseja é voltar para casa. 
Descrente de que seu resgate será pago um dia, ele faz um acordo arriscado com a tentadora Cecily. 
Marc manterá a princesa a salvo, se Cecily o ajudar a fugir. 
Um pacto que abrirá caminho para o escândalo!

Capítulo Um

Smithfield, Londres — 11 de novembro, 1363
Mon dieu, como essa ilha é fria.
O vento gélido afastou o cabelo da testa de Marc de Marcel e penetrou na cota de malha pela gola. Ele deu uma olhada para os cavaleiros do outro lado do campo, imaginando qual seria seu oponente e quem enfrentaria seu amigo francês.
Bem, não faria nenhuma diferença.
— Derrubarei qualquer um do cavalo — murmurou ele.
— O código de conduta dita que a luta deve consistir de duas partes, a primeira com três golpes com a lança — disse o lorde de Coucy — , a segunda com três golpes com a espada. Só então o vencedor será declarado.
Marc suspirou.
Era uma pena as justas terem se tornado tão enfadonhas. Ele bem que gostaria de matar outro maldito inglês.
— Isso é desperdiçar a força do cavalo, e a minha.
— É melhor não ofender aqueles que nos capturaram, mon ami. Se cooperarmos, nossa estada aqui será bem mais tolerável.
— Somos reféns. É impossível tornar nossa estada tolerável.
— Ah, as damas têm esse poder. — De Coucy inclinou a cabeça na direção da arquibancada. — Elas são très jolie.
Marc olhou na direção das damas, sentadas à direita do rei Eduardo. Impossível de distinguir uma da outra. A rainha devia ser aquela vestida com uma capa lilás com bordas de pele, enquanto as outras vestiam tons similares de violeta e cor de canela, pareciam um borrão colorido... com uma exceção.
Uma dama de cabelo escuro adornado com um arco de ouro olhou na direção dele com os braços cruzados e o cenho franzido. Mesmo à distância, ele reconheceu que ela estava tão aborrecida quanto ele, como se estivesse desprezando tudo e todos.
— Bem, o sentimento é mútuo.
Marc deu de ombro. Les femmes Anglaise não eram de sua conta. Havia dois outros monarcas visitantes ao lado do rei inglês Eduardo, supervisionando a liça do torneio.
— Quero impressionar les rois e não as damas.
— Ah, um cavaleiro sempre tenta impressionar as damas — disse o amigo de cabelo escuro, com um sorriso. — Essa é a melhor forma de espantar os homens delas.
Marc se encantara com a habilidade daquele jovem, Enguerrand, lorde de Coucy, em matar o inimigo com um machado; ele era igualmente competente em entoar umachanson para as damas em seguida. Marc o tinha ensinado a lutar, mas não a cantar.
— Como é que você consegue cumprimentar e sorrir para seus captores?
— Isso é para manter a honra da cavalaria francesa, mon ami.
Enguerrand estava falando em preservar a ideia de que os cavaleiros cristãos viviam de acordo com o código de conduta. E Marc bem sabia que era uma falácia. Os homens falavam em fidelidade aos princípios, mas faziam o que bem entendiam.
— A honra francesa morreu em Poitiers.
Durante a Batalha de Poitiers, os comandantes franceses, inclusive o filho mais velho do rei, fugiram covardemente, deixando o monarca para lutar sozinho.
Enguerrand balançou a cabeça.
— Não lutamos mais por isso.
Mas Marc lutava ainda, apesar de a guerra já ter terminado e a trégua, assinada. Ele era refém dos les Anglais, preso naquele lugar estrangeiro gelado. O ressentimento chegava quase a estrangulá-lo.
O arauto interrompeu os pensamentos dele ao dar as ordens aos dois grupos. Enguerrand lutaria primeiro contra o maior cavaleiro do grupo oponente. Pelo menos seria uma luta digna contra o inimigo.
Para ele sobrara um rapaz mais novo. Se não tomasse cuidado, ele seria capaz de matá-lo. Qual seria seu humor de hoje? Estava cuidadoso?
Por todos os santos, como está frio!
Lady Cecily, condessa de Losford, percebeu sua respiração se condensar enquanto olhava para o campo do torneio. A liça estava enfeitada com bandeirolas e faixas vermelhas, azuis, douradas e prateadas. A festa de cores se estendia também às capas dos cavaleiros e aos paramentos dos cavalos. Era um espetáculo digno da realeza. Eduardo III reinava com toda a majestade depois da vitória contra a França.
Cecily ergueu o queixo, esforçando-se para manter a postura digna de sua posição.
É o seu dever.
Ela ainda ouvia a voz dos pais na memória.
— Não é, Cecily?
Ela olhou para Isabella e imaginou o que a filha do rei devia ter dito. A princesa estava acompanhada por outras seis damas. Mas era ela que sempre se distraía.
— Estou certa de que tem razão, milady. — Esta era sempre uma boa resposta.
— É mesmo? — A princesa sorriu. — Achei que você não ligasse para os franceses.
Cecily suspirou. Isabella adorava brincar quando percebia que ela estava distraída.
— Lamento, mas eu não estava ouvindo.
— Eu disse que os franceses parecem ferozes.
Cecily acompanhou o olhar da princesa. Do outro lado da liça, havia dois franceses montados em seus cavalos, ainda sem o elmo. Um deles ela nunca tinha visto. Era um cavaleiro alto, louro e esbelto. Tal qual um leopardo. Uma fera que podia matar alguém com um salto.
— Ele é bonito, você não acha?
Cecily corou, envergonhada por Isabella ter percebido que ela olhava para o refém francês.
— Não gosto de homens de cabelo claro.
Isabella não escondeu o sorriso.
— Estou falando do moreno.










Série Casamentos Reais
1 - Segredos da Corte
2 - Rumores na Corte
3 - Rumors at Court

1 de dezembro de 2015

Segredos da Corte

Série Casamentos Reais



Os perigos da corte.

Anne de Stamford tem sido a guardiã dos segredos de sua ama há muito tempo. as quando lady Joan se casa com o filho do rei, a vida na corte se torna muito mais perigosa. ir Nicholas Lovayne chegou para desvendar o passado de lady Joan, e Anne precisa fazer algo para impedi-lo. nsioso para fugir das intrigas da corte, Nicholas não esperava ser cativado pela bela Anne. la se mantém altiva, apesar da deficiência no pé, e sua atitude semeia em Nicholas um sentimento jamais experimentado. eria ele capaz de cumprir a missão a qual foi designado se todo o seu corpo anseia por Anne?

Capítulo Um

Castelo de Windsor — final de março, 1361
— Venha, rápido. — Um sussurro imperativo perturbou os sonhos de Anne.
Ela sentiu alguém a balançando pelo ombro. Ao abrir os olhos, ainda piscando, viu a condessa segurando uma vela e inclinada na direção dela, no escuro.
Anne fechou os olhos e virou-se para o outro lado. Aquilo só podia ser um sonho. Lady Joan jamais se levantaria no meio da noite. Isso era tarefa dela.
— Anne, está acordada? — A mão delicada da condessa roçou o rosto de Anne.
E ela se levantou de repente, jogando as cobertas para o lado. Com os pés no chão, procurando por algo para calçar.
— O que houve? — Será que havia uma epidemia? Ou talvez os franceses? — Que horas são?
— Está escuro. — Lady Joan balançou a mão. Em seguida, pegou a mão de Anne com firmeza. — Venha, preciso de você.
Anne tentou se levantar, mais desequilibrada do que de costume, e tateou a cama para encontrar a muleta.
— Está aqui. — Lady Joan a entregou na mão dela e, deixando a impaciência de lado, ofereceu ajuda para Anne se levantar.
A condessa costumava ser gentil sempre nos momentos mais inesperados. Ou desejados.
Apoiando a muleta sob o braço esquerdo, Anne mancou pelos corredores do castelo de Windsor. Lady Joan havia colocado o dedo sobre os lábios dela, indicando que deveria andar em silêncio, mas gesticulou para que Anne andasse mais rápido. Como se Anne tivesse algum controle sobre as duas coisas. Ao subir as escadas com dificuldade, ela não poderia ir mais rápido, a não ser que quisesse arriscar a perna boa.
Lady Joan a conduziu pela ala nobre e até a capela. O recinto fazia eco e estaria totalmente escuro se não fosse uma pessoa segurando uma vela perto do altar. Era um homem alto e forte.
Tratava-se de Edward de Woodstock, filho mais velho do rei, príncipe da Inglaterra, sorrindo e sem a postura rígida de guerreiro que não apenas ela, mas toda a Inglaterra e a França conheciam. Lady Joan também estava radiante. E, sem desperdiçar mais nem um olhar para Anne, segurou a mão dele.
— Pronto. Agora, temos uma testemunha.
Não. Aquelas não podiam ser as intenções de lady Joan. Contudo ela, mais do que ninguém, sabia o que iria acontecer e como era importante a presença de uma testemunha.
O príncipe pegou a vela das mãos de lady Joan e a colocou, junto com a dele, sobre uma mesa que servia de altar. As chamas tremeluzentes sombreavam os rostos dos dois, ressaltando o nariz e as maçãs altas do rosto do príncipe e o sorriso de lady Joan. Os dois entrelaçaram os dedos das mãos, uma por cima da outra.
— Eu, Edward, recebo lady Joan como minha esposa…
Anne engoliu em seco e continuou em silêncio. Bem, na certa, Deus gostaria que ela dissesse alguma coisa naquele momento para evitar aquele sacrilégio.
— Para amá-la e respeitá-la, como é o dever de um homem amar sua esposa…
— Vocês não podem fazer isso! Não devem! O rei, vocês têm o mesmo sangue… — Anne finalmente encontrou voz para interferir.
O príncipe a fuzilou com o olhar, impedindo-a de continuar. Eles estavam bem cientes da realidade. Os dois tinham o mesmo avô, o que significava uma união de parentesco muito próxima para a Igreja aceitar o casamento.
— Tudo será como deve ser — disse lady Joan. — Assim que declararmos nossos votos matrimoniais, mandaremos uma petição para o papa — continuou ela. — Ele ignorará o impedimento e poderemos casar na Igreja.
— Mas…










Série Casamentos Reais
1 - Segredos da Corte
2 - Rumores na Corte
3 - Rumors at Court

1 de setembro de 2014

Lições de Sedução




Ansiosa para viver com independência, Jane de Weston se disfarça como um rapaz. Mas ela não esperava sentir uma forte atração por Duncan. 

Sensações deliciosas percorrem seu corpo feminino. 
Quando ele descobre acidentalmente a verdadeira identidade dela, sabe que deveria mandá-la embora... mas concorda em guardar seu segredo! 
Jane possui o dom de iluminar os recônditos sombrios do coração de Duncan, despertando nele o desejo de ensinar à dedicada pupila os refinados prazeres de ser uma mulher...

Capítulo Um

Inglaterra — final do verão de 1388
O odor do quarto de parto a sufocava.
O fogo crepitava e fervia a água, aquecendo a manhã de agosto.
Ela abriu a cortina que encobria a janela do castelo para respirar o ar fresco. Com certa nostalgia observou o sol brilhando. Talvez mais tarde pudesse pegar um cavalo emprestado e sair para um passeio.
— Jane!
— Sim? — respondeu ela soltando a cortina.
— A dor passou. Solay precisa beber alguma coisa.
Jane seguiu até a pia no canto e encheu uma caneca com água fresca. Devia ter percebido as necessidades da irmã e a atendido antes. Era como se lhe faltasse um instinto nato que outras mulheres possuíam, algo que lhes sussurrava o que devia ser feito.
O papagaio de Solay andava pelo poleiro, as penas verdes do pescoço eriçadas, dizendo:
— Jane! Jane! — O chalrear da ave soava como uma acusação.
Jane se virou para a cama onde a irmã jazia com a barriga alta como uma montanha. As dores vieram em ondas sucessivas durante a noite inteira, dando a Solay pouco tempo para se recuperar. Seu cabelo longo e escuro estava preso e trançado, e os profundos olhos violeta, vermelhos.
Justin, o marido de Solay, afastou a cortina que cobria a porta, mas não entrou no aposento.
— Como está ela? Posso fazer alguma coisa?
Solay abriu os olhos e acenou, mal conseguindo levantar a mão.
— Saia... Não estou arrumada para ser vista.
A mãe das duas foi até a porta e o empurrou para fora.
— Volte para a sala. Jogue xadrez com seu irmão.
— É sempre assim? — perguntou ele sem sair do lugar.
Jane mal o ouviu sussurrar.
— O nascimento de Solay foi parecido — respondeu a mãe sem se preocupar em baixar a voz. — Disseram que foi a noite mais curta do ano, mas para mim foi a mais longa.
— Mas já faz muito tempo.
A certeza da sogra não aplacou o medo estampado no rosto de Justin.
— E ainda vai demorar mais um pouco. Esse é o trabalho de uma mulher. Se quiser fazer algo de útil, vá acordar a parteira. — E ao tocar o braço dele, sussurrou: — E reze para a Virgem Maria.
Jane deu um passo à frente, querendo segui-lo, mas ele era um homem, portanto, livre para fazer o que quisesse. Era ela que estava com vontade de ir acordar a parteira, ou jogar xadrez, ou inspecionar os documentos legais de Justin, para o que sempre tinha a permissão dele. Na verdade, queria estar em qualquer lugar, menos ali.
— Jane! Onde está a água?
Ela voltou para a borda da cama e estendeu a caneca. Solay, que mal era capaz de manter os olhos abertos, acabou esbarrando na mão de Jane e derrubando a água toda na cama.
Solay se surpreendeu.
— Veja o que aconteceu! — ralhou a mãe olhando preocupada para Solay.
E Jane soube que falhara de novo.
— Veja! — gritou o papagaio. — Veja!
— Quieto, Gower! — repreendeu Jane.
Em seguida, tentou enxugar, mas esbarrou na barriga de Solay, e a mãe tirou o pano de sua mão.
— Deite-se, Solay. — Ela procurou secar o lençol molhado, sem tocar na filha. — Descanse. Vai dar tudo certo.
— É sempre assim? — indagou Jane, sussurrando, quando a mãe devolveu-lhe o pano.
— O nenê já vai nascer — respondeu a mãe, baixinho.
Jane torceu o pano sem saber que atitude tomar, receando fazer alguma coisa errada e querendo apenas fugir dali.
— Vou buscar panos limpos.
— Não saia. — O pedido de Solay surpreendeu Jane. — Cante para mim.
Advertindo Jane com o olhar, a mãe foi para o corredor à procura de uma criada e de panos limpos.
Jane tentou entoar as primeiras notas de “Summer Is Icumen In”, mas a voz ficou presa na garganta. Ela, então, olhou para Solay, indefesa.
— Nem isso consigo fazer direito.
— Não se preocupe. Gosto de ter minha irmã caçula por perto. — Solay estendeu a mão, e Jane a segurou, olhando para os dedos trançados.
Os de Solay eram finos, brancos e delicados. Solay representava tudo o que uma mulher devia ser: linda, graciosa, hábil e obsequiosa.
Tudo o que Jane não era. Suas mãos eram quadradas e ásperas. Os dedos, curtos e grossos, só estavam limpos, sem o cheiro de sujeira e cavalos, porque a parteira insistira que lavasse as mãos antes de entrar no quarto de parto.
— Você está bem? — Jane quis saber, quando a irmã apertou sua mão.
— A dor é suportável. — Solay esboçou um sorriso fraco. — Mas acho que terá de receber seu futuro marido sem mim.
Marido. Um estranho para quem teria de submeter a vida. Jane se esquecera de que ele chegaria em um mês.
Tinha feito tudo para esquecer.
— Não quero me casar.
Um marido exigiria que ela fosse como Solay ou sua mãe e soubesse todas aquelas coisas mais estranhas do que latim.
— Eu sei, mas está na hora, você já está com 17 anos. Já passou da hora, na verdade. — Solay apertou-lhe a mão, solidária. E com muito esforço tocou os lábios de Jane. — Veja só. O papagaio vai bicar seu bico. Pelo menos se encontre com ele. Justin disse a seu noivo que você era diferente.
Isso, ela era diferente.
— Ele sabe que quero viajar pelo mundo? E que sei ler em latim?
— Ele é um mercador, e você poderá fazer coisas que a esposa de um nobre não poderia. Além do mais, logo isso perderá a importância para você — afirmou Solay com um sorriso hesitante.
— Você já me disse isso. — Como se o casamento fosse torná-la uma criatura estranha e irreconhecível.
— Se não gostar dele, prometo que não a forçaremos a se casar. Justin e eu só queremos que você seja tão feliz quanto nós.
— Eu sei. — Jane pressionou a mão de Solay contra o rosto. Sonho impossível. Jamais chegaria aos pés da linda irmã, que tentava entendê-la, mas sem muito sucesso.
— Gostaria que você não tivesse cortado o cabelo. — Solay a soltou e acariciou o cabelo curto e loiro da irmã.
— Os homens gostam de cabelo longo, loiro e cacheado como o seu. — De repente, contraiu o rosto e olhou para baixo. — Alguma coisa está acontecendo. Está... eu... está tudo molhado.
Jane ficou imóvel por instantes, antes de correr para a porta, afastar a cortina e gritar:
— Mamãe!

25 de maio de 2014

Prisioneira de um Rebelde

Série Clã Brunson

Atormentado pela inocência. 

Como líder do clã, Rob, conhecido como o Brunson Negro, faz jus a cada letra de seu apelido. 

Mas quando toma como refém a filha de seu inimigo, a culpa, mesclada à necessidade de protegê-la, dilacera sua consciência... 
Rob luta contra uma tentação proibida! 
No princípio, Stella Storwick se sentia desprezada por Rob. 
Lentamente, começa a perceber em seu olhar a perfeita expressão de um sentimento impossível de ser descrito com palavras... 
E apenas um beijo poderá aplacar seu desejo!


Capítulo Um

Centro da Fronteira — abril de 1529
Quando Rob Negro Brunson inspirou ao acordar naquela manhã, inalou pela primeira vez o ar livre do odor das cinzas desde que os Storwick atearam fogo à casa-torre, menos de dois meses antes.
Seu primeiro pensamento, porém, foi o mesmo que o da véspera e das manhãs anteriores. Eles lhe pagariam. Cada um deles.
Ah, Rob se apressara em revidar. Os tetos que abrigavam os Storwick sentiram o ardor das chamas. O líder daquele clã agora definhava, vigiado por um guardião escocês.
Mas aquilo não era o suficiente. Não diante de tudo o que haviam feito.
As cinzas desapareceram com a neve. O teto da cozinha ostentava um novo colmo, mas ao inspirar uma segunda vez, a verdade o atingiu. Seu nariz nunca se livraria daquele odor pungente.
Tampouco os narizes dos Storwick. Rob se certificaria de não permitir.
Pôs os pés para fora da lateral da cama e olhou por sobre o ombro, como que esperando que o fantasma do pai espreitasse atrás dele.
Mas não havia nada lá.
Estava sozinho no quarto do líder. Agora era o chefe do clã, como fora criado para ser durante os últimos 26 verões.
Rob se espreguiçou, coçou as costas e esticou as mãos para pegar as botas.
A neve e o frio persistiam, mas, naquela manhã, sentia uma suavidade na atmosfera. Primavera. A estação do nascimento dos cordeiros. Época de ser pastor, além de guerreiro, percorrendo o vale para se certificar de que o rebanho vinha sendo bem tratado.
No ano anterior, executara aquela tarefa ao lado do pai.
Após levantar e se vestir, Rob fez uma incursão à cozinha em busca de sobras de broas de aveia para enfiar na sacola. A irmã costumava fazer isso para ele, para todos. Cozinhava, limpava, lavava, mantinha tudo em ordem até poucos meses antes, quando os abandonara por aquele marido pouco confiável.
Em breve, todos o estariam pressionando para que arranjasse uma esposa. Alguma mulher que esbravejaria pelo fato de ele empreender aquelas rondas sozinho. O perigo não desaparecera com a neve, mas Rob retornaria antes do escurecer, e ninguém ousaria arriscar um ataque em um dia ensolarado de primavera.
Além disso, Rob preferia a solidão. A sós, desfrutaria ao menos de alguns momentos sem que ninguém estivesse olhando para ele, esperando que desse a palavra final.
Cruzou o portão e observou os cavalos pastando do lado de fora dos muros, feliz por deixar a torre para trás. Assoviou, e Felloun trotou em sua direção, pronto para a cavalgada. Na verdade, Rob se sentia mais à vontade sobre uma sela do que em qualquer outro lugar. O chão sob os cascos do cavalo — a terra em si — era como seu lar. Rob era parte integrante daquilo. Das montanhas, do limo, das pedras e do solo. Parente da terra pensava algumas vezes, e não dos homens.
Mas aquela era a natureza de todos os Brunson, desde o Primeiro. Um Brunson pertencia a terra. Àquela terra.
A outra metade de Rob, a que alguns homens encontravam nas companheiras, pertencia às montanhas. Ninguém poderia forçá-lo a se separar delas.
Rob alcançou o membro do clã mais próximo antes de o sol chegar a pino. Ovelhas baliam e vagavam ao redor enquanto um cão bem treinado colocava ordem nas margens do rebanho, respondendo ao assovio do dono.
Rob cumprimentou o homem com um aceno de cabeça.
— Está tudo bem? — Não quis sugerir que Joe, o Sem Dedo, precisava de ajuda, mas apenas deixá-lo ciente de que estava ali, caso precisasse.
— Sim.
Um novo cordeiro, ainda sem firmeza nas pernas, se mantinha próximo à mãe.
Rob engoliu em seco.
— O pequeno… 

Série Clã Brunson
1 - Fronteira do Desejo
2 - O Limite da Paixão
3 - Prisioneira de um Rebelde
Série Concluída

30 de março de 2014

O Limite da Paixão

Série Clã Brunson

Casar-se com ele significa trair sua família.

Bessie, a abnegada irmã do obstinado clã Brunson, se sacri­ficou pela honra de sua família e está a mercê da corte do rei James. 
Deslocada naquele ambiente, ela ainda tem que lidar com sua desconfiança em relação a lorde Thomas Carwell. 
Sob o olhar implacável de seu carrasco, Bessie se deixa envolver por ele e pela opulência de um mundo muito diferente do dela. 
Quando o rei, furioso, exige a cabeça de seu irmão, Carwell é a única pessoa que pode atender à súplica de 
Bessie. Mas qual será o preço da proteção dele?

Capítulo Um

Fronteira da Escócia, novembro de 1528
Bessie Brunson inspirou profundamente e se preparou para subir um lance de escada pelo que parecia ser a centésima vez desde o nascer do sol.
Ainda não era meio-dia.
Os degraus que a encaravam agora levavam ao topo da barbacã, onde os irmãos faziam a vigilância. E isso era uma vantagem, pois desse modo não ficavam em seu encalço enquanto realizava os pre­parativos para a festa de casamento. Mas dois homens adultos preci­savam se alimentar, portanto Bessie ergueu a saia alguns centímetros com uma das mãos, equilibrou a sacola com os bolos de aveia na outra e começou a subir a escada.
Um trovão ribombou, fazendo-a erguer o olhar para o céu de novembro, assustada. Cinza, varrido pelo vento, mas...
Não era um trovão. Era um tropel de cavalos.
Bessie se apressou em subir o que restava dos degraus para al­cançar o caminho da ronda ao longo da parede da torre. Em seguida, se colocou entre os dois irmãos e dirigiu o olhar ao oeste do vale que lhes pertencia.
— Quem está chegando?
O Rob Negro fez um movimento negativo com a cabeça.
— Ninguém que eu deseje ver.
Bessie estreitou o olhar contra o vento, enquanto as bandeiras coloridas de verde e dourado se tornavam cada vez mais visíveis. As cores do lorde Thomas Carwell, o guardião da fronteira escocesa.
Eu o responsabilizarei, se algo acontecer, dissera-lhe Bessie, pou­co antes de Willie Storwick escapar. E o guardião da fronteira nunca provara sua inocência.
Não de maneira que a satisfizesse.
— Nós não o convidamos para o casamento — disse ela, dirigin­do-se ao irmão, John.
— Não ― respondeu ele. ― Mas Carwell foi cortês o suficiente para enviar um homem antes, anunciando sua chegada.
— Apenas porque sabia que seria alvejado se chegasse sem aviso prévio — disse Rob.
Bessie suspirou. Nenhum dos dois irmãos se lembrara de lhe dizer que a lista de convidados podia aumentar.
— Vocês o deixarão entrar?
À esquerda de Bessie, o Rob Negro, agora o líder do clã, tocou a balestra com o dedo.
— Preferia abatê-lo.
Johnnie, o mais alto, com o cabelo ruivo como o dela, negou com a cabeça.
— Fizemos o suficiente para suscitar a raiva do rei. Escutemos ao menos o que Carwell tem a dizer.
Rob exibiu uma carranca e Bessie prendeu a respiração, esperan­do que mais uma discussão começasse, por fim, porém, o irmão mais velho apenas assentiu.
— Mas não contemos nada para ele.
Os cavalos perdiam a velocidade à medida que se aproximavam do portão. Carwell removeu o elmo, em um gesto de paz, e afastou o cabelo castanho liso da testa enquanto erguia o olhar para os três Brunson.
— Estamos aqui para celebrar uma data festiva.
— Pode parar com a conversa fiada, Carwell — rosnou Rob. — Nin­guém o convidou a vir até aqui.
— Um mero descuido. Tenho certeza de que pretendia incluir o representante do rei em sua lista de convidados.
Ao lado de Bessie, Johnnie cerrou uma das mãos em punho. Vol­tara para casa como um homem do rei, mas permanecera ali como um Brunson. Algum dia, todos teriam de responder por isso.
— Nossa hospitalidade não se estende àqueles que nos traem — gritou Rob, olhando para baixo.
— Uma acusação que neguei.
— Mas que não provou ser falsa — respondeu John.
— E, ainda assim, montou e lutou ao meu lado.
— É verdade — retrucou Rob. — Mas isso não significa que con­fiamos em você.
Ninguém sabia de que lado o guardião da fronteira estava, a não ser o dele mesmo.
Carwell esticou o braço esquerdo, com a palma da mão para cima, e exibiu um sorriso implacável.
— Juro por minha mão cristã que vim em paz.

Série Clã Brunson
1 - Fronteira do Desejo
2 - O Limite da Paixão
3 - Prisioneira de um Rebelde
Série Concluída

26 de janeiro de 2014

Fronteira do Desejo

Série Clã Brunson
Rumores da corte dão conta de que a rebeldia dos selvagens escoceses da fronteira tornou-se intolerável.

Sua majestade, o rei, ordena, então, que John Brunson retorne para seu clã...
Membro de um poderoso clã da fronteira, John não frequenta a torre de pedra dos Brunson há anos.
Agora, ele não pode admitir a mera hipótese de um fracasso ao convencer seus parentes a honrar o apelo do rei?
John sabe que con­quistar Cate Gilnock, a órfã de uma família aliada, é funda­mental para o sucesso de sua missão.
Apesar de sua beleza misteriosa, Cate é imune a galanteios.
Ela esconde sua dor e seu sofrimento atrás de uma fachada fria e intrigante, que hipnotiza John em seu retorno para o clã guerreiro dos Brunson...

Capítulo Um

Meados de março, fronteiras da Escócia
Fim do verão de 1528
Algo estava errado. Ele podia sentir até mesmo daquela distância, em­bora não soubesse explicar como.
Fazia dez anos que John não pousava os olhos na casa-torre de pedra de sua família. Desde que fora enviado à corte do rei menino. Agora o rei crescera e o enviara de volta ao lar com uma missão. Ele pretendia cumpri-la rapidamente para que pudesse partir daquele lugar e nunca mais retornar.
Um raio de sol lançava filetes de sombras sobre o tapete verde da grama de verão. O cavalo se deslocou, e o mesmo aconteceu com o vento, trazendo consigo um lamento agudo e doloroso.
Fora aquilo que pressentira. A morte. Alguém morrera.
Quem?
John juntou as rédeas e incitou o cavalo a prosseguir, pensando na família que deixara para trás. O pai, o irmão mais velho e a irmã ca­çula. A mãe morrera havia 12 meses. Ao menos, o haviam notificado sobre isso.
A irmã era a única pessoa que John gostaria de rever.
Não podia garantir se estavam lamentando a morte de alguém da família. Havia outras pessoas que habitavam a torre. Mas John galopava cruzando o vale como se a hora de sua chegada tivesse importância.
Ao chegar ao portão, na barbacã que rodeava a torre, foi questionado, como esperava. John não reconheceu aquele homem.
Era um dos que não o reconheceria.
John removeu o elmo polido para exibir uma expressão amigável, satisfeito com o ar frio que lhe acariciou o rosto outra vez.
— Sou John Brunson. Agora, Sir John, cavaleiro do rei. — Esperara anos e milhas para dizer aquilo. — Diga a Geordie, o Ruivo, que seu filho mais novo está aqui. Diga-lhe que não ficarei por muito tempo.
O homem se inclinou para trás.
— Nada será dito a Geordie Brunson, o Ruivo. Ele jaz em seu leito de morte.
Em silêncio, John não conseguiu nem ao menos fingir pesar.
SlR John ou não, não havia como convencer o homem a deixá-lo entrar. Apesar do fato de as pessoas estarem chegando para o velório, fizeram. John esperou até buscarem o irmão, Rob, para lhe confirmar a identidade. Mas não podia culpá-los. Aquele era o costume na região fronteiriça.
Na verdade, não encontrara mais confiança por parte dos homens que cercavam o rei. Apenas não eram tão óbvios sobre suas suspeitas.
Rob, agora barbudo, mais alto e encorpado do que John se lembrava, estacou no caminho da ronda ao longo da parede da torre.
Com os braços cruzados e expressão de dúvida, deixou que John suasse sob a armadura que lhe cobria todo o corpo. Tanto o temperamento quanto a cor dos cabelos do irmão lhe renderam a alcunha de Rob Negro.
Agora, novas linhas lhe vincavam a testa, e John imaginou quantas haviam se aprofun­dado desde que Rob acordara e se descobrira o líder do clã de fronteira.
— Você afirma ser meu irmão? — Nem mesmo Rob conseguia reconhecê-lo com apenas um olhar.
John estava com 12 anos, começando a crescer, quando partira.
— Sim. Está olhando para o filho de Geordie, o Ruivo.

Série Clã Brunson
1 - Fronteira do Desejo 
2 - O Limite da Paixão
3 - Prisioneira de um Rebelde
Série Concluída

31 de março de 2013

Véu Da Inocência








Ele é um homem de segredos. 

Ela, uma mulher de mentiras. 

Quando um comerciante misterioso e sedutor chega à casa da nobre Katrine de Gravere, ela reluta em lhe dar abrigo, mas finalmente cede. 
Afinal, receberia como pagamento lã suficiente para manter seus preciosos teares cheios. 
Dormindo debaixo do mesmo teto e a cada minuto tentado a acariciar os cabelos vermelho-fogo da inocente e reservada mulher, Renard se pergunta se ela suspeita de suas verdadeiras razões para estar ali. 
Em uma cidade onde ninguém está a salvo, Katrine desperta nele desejos proibidos. 
Renard poderia estar, seguro de que ela não iria traí-lo ?

Capítulo Um 

Flandres, Países Baixos, primavera de 1337 
O coração de Katrine batia acelerado, e ela percebeu um tom de ameaça na voz do homem cujo rosto não via por causa das sombras. 
— Você é que sabe — disse ele. — Posso lhe arranjar a lã de que precisa, mas se deixar passar esta oportunidade... — Ele deu de ombros e, com o corpo, tapou a entrada do sol da manhã na sala de tecelagem. 
— Existem outros compradores por aí. 
— Todo tecelão em Ghent estará disposto a comprar lã — tentou falar Katrine sem tremer. 
Isso não era segredo para ninguém. Privados da lã, a cidade de tecelões estava morrendo de fome. 
Assim, quando um estranho afirmou que podia encontrar pele de carneiro para seus teares, ela resolveu ouvi-lo. 
Ele não precisava de Katrine, mas ela queria a lã dele. Queria desesperadamente. 
Com os braços cruzados, o contrabandista encostou- se na parede tão à vontade que parecia o proprietário do lugar.
— Decida, moça. Ou aceita negociar comigo ou vai morrer de fome. Apoiando-se no tear, ela sentiu o corpo encostar-se a uma peça vertical, como se fosse uma mártir. 
Ela passou a dedilhar os fios para se distrair. Os fios tremiam sob os dedos. 
Não deveria ceder facilmente, caso contrário, não poderia negociar o preço. 
— Você não tem sotaque do povo de Ghent. — Ela não sabia nada sobre o homem nem o nome dele. — Onde é sua casa? A luz do sol bateu no seu cabelo castanho. 
De início, ele nada disse, e ela chegou a se perguntar se a tinha ouvido. Mas depois ele falou. 
— Nasci em Brabante. Sua resposta parecia satisfazê-la. O ducado vizinho era um dos seis feudos localizados perto do canal entre a Inglaterra e a França. 
Deveria, ao menos, saber que tipo de bens ele oferecia. Katrine passou a mão pelo tecido e sentiu sua maciez. 
— Costumo usar apenas tecidos finos. Sou exigente para comprar. Sua lã é inglesa ou espanhola?
 — Inglesa. 
— Ótimo. Katrine começou a caminhar de um lado para o outro, como se considerasse as opções. 
Era melhor não perguntar como ele a conseguiu. O rei da Inglaterra havia embargado todos os carregamentos nos últimos nove meses. 
— Onde foram criadas as ovelhas? Eu prefiro a lã das ovelhas criadas por monges cistercienses, da Abadia de Tintern, mas também aceito lã de Yorkshire. 
— Aceita? — Ele achou graça. — Você vai aceitar o que eu lhe oferecer, pois não tem escolha. 
Minha Santa Catarina, o que devo fazer? Já tinha negociado com as maiores tecelagens de lã. 
Havia batalhado por lã de animais criados nas costas, e até orientado seus tecelões a fabricar um tecido de trama mais frouxa, na esperança de melhorar o produto final. 
Não havia mais nenhum truque. Já tinha até pedido ajuda ao seu insensível tio. 
Agora ela temia ficar sem trabalhar, até seu pai voltar, caso não confiasse nesse estranho misterioso. 
Ao menos, as mãos grandes de dedos longos desse estranho pareciam confiáveis e até familiares. 
— Quanto pode me conseguir? 
— Talvez um saco. 
— Isso é material que um tecelão usa em uma semana — comentou Katrine desapontada. 
 —É mais do que você tem agora. 
— E se eu concordar, qual é o seu preço? 
— Vinte e cinco libras de ouro por saco. Adiantadas. 
— Quinze. — Se soubesse negociar, o ouro que seu pai havia deixado daria para comprar três sacos de lã. — E na entrega. 
— Vinte e oito. 
— Mas você tinha dito 25 antes. 
— E amanhã, se eu quiser, direi que o preço é 30. Não tente barganhar comigo, moça. Você não tem nada para barganhar. 
Pela primeira vez, ela conseguiu ver os olhos dele, azuis. E ele piscou para ela. 
— Ou talvez tenha — disse ele. Alguma coisa a mais do que simplesmente medo mexeu com ela. Algo que tinha a ver com ele.
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7 de março de 2012

Inocência Revelada


Ele era um homem com segredos. 

Ela, uma mulher cheia de mentiras. Lady Katrine de Gravere aceitou, a seu pesar, dar proteção àquele misterioso e sedutor comerciante. 
Em troca receberia lã suficiente para encher seus teares. Dormindo sob o mesmo teto, sempre com a tentação de acariciar seu cabelo vermelho como o fogo, Renard se perguntava se aquela inocente tecelã suspeitaria quais eram os verdadeiros motivos pelos quais ele estava ali. Em uma cidade em que ninguém parecia ser quem era em realidade, Katrine o fazia desejar coisas proibidas para ele. 
Mas, podia confiar que ela não o traísse? 

Capítulo Um 

Flandres, Países Baixos. Primavera de 1337 

As sombras ocultavam o rosto do desconhecido, mas apesar dos fortes batimentos de seu coração, Katrine ouviu a ameaça que havia em sua voz. 
—Você decide — disse ele. —Posso lhe conseguir a lã que necessitam, mas se deixar passar a oportunidade... — o ligeiro movimento de seus ombros tampou os raios de sol matutinos que penetravam na estadia. 
—Há muitos outros compradores que estarão dispostos. —Todos os tecelões de Gante estarão dispostos. 
Katrine tratou de ocultar o tremor de sua voz. Não era nenhum segredo. 
Privada da lã que era seu sustento, aquela cidade, que se dedicava à fabricação de tecidos e roupa, morreria de fome. 
Por isso, de um modo temerário, Katrine aceitou escutar aquele desconhecido que afirmava poder achar lã para seus teares. 
Ele não a necessitava, mas ela sim necessitava de sua lã. Desesperadamente. 
Com os braços cruzados, o contrabandista se apoiou contra a parede, invadindo o espaço como se lhe pertencesse. 
—Decida senhora. Faça um trato comigo ou morra de fome. 
Contra o tear, Katrine sentiu a madeira lhe apertando a coluna como as estacas da fogueira de um mártir. Acariciou os fios em busca de um pouco de força, estes estremeceram sob seus dedos. 
Ao levantar o olhar, tentou interpretar o que via em seus olhos, mas o sol deixava o rosto dele na escuridão. 
Não devia ceder muito cedo ou não poderia negociar com ele. 
—Sua voz não tem acento de Gante — não sabia nada daquele homem, nem sequer como se chamava. 
—De onde você é? Um raio de sol iluminou uma mecha de seu cabelo avermelhado. 
A princípio não disse nada e Katrine começava a perguntar-se se a teria ouvido quando por fim respondeu: 
 —Nasci em Brabante. A resposta parecia confiável. 
O ducado vizinho era um dos seis feudos que se agrupavam junto ao canal que afastava a Inglaterra da França. 
Ao menos assim poderia descobrir que produtos ele oferecia. 
Com os dedos escondidos entre as dobras da saia, Katrine beliscou o tecido, o qual lhe deu certo consolo. 
 —Minha marca aparece só em materiais de primeira qualidade. Compro com muito cuidado. Esse seu tecido é inglês ou espanhol? —Inglês. 
—Muito bem — com as mãos entrelaçadas no colo, Katrine começou a caminhar de um lado para outro, enquanto considerava as diferentes opções que tinha ante si. 
Era melhor não perguntar como tinha caído em suas mãos aquele tecido. 
O rei inglês tinha requisitado todos os carregamentos que chegaram a Flandres nos últimos nove meses. 
De onde são as ovelhas? Prefiro os rebanhos cistercienses aos de Tintern Abbey, embora aceitaria lã de Yorkshire. 
—Aceitaria?— Perguntou ele, com um irônico sorriso desenhado nos lábios. 
— Aceitaria algo que eu lhes ofereça. Não têm outra escolha. 
"Santa Catalina, o que devo fazer?" 
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17 de julho de 2011

Coração Dividido





Ele era um nômade de sangue real, ela uma dama virgem.

Gavin Fitzjohn era escocês, e filho bastardo de um príncipe inglês.
Um rebelde sem país e com espírito sombrio. Clare Carr, a filha de um nobre da fronteira escocesa, conhecia a fundo as normas da cavalaria, e também sabia que Gavin tinha infringido todas.
Mesmo assim, sentia-se dominada pelo desejo por aquele rebelde de sangue real, seria ele quem descobrisse tudo o que tinha tentado esconder com tanto esforço?
Esses desejos tão tentadores que tinham estado adormecidos… até esse momento.

Comentário da Revisora Bea: Gostei do livro, apesar de achar muito fraco o desenrolar é bom, apesar de ficar com raiva da mocinha ser uma besta e cabeça-dura, mas tudo se encaixa e se desenvolve brem, poderia ter mais luta, etc e tal, mas valeu...

Capítulo Um

Haddington, Escócia. Fevereiro de 1356.
Ele havia retornado depois de passar dez anos fora e a guerra havia retornado com ele.
A névoa, o frio e a umidade obscureciam a pouca luz que ficava de um dia de fevereiro e rastejou ao redor das esquinas da igreja que tinham adiante.
As argolas de aço da cota de malha estavam gélidas e os cavalheiros ingleses que o acompanhavam tiritavam sobre suas montarias.
O inverno era um mau momento para ir à guerra.
Gavin Fitzjohn olhou a seu tio, o rei Eduardo, um leão orgulhoso no topo de sua perícia militar.
Fazia mais de vinte anos, esse mesmo rei tinha encabeçado os ingleses em uma incursão parecida em Escócia.
Dessa vez, o irmão do rei tinha um filho bastardo de mãe escocesa.
Nesse dia, Gavin, o filho, cavalgava junto a seu tio como tinha feito durante no ano anterior na França.
Ali tinham aniquilado indistintamente e sem vacilar soldados e camponeses até que o aroma de sangue e fumaça tinha impregnado seus sonhos.
Entretanto, tinha feito porque era um cavalheiro e estava em guerra.
Nesse momento, o rei achava é obvio, que Fitzjohn estava plenamente ao seu lado. Entretanto, já não estavam na França.
Nas duas semanas que tinham passado desde que chegaram ao Berwick, seu exército tinha devastado e queimado o pouco que os escoceses tinha deixado em pé em sua retirada.
O cavalo de Gavin sacolejou com inquietação.
O coro da igreja resplandecia pela janela como um sinal de chamada.
Era uma igreja tão bonita e estilizada como qualquer uma das que tinha visto do outro lado do Canal da Mancha.
Os aldeãos se concentraram diante de seu centro espiritual sem saber o que os aguardava.
Gavin olhou para um homem com os punhos apertados, os olhos fechados e os lábios movendo-se ao rezar.
O homem abriu os olhos e se encontrou com os de Gavin.
Tinha tanto medo que quase podia cheirar.
Sentiu uma náusea.
Estava farto de matar.

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7 de fevereiro de 2010

A Águia e o Anjo



O cavaleiro mercenário Sir Garren devia muito a William, Conde de Readington: a espada que o protegia, o cavalo que montava, até mesmo seu título de nobreza.

Por sua vez, Garren salvara a vida do Conde na Terra Santa.
Mas William fica gravemente enfermo quando retornaram.
E cabe a Garren salvá-lo novamente a qualquer custo: mesmo que isso signifique fazer outra peregrinação e rezar por um deus a muito abandonado, prometendo deflorar uma jovem dama inocente caso seu senhor se recupere da doença...
E Garren já fizera sua escolha para o sacrifício: a religiosa Dominica, para quem Sir Garren era um sinal dos céus.
A peregrinação, abençoada com a presença do belo e heróico cavaleiro, certamente era uma orientação para que ela tomasse o hábito. A cada passo da jornada, porém, Dominica parecia se desviar um pouco mais de Deus e ir diretamente para os braços de Garren.
A ponto de começar a se perguntar se sua verdadeira missão não seria abrir o coração frio do mercenário para o verdadeiro amor.
Será que o beijo de Dominica teria mais poder do que as armas de Sir Garren?

Capítulo Um

Castelo de Readington, Inglaterra, junho de 1357
— Deus me trouxe de volta dos mortos, Garren — disse William. — Você foi Seu instrumento.
Garren fitou o amigo, deitado em seu leito. Quando William, Conde de Readington, estava no campo de batalha em Poitiers, Deus não levantara um dedo.
Agora, Garren se questionava se devia ter feito aquilo. Talvez a morte em solo francês tivesse sido melhor para ele.
Pela vida de William, contudo, Garren lutaria até com Deus o tempo que fosse necessário.
— Você foi o único — disse William. — Os outros me deixaram lá para morrer.
Mas William não estava morto, mesmo tendo havido dias em que Garren não tinha certeza disso. Depois que as tropas vitoriosas caminharam por toda a França e, finalmente, navegaram de volta para a Inglaterra, William começou a viver um purgatório na terra; mantinha-se vivo porque Garren forçava-o a engolir água, mingau e carne moída.
— Sou teimoso demais para abandoná-lo.
— Mais que isso. — Entre cada palavra, William ofegava para respirar. — Você me carregou. Nas costas.
— Você e sua armadura. — Garren sorriu, os lábios apertados, e simulou um soco no ombro de William. — Não esqueça a armadura.
Os Readington regozijaram-se mais com o retorno da armadura do que de seu dono. Enquanto o resto dos cavaleiros ingleses voltava para casa com os produtos dos saques, Garren limitou-se a trazer William.
Para carregá-lo, deixou para trás as riquezas que tinham sido a promessa da campanha francesa.Tudo parecia valer a pena à medida que William recuperava as forças.
Porém, nas semanas que se seguiram ao seu retorno, os vômitos começaram.
Alguns dias estava melhor, outros pior.
Agora, William estava deitado em um leito de morte. Durante o dia, sua cor variava entre o vermelho e o marrom, de uma extremidade a outra.
Os criados trocavam os lençóis, uma tarefa vã, contudo um sinal de respeito.
Não tinham muito mais a fazer.
Pelo menos, pensou Garren, William poderia morrer em sua própria cama.
— Preciso pedir mais... uma... coisa... — Seus dedos frios agarraram os de Garren com a força da morte.
Dei-lhe a vida, o que mais posso fazer? Pensou Garren. Mas, quando fitou William, com pouco mais de trinta anos, e incapaz de se levantar da cama, teve dúvidas se o seu presente de vida havia sido tão valioso, afinal.
— Vá à peregrinação para mim. Peregrinação. Um pagamento prévio a um Deus que jamais cumpre o que promete. Uma jornada a um túmulo que abrigava os ossos de uma mulher e as plumas de um anjo.
— William, se Deus ainda não o curou, duvido que a Abençoada Larina o faça.
— Vou pagá-lo pela tarefa.
Garren retirou sua mão. Desistira de quase tudo por William, de bom grado. Só lhe restava seu orgulho.
— Você pode encontrar muitos tolos para fazerem a jornada como seus peregrinos.
A dor contraiu o rosto de William. Com o braço esquerdo, protegeu o estômago, tentando conter o próximo acesso de vômito.
— Não confio... em mais ninguém.
Garren murmurou alguma coisa, nem sim nem não, com a intenção de acalmá-lo.
Abrigou a mão esquelética de William entre as suas, grandes e quadradas.
Muito tempo já se passara desde que William o assumira, um garoto de dezessete anos que ninguém mais queria, velho demais para iniciar um treinamento para escudeiro. Tudo o que era devia a este homem.
William agarrou-se ao braço de Garren e levantou o corpo, quase chegando a sentar. Era cinco anos mais velho do que Garren, mas parecia estar com uns oitenta.
Depois de assegurar-se de que estavam a sós, William estendeu a mão e apanhou um pergaminho dobrado que não era maior que sua mão.
— É para o monge do santuário.
Pegando a mensagem dos dedos trêmulos de William, Garren espantou-se como ele tinha conseguido segurar uma pena para escrever.
A voz de William também estava trêmula.
— O lacre não pode ser violado.
Garren sorriu em silêncio. Mesmo no mosteiro, tinha sido um mau leitor.
William acenou com o braço para chamar sua atenção, forçando uma resposta.
— Por favor. Não tenho mais ninguém.
Garren olhou nos olhos do amigo, e decidiu que, enquanto William respirasse, cederia aos seus pedidos.
— Não quero o seu dinheiro. — Queria dar a jornada de presente ao amigo.
William balançou a cabeça indicando que não, soltando na fronha da cama um novo chumaço de cabelo louro. Sabia que o amigo não tinha dinheiro para ir mais longe que a próxima batalha.
— Aceite-o. Compre-me uma pluma de chumbo.
Um emblema de chumbo de peregrino. Prova da jornada. Um sinal para alardear sua fé. Garren agarrou os dedos de William.
— Trarei algo melhor. Já que não pode viajar até o santuário, trarei o santuário até você. Vou trazer-lhe uma pluma de verdade.