2 de agosto de 2015

O Caçador

Série Guardiões das Highlands
A centímetros de distância. 

Sua respiração ficou presa. Somente então ela percebeu o que havia feito. Suas mãos agarraram seus braços e seu corpo estava pressionado contra o dele. Intimamente. Peito com peito, quadril com quadril. Ela podia sentir cada centímetro de seu peito e pernas firmes. Podia sentir outra coisa também. Algo que fez sua boca secar, seu coração parar e seu estômago revirar, tudo ao mesmo tempo.
Oh, meu Deus.
O choque a assustou. Era como se cada terminação nervosa em seu corpo tivesse sido atingida por um raio de consciência. Ela abriu sua boca para suspirar, mas o som ficou estrangulado em sua garganta quando seus olhos se encontraram.
Que os céus a ajudassem! Apesar da chuva e do frio, seu corpo se encheu de calor.
Se ela não tivesse sentido a prova de seu desejo, podia vê-lo agora em seus olhos. Ele a queria, e a força disso parecia estar irradiando sob a ponta de seus dedos, fazendo-a tremer com sensações desconhecidas. O coração dela parecia estar batendo muito rápido, a respiração curta e os membros muito pesados.
Ela não conseguia se mover. Foi pega em algo que não entendia, mas não pôde resistir. Não queria resistir.

Capítulo Um

Convento de Coldingham, perto de Berwick-upon-Tweed, Fronteira Inglesa nos idos de abril, 1310.
Ewen não segurava sua língua, o que muito frequentemente causava-lhe problemas.
— Você mandou uma mulher? Por que diabos faria isso?
William Lamberton, Bispo de St. Andrews, eriçou-se, seu rosto vermelho de raiva. Não foi a blasfêmia, Ewen sabia, mas a crítica não tão sutilmente implícita.
Erik MacSorley, chefe das Highlands Ocidentais e o maior marinheiro ao sul da terra de seus ancestrais Vikings, lançou um olhar impaciente a Ewen.
— O que Lamont quis dizer — MacSorley disse, tentando abrandar o importante prelado. — É que com os ingleses apertando sua vigia nas igrejas locais, poderia ser perigoso para a moça.
MacSorley podia não apenas navegar por entre um turbilhão de merda, podia também usar sua lábia para sair de uma e sair cheirando como uma rosa. Eles não poderiam ser mais diferentes a esse respeito. Ewen parecia pisar nisso sempre que caminhava. Não que se importasse. Ele era um guerreiro. Estava acostumado a chafurdar na lama.
Lamberton deu-lhe um olhar que sugeria que aquela lama era exatamente o lugar onde achava que Ewen pertencia — de preferência sob seu calcanhar. O eclesiástico dirigiu-se a MacSorley, ignorando Ewen completamente.
— Irmã Genna é mais do que capaz de cuidar de si mesma.
Ela era uma mulher — e uma freira. Como, nos infernos, Lamberton pensou que uma dócil, doce e inocente poderia defender-se contra cavaleiros Ingleses empenhados em descobrir os pró-Escoceses — mensageiros do clero — como eles tinham sido apelidados?
A Igreja tinha fornecido uma rede de comunicação chave para os escoceses através da primeira fase da guerra, enquanto Bruce lutava para retomar seu reino. Com a guerra novamente no horizonte, os ingleses estavam fazendo o seu melhor para fechar estas rotas de comunicação. Qualquer pessoa do clero, padre, frei ou freira atravessando as fronteiras para a Escócia tinha sido sujeito ao aumento do exame pelas patrulhas inglesas. Até mesmo peregrinos estavam sendo perseguidos.
Talvez sentindo a direção de seus pensamentos, Lachlan MacRuairi interveio antes que Ewen pudesse abrir sua boca e dificultar as coisas com Lamberton.
— Pensei que soubesse que estávamos vindo?
O magro e inofensivo bispo poderia parecer fraco, especialmente em comparação com os quatro guerreiros imponentes que estavam tomando muito da pequena sacristia do convento, mas Lamberton não desafiou o maior rei da Cristandade para colocar Robert the Bruce no trono sem considerável força e coragem.
Ele aprumou-se em toda sua altura, uns bons centímetros abaixo do mais baixo dos quatro soldados (Eoin MacLean, alguns centímetros acima de um metro e oitenta), e olhou de seu longo e fino nariz para um dos homens mais temidos da Escócia, como o nome de guerra “Viper” de MacRuairi atestava.
— Disseram-me para procurá-los na lua nova. Isso foi mais de uma semana atrás.
— Fomos atrasados. — MacRuairi disse sem maiores explicações.
O bispo não perguntou, provavelmente supondo corretamente que teve a ver com a missão secreta para a Guarda das Highlands, o grupo de guerreiros de elite selecionados a dedo por Bruce para formar a maior força de combate já vista, cada guerreiro sendo o melhor do melhor em sua disciplina de guerra.
— Eu não poderia esperar mais. Era imperativo que o rei receba esta mensagem o mais rápido possível.
Apesar de estarem na Inglaterra, não era sobre Eduardo o Plantageneta, o rei inglês, de quem Lamberton falava, mas do rei escocês, Robert the Bruce. Graças aos esforços de Lamberton em ajudar Bruce a chegar ao trono, o bispo ficou preso na Inglaterra por dois anos, e então liberado e confinado à diocese de Durham por mais dois. Embora recentemente tenha sido permitido ao bispo viajar pela Escócia, ele estava de volta à Inglaterra sob a autoridade inglesa. Era onde Bruce precisava que estivesse. O bispo era a fonte central da maioria das informações em um caminho sinuoso para a Escócia através de uma via complexa de igrejas, monastérios e conventos.
— Para onde ela foi? — MacLean perguntou, falando pela primeira vez.
— Para o mosteiro Melrose pelo caminho de Kelso. Ela partiu há uma semana, juntando-se a um pequeno grupo de peregrinos em busca dos poderes curativos da Abadia de Whithorn. Ainda que os ingleses os parem, eles a deixarão seguir caminho uma vez que ouvirem seu sotaque. O que os fariam suspeitar de uma freira italiana?
Os quatro membros da Guarda das Highlands trocaram olhares. Se a mensagem era tão importante quanto o bispo dizia, era melhor garantir que não suspeitassem.
MacSorley, que tinha o comando do pequeno time para essa missão, prendeu o olhar de Ewen:
— Encontre-a.

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