Órfã com tenra idade Sarah Kennedy aprendeu a depender unicamente de si mesma, reservando todo o amor para seu irmão menor e para os falcões feridos aos quais cuida e devolve à liberdade.
Para Case Maxwell, um duro pistoleiro, a vida ensinou que a justiça é cega, a ser um lutador letal e a não amar nada, nem ninguém, que possa morrer, porém quando um enfrentamento com seus inimigos o deixa à beira da morte, se encontrará, como qualquer outra criatura: com os ternos e não desejados cuidados de Sarah. O destino uniu a cuidadora e o guerreiro; duas almas atormentadas por um perigoso presente e pelos amargos fantasmas do passado. Porém, a intensa emoção a qual tanto Case quanto Sarah temem, a paixão que os faz arder, é a única coisa que os pode salvar… e fazer que enfrentem ao maior perigo de todos: o amor.
Capítulo Um
Inverno de 1868, Território de Utah
— Não se mexa; nem mesmo respire.O lento e implacável tom daquele homem foi suficiente para congelar Sarah Kennedy em seu lugar. Mesmo que, se aquela voz não tivesse conseguido, o peso do sólido corpo masculino que quase a amassava o teria feito. A jovem não podia se mover nem respirar. Estava de boca para baixo, presa contra a pedra fria do chão de uma caverna na beira de um precipício, embaixo do corpo daquele estranho que a cobria da cabeça aos pés.
Deus, é enorme, pensou temerosa. Alto e sem um grama de gordura. Muito grande. Inclusive se aquele desconhecido tivesse lhe dado uma oportunidade, teria sido impossível lutar contra ele. No entanto, apesar de seu tamanho, era tão rápido e silencioso quanto um falcão. Até aquele momento, ela não escutara nada que a fizesse suspeitar de alguma presença estranha na pequena caverna onde se escondia.
O corpo do estranho estava tão frio quanto a pedra que amassava o peito e os quadris de Sarah. Na verdade, ela era plenamente consciente dele, apesar da grossura de suas roupas de inverno.
A mão direita masculina, grande e enluvada, apertava sua boca de tal modo que não poderia se mover ou tentar mordê-la por mais que tivesse tentado. Não gastou forças em uma inútil luta. Um casamento desastrado lhe ensinara que uma mulher, mesmo jovem e sadia, não possuia muitas oportunidades contra um homem de seu mesmo peso e altura. Além do que, o estranho que a aprisionava estava longe de ter o seu mesmo peso e altura. E aquilo não era o pior.
Apesar do vento seco do inverno, a mão esquerda de seu captor estava descoberta e segurava um revólver que parecia ter sido muito usado. Então, como se o desconhecido soubesse que Sarah não tentaria lutar contra ele, diminuiu um pouco a pressão da sua mão; o suficiente para deixá-la respirar. Porém não o suficiente para lhe permitir gritar.
— Não lhe farei mal. — Murmurou ele contra seu ouvido. É um corno, pensou ela. Aquilo era o que de melhor os homens sabiam fazer: ferir as mulheres. Em silêncio, tentou lutar contra o medo e as náuseas que apertavam seu estômago. — Fique tranquila, pequena. — Sussurrou o estranho. — Não maltrato as mulheres, os cavalos, nem os cachorros. Sarah não voltara a ouvir aquele ditado desde a morte de seu pai, e se surpreendeu; até mesmo a fez sentir uma faísca de esperança.
— Mas, se aqueles Culpeppers reunidos ali embaixo conseguirem pôr as mãos sobre você, — continuou o desconhecido — a farão desejar a morte. E, acredite, suas súplicas serão respondidas, ainda que não tão rápido quanto você desejaria.
Um calafrio percorreu o corpo de Sarah; um calafrio que nada tinha a ver com a noite de inverno ou a gelada rocha sobre a qual se encontrava.
— Concorde se me entende. — Ele ordenou. Apesar do educado acento com o qual pronunciou aquelas palavras, sua voz era baixa, lenta, e tinha um fio de aço. Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça. — Agora, concorde outra vez se acredita em mim. — Acrescentou ele secamente. O absurdo desejo de rir que a invadiu de repente, a surpreendeu. Histeria, pensou. Seja forte.